Santos – Depois o Benfica. João Pinto cumprimenta Figo.Sem sorrisos, que há tempo para isso. O árbitro apita para o início do prélio.
Louzada – O árbitro apita…
Santos – João Pinto recebe a bola. Jogada em profundidade. Olha para o corredor esquerdo.
Louzada – Elias Katana! Rui Teixeira!
Santos – Rui Teixeira? ‘Tá bem. Yes! Gooooooooooooooooooooolo!
Dono da pensão – Alto aí! O que é que vem a ser isto?
Louzada – Foi… golo do Benfica!
Costuma dizer-se que uma imagem vale mais que mil palavras. Não no caso do “Lampião da Estrela”, um telefilme da SIC de 2000 que conjuga humor com futebol de forma simples e engraçada. Naqueles 93 minutos de acção não há cá transpiração. É cem por cento inspiração. Comédia pura, portanto. Sem esforço, como deve ser.
Ao fundo, a Basílica da Estrela. Em primeiríssimo pleno está Carlos Santos (Herman José). Entra-se na história na altura em que o “multivalente” empresário de futebol sai de casa, todo ele esgares e momices. Aí está o “Lampião da Estrela”, um remake do “Leão da Estrela”, de 1947. Os diálogos são geniais. O filme também. António da Silva, idem. Sportinguista na vida real e também nesse filme, é o Sr. Anastácio que vai ao Porto para a casa dos pais do namorado da filha e faz-se passar por rico. O intuito é ver o clássico no Lima, o estádio portuense para os grandes jogos, alugado pelo FC Porto ao rival de então, o Académico do Porto.
Ainda em Lisboa, e já com um bilhete na mão, António Silva levanta-se do sofá e começa a imaginar o golo do Sporting no Porto. O seu jogo de cintura é impressionante. Podia muito bem ser o sexto violino. “A bola é posta em jogo. Os nossos avançam como leões. Canário recebe a bola e passa a Travaços, Travaços dribla Guilhar e passa a Vasques, Vasques recebe e passa a Albano. Albano passa a Jesus Correia. Jesus Correia centra e Peyroteo, completamente isolado, corre para a área e mete golo.” Nesse momento dá um pontapé no ar e acerta na mesa, derrubando tudo o que está em cima dela. É o clássico a movimentar as massas.
TAKE 2 Tal como o “Lampião da Estrela” da SIC. Tudo começa quando o fervoroso benfiquista Carlos Santos assegura o passe de dois jovens moçambicanos. O passo seguinte, sempre de olhos postos numa transferência proveitosa “para ambas as partes”, consiste em tentar vendê-los ao clube do seu coração, contando para o efeito com a entrada em jogo de Louzada (interpretado por José Pedro Gomes), seu melhor amigo e proprietário de uma empresa de segurança que dá, muito a propósito, pelo nome de Segorila. O negócio fracassa, quem sabe se pela fraca figura dos dois “atletas” (“multivalentes”, escusado será dizer), que têm cabeleiras inspiradas em Pietra e gostam de entoar canções de Stevie Wonder.
TAKE 3 Comprometido com a recusa do Benfica, Louzada faz uma “tabelinha” com Santos e aponta como solução Borges Pinto (Henrique Viana), um dos clientes da Segorila e conhecido empresário nortenho, famoso por ter proporcionado ao FC Porto alguns dos seus melhores investimentos, razão pela qual é apontado como sério candidato à sucessão do actual presidente do clube das Antas para as eleições de 2036.
Obrigado a fazer-se passar por portista, Santos acaba por combinar discutir o negócio com Borges Pinto e assistirem juntos ao clássico Benfica-Porto.
Santos – Como é que eu posso ter dito tão mal do Benfica?
Sílvia (mulher de Santos) – Porque é que tu não disseste que eras do Benfica? Então não podiam ser amigos à mesma?
Santos – Sinto-me um rato de cano, viscoso e gordo, traidor e estúpido…
Sílvia – Quem faz a cama ao lobo é porque com ele com certeza se quer deitar.
Santos – Sílvia!
Sílvia – Pronto, mas também não é preciso ficares assim, Carlos.
Carlos – Mas como é que eu disse aquilo? O João Pinto a pedir gorjeta…
Confortável no papel de Carlos Santos, o comediante, já se sabe, não vai muito à bola com o desporto-rei. “Mas quando me ponho a fazer de Estebes ou de Carlos Santos, gosto mais de futebol que de champanhe.”
E que dizer de Henrique Viana de emblema do FC Porto ao peito? Logo ele, um benfiquista ferrenho. Nas filmagens, o actor brinca. “Costumo dizer por brincadeira”, diz – e, reforça, “por brincadeira” –, “que comprei o fato já com esta nódoa.”
Em 2000, o “Lampião da Estrela” é realizado por Diamantino Ferreira. Hoje ainda não se sabe quem terá esse papel. Jorge Jesus, Vítor Pereira, Cardozo, Hulk…Que seja qualquer um, menos Pedro Proença. O árbitro, esse, tem de ser o actor secundário.
Benfica-FC Porto às 20h15 na SportTV 1







