Vários jornais regionais fecharam o ano de 2011 com saldo positivo e até aumento das receitas, apesar de nenhum ter ficado imune aos afeitos da crise, de acordo com diretores de vários títulos ouvidos pela Lusa.
No Notícias de Gouveia, Distrito da Guarda, “2011 foi o melhor dos últimos dez anos”, correu “positivo, ainda que menos do que em 2010”, no Diário de Coimbra, e, em Bragança, os títulos do grupo PressNordeste, “aumentaram a faturação e não perderam assinantes”.
A redução de pessoal é uma hipótese afastada pelos vários diretores ouvidos pela Lusa em todo o país, apesar de alguns periódicos terem registado quebras na publicidade superiores a 70 por cento.
Arménio Travassos, diretor geral dos diários de Coimbra, Leiria e Viseu, tem notado “alguma retração nos assinantes”, notária ao nível da hotelaria, nomeadamente cafés e restaurantes em dificuldades.
A experiência diz-lhe que “2012 vai ser difícil e que a imprensa regional não vai passar ao lado da crise, mas garante que o grupo que dirige tem-se vindo a preparar “há um conjunto de anos para este turbilhão de viver com menos receitas”.
Redução de custos de comunicações, consumos e mais interatividade e aproveitamento de sinergias entre os títulos do grupo são algumas das medidas tomadas.
Uma vantagem do grupo é ter uma gráfica própria para impressão, que presta também serviços ao exterior.
Um serviço de proximidade e uma boa distribuição fazem parte também da estratégia para dar a volta à crise, sem pensar em reduzir os jornais ou dispensar pessoal.
“Se destruirmos o capital humano vamos ter dificuldade em fazer as coisas bem feitas”, defendeu o diretor, para quem, o que é preciso é “reinventar”.
Esta é também estratégia de João campos, diretor da PressNordeste, que começou por editar o jornal Nordeste, em Bragança, e se transformou, já em plena crise, no primeiro grupo de Comunicação Social de Trás-os-Montes, com a aquisição de dois jornais, uma revista e uma rádio.
“Isto não é aquilo que queremos que seja, mas se lutarmos, criarmos produtos próprios, cadernos especiais, conseguimos”, disse à Lusa, dando o exemplo da revista distribuída com o principal jornal do Grupo, vocacionada para assuntos económico que tem conseguido captar investimento publicitário que de outra forma não conseguiriam.
Este diretor não tem “uma perspetiva negativa” e até está a pensar em fazer “mais uma ou duas contratações, para a área do desporto”, uma nova aposta do grupo.
Paulo Simões, diretor do jornal Açoriano Oriental, registou quebras acentuadas na publicidade, deixou de ter colaboradores externos, reduziu o número de páginas do periódico, mas, embora não esteja “numa situação pujante”, garante que não está “perto de encerrar”.
Admite, no entanto que na região “há alguns títulos que estão em vias de puderem fechar” e outros “equacionam abandonar o papel e concentrar-se apenas na Internet”.
O Notícias de Gouveia, na Guarda, passou de semanário a trimensário, há quatro anos, não por causa da crise, mas por não cumprirem os requisitos legais para manter o estatuto, nomeadamente o número de jornalista, segundo explicou à Lusa o diretor.
Hercílio Ribeiro adiantou que perderam assinantes tradicionais, nos últimos tempos, mas ganharam clientes nas bancas e a situação financeira do jornal leva-o a encarar o futuro com otimismo.
“Não temos dívidas, é um jornal sólido, quase centenário. Sentimos dificuldades, mas não de uma forma acentuada”, sublinhou.
Já Edgar Aguiar, diretor do semanário Tribuna da Madeira, enfrenta dificuldades por duas razões: “uma é a crise, outra é a concorrência desleal do incentivo de dinheiros públicos ao Jornal da Madeira por parte do governo regional, em detrimento dos outros jornais”.
Desde 2007, registou uma quebra na publicidade de 74 por cento e o futuro “é uma incógnita”.
O diretor do Jornal da Madeira garante que o periódico “não está alheio a todas as consequências que o mercado impõe”.
Henrique Correia entende que, “os jornais regionais terão forçosamente de virar atenções para alternativas, uma delas a presença on-line”.