Portugal está entre os países da Europa com pior prestação ao nível do de-senvolvimento imobiliário. Lisboa encontra-se no fundo da tabela, ocupando o 26.o lugar, num total de 27 cidades europeias, revela o relatório “Emerging Trends in Real Estate 2012”, elaborado pela consultora PwC e pela organização sem fins lucrativos Urban Land Institute (ULI). Este estudo, que resulta da opinião de 600 especialistas da indústria, diz que do ano passado para cá Lisboa caiu três posições.
Segundo Brian Kilkelly, representante da ULI que veio a Portugal apresentar o relatório, na passada quinta-feira, “nenhum país está a ir particularmente bem, mas há uns que ainda conseguem ter uma prestação positiva”. Istambul é a cidade que apresenta melhores resultados. Pelo segundo ano consecutivo ocupa o primeiro lugar tanto em relação ao investimento como ao desenvolvimento imobiliário. Portugal está muito longe de se lhe equiparar. Para não falar da confiança no mercado português que está muito debilitada. “O início do declínio começou com a bolha das dotcom (empresas tecnológicas), em 2000, e com a excessiva alavancagem de capitais por parte da banca, em 2007”, esclareceu Nuno Sousa Pereira, da Escola de Gestão do Porto (EGP), enquanto expunha reflexões macroeconómicas e imobiliárias, durante a sessão de apresentação de resultados. Se a situação económica é má, as perspectivas ainda são piores. “O pico da recessão deve ocorrer no final do segundo semestre deste ano e não nos podemos esquecer que a recessão no investimento imobiliário em Portugal já dura há cinco anos consecutivos”, sublinha.
Apenas 6% dos inquiridos em Portugal acreditam numa subida da confiança empresarial este ano. Este resultado não é de surpreender tendo em conta que, em 2011, foram apenas efectuadas transacções no valor de 75 milhões de euros, o valor mais baixo em dez anos, de acordo com os números da CBRE. Cerca de 90% dos inquiridos acreditam no crescimento das vendas forçadas pela banca, na ressaca da crise do crédito.
Kilkelly, na sua intervenção, chegou mesmo a chamar a atenção para a necessidade (cada vez maior) de pressionar os bancos no sentido de começarem a libertar capital, já que são peça fundamental para o dinamismo do sector. Esta é também a posição de Manuel Puerta da Costa, do BPI fundos SGFII, que, durante o painel de debate, na mesma apresentação de resultados, acrescentou a importância da reavaliação dos imóveis. “Se a receita é a desalavancagem, a solução é reavaliar, dar verdadeiros preços aos activos.” Já Pedro Seabra, da CBRE, durante o mesmo debate, defendeu que vai ser muito complicado pôr a banca a apoiar o sector, residindo aí o problema. Uma solução passaria pelo investimento de empresas familiares em negócios do tipo “family office”.
Segundo o relatório, 2012 inicia uma nova era – marcada por aspectos negativos. Prevê-se que este ano o financiamento imobiliário seja a principal vítima das medidas tomadas pelos bancos para enfrentar as pressões regulatórias e as macroeconómicas. Salienta que a desalavancagem não irá libertar capital para novos empréstimos e que o próprio capital será mais caro e de curto prazo. As perspectivas de recuperação dependem da forma como as medidas de regulação impostas pelas políticas de austeridade vão afectar os empréstimos concedidos pela banca.