Vhils. O artista português que deu um novo rosto a Xangai


Há uma altura em que se começam a dispensar apresentações. Para Vhils esta é uma delas. Se ainda não decorou o seu nome verdadeiro, Alexandre Farto, pelo menos de Vhils já deve ter ouvido falar. “Aquele tipo que já expôs ao lado do Banksy e que apareceu na capa do jornal britânico ‘The Times’ em…


Há uma altura em que se começam a dispensar apresentações. Para Vhils esta é uma delas. Se ainda não decorou o seu nome verdadeiro, Alexandre Farto, pelo menos de Vhils já deve ter ouvido falar. “Aquele tipo que já expôs ao lado do Banksy e que apareceu na capa do jornal britânico ‘The Times’ em 2008.” Ou “aquele português que faz caras nas paredes e até gravou um teledisco dos Orelha Negra [“M.I.R.I.A.M”, em 2011]”.

Agora os seus rostos começaram a aparecer nas paredes de vários edifícios em Xangai e muita gente pergunta quem será o responsável. “Visceral” é o nome da primeira exposição de Alexandre Farto, ou Vhils, como preferir, na Ásia e a sua quarta a solo. Além de trabalhos dentro da galeria Magda Danysz, que também existe em Paris, o artista de 24 anos, oriundo do Seixal, deixou marcas bem grandes em vários prédios de Xangai.

“Cravar uma pessoa na cidade é uma metáfora da maneira como as cidades cravam as pessoas e as fazem aquilo que elas são”, diz-nos por telefone. Falar com Alexandre não é fácil. O português mais conhecido no mundo da arte urbana divide o seu tempo entre Lisboa e Londres e tem trabalhos em várias partes do mundo. Agora está a preparar outra exposição a solo na galeria Vera Cortês, que será inaugurada a 31 de Maio. e também conta com algumas intervenções espalhadas por Lisboa. Foi essa galeria que acolheu a sua primeira exposição, “Even If You Win the Rat Race, You’re Still a Rat”, em 2008, um ano antes de “Scratching the Surface”, na prestigiada galeria londrina Lazarides.

O trabalho em Xangai partiu da Magda Danysz, em Paris, com quem Alexandre já trabalha “há algum tempo”. “Eles também têm uma galeria em Xangai e daí o convite”, explica. Alexandre começou a preparar a exposição em Outubro, mas só em Janeiro foi para a China. “Fiquei lá a trabalhar três meses, até meio de Março.” A exposição inaugurou a 31 de Março e fica na galeria (que também representa artistas como o fotógrafo francês JR, vencedor de um prémio Ted) até 6 de Maio. Na rua, o trabalho de Vhils pode durar mais tempo, até os edifícios serem demolidos.

“Os rostos na parede são de pessoas que fui conhecendo ao longo de dois meses”, explica. “Faz parte do próprio conceito do trabalho questionar a ideia de ícone e dar um espaço na cidade ao indivíduo comum.” Ao mesmo tempo que preparava a exposição esteve envolvido num projecto numa zona prestes a ser demolida. “É outro conceito que abordo também”, continua, “os expropriados e o boom de construção da China. Cravei um rosto na fachada de um edifício de um desses bairros, que vai ser demolido daqui a poucos meses.”

Alguma imprensa de Xangai considerou a exposição uma crítica ao governo, mas Alexandre confessa que não era esse o seu objectivo. “Era mais uma reflexão sobre o estado da evolução da globalização”, diz. “E de como as coisas estão na China.” Talvez por isso tenha desconfiado quando a sua conta de email foi desactivada durante dez dias. “Mas pode acontecer em qualquer parte do mundo, não sei se foi porque estava na China a fazer este tipo de trabalho…”

Dentro da galeria, Alexandre expõe rostos esculpidos em camadas de cartazes da revolução cultural chinesa e outros em pedaços de madeira que encontrou nas ruas de Xangai, que outrora foram portas ou mobília antiga. Magda Danysz, dona da galeria, resume o seu trabalho: “Tal como um espelho polido na perfeição, cada um destes pedaços de madeira ou de metal oferece, com enorme sensibilidade, um reflexo da China contemporânea, terra de sonhos e esperanças para aqueles que vêm de fora e para aqueles que cá vivem.”