Diogo Gomes de Araújo. “SOFID é alternativa de financiamento”


Numa altura em que os recursos públicos escasseiam, instituições financeiras como a SOFID – Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento podem ter um papel determinante no relançamento da economia. O presidente-executivo da empresa, Diogo Gomes de Araújo, fala da aposta no apoio ao sector privado em países emergentes e no financiamento de projectos em mercados…


Numa altura em que os recursos públicos escasseiam, instituições financeiras como a SOFID – Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento podem ter um papel determinante no relançamento da economia. O presidente-executivo da empresa, Diogo Gomes de Araújo, fala da aposta no apoio ao sector privado em países emergentes e no financiamento de projectos em mercados como Moçambique.

Esta altura é boa para as empresas se internacionalizarem?
As empresas bem geridas, que tenham bom aconselhamento e uma situação financeira sã, que lhes permita planear adequadamente e investir em novos mercados, devem fazê-lo o quanto antes. Com as perspectivas negativas de crescimento das economias mais maduras, é crucial que as nossas PME se virem para países emergentes e em vias de desenvolvimento, onde o potencial de crescimento é francamente superior. Dados recentes do FMI indicam que o PIB na Europa deverá crescer apenas 1,5% em 2012, contra 4% no Magrebe e na América Latina, 6% na África subsariana e quase 7% na Ásia. Só através dessa diversificação de investimento as PME podem manter níveis de crescimento que compensem as quebras verificadas nos mercados tradicionais.
Moçambique pode ser uma alternativa?
O empresário é que deve determinar os mercados que mais lhe interessam. No entanto, há mercados naturais para as empresas portuguesas, como os países da CPLP, onde Moçambique ocupa um papel importante, pela proximidade linguística e cultural; os países do Magrebe, pela proximidade geográfica; as grandes economias emergentes, como a China e a Índia, pela sua dimensão; e os países onde exista uma diáspora empresarial portuguesa significativa, como, por exemplo, a África do Sul. Apesar de o investimento directo português no exterior (IDPE) continuar a ser orientado para países da OCDE, países como o Brasil, Angola, Moçambique, Marrocos e Cabo Verde encontravam-se no top 20 no primeiro trimestre de 2011.
Que mercados interessam mais às empresas que procuram a SOFID?
No que diz respeito às empresas que procuram a SOFID, grande parte das manifestações de interesse de investimento são nos PALOP, com especial destaque para Moçambique, mas também para o Brasil e Marrocos, entre outros países menos habituais, como o México ou o Peru. No final do dia iremos para onde as empresas precisarem de nós.
O crédito bancário está praticamente inacessível às PME. Há meios alternativos?
Não podemos fazer omeletas sem ovos, mas podemos fazer omeletas com os ovos dos outros, aproveitando os meios disponibilizados por outros países e organizações para desenvolver o sector privado em países que interessam às empresas portuguesas. É isso que temos de fazer e temos algumas ideias.
Quais?
Como instituição financeira portuguesa de desenvolvimento, a SOFID está inserida numa rede europeia de bancos congéneres – que não têm os mesmos problemas de liquidez –, que têm todo o interesse em co-financiar boas empresas portuguesas para investir em países de língua portuguesa, onde em geral têm mais dificuldade em encontrar projectos. Outro exemplo são os fundos europeus disponíveis para a cooperação com países em transição, como o Fundo UE-África para as Infra-Estruturas (ITF) ou o Facilidade de Investimento para a Vizinhança (NIF), que prevêem doações para projectos de infra-estruturas em países cruciais para a internacionalização e a cooperação portuguesas.
Qual o papel da SOFID nestes fundos europeus?
A SOFID tem o mandato do Estado para ser co-financiador nestes dois fundos, estando por isso numa posição privilegiada para ajudar o país a encontrar alternativas para o financiamento das suas empresas. Finalmente, temos o InvestimoZ – Fundo Português de Apoio ao Investimento em Moçambique, que se destina a financiar empresas portuguesas ou luso-moçambicanas para participações de capital em Moçambique.
O que nos distingue de um banco de investimento é que, além da viabilidade económica e financeira do projecto, estamos também interessados na sua sustentabilidade social e ambiental. Só assim se consegue um capital de confiança junto das populações e das entidades locais, mitigando o risco de investir a longo prazo em países onde as carências sociais são muitas.
Quem são os parceiros da SOFID?
A rede de parceiros que a SOFID tem é fundamental, começando pelos nossos accionistas: o Estado, os quatros principais bancos portugueses e uma associação empresarial. Esta rede é reforçada pelos bancos detidos pelos nossos accionistas nos países onde actuamos e com os quais temos protocolos de colaboração, tendo co-financiado já diversas operações, e terminando na rede de instituições financeiras internacionais congéneres que operam um pouco por todo o mundo, como o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Há quanto tempo está no mercado?
A SOFID foi criada em Dezembro de 2007, mas só em 2008 se tornou verdadeiramente operacional, tendo aprovado nesse ano a sua primeira operação. Apesar de ter uma equipa pequena, com 13 elementos, a SOFID beneficia da larga experiência bancária nacional e internacional dos seus colaboradores, assumindo-se como especialista em mercados e produtos específicos. Enquanto outras instituições estão preocupadas com uma multiplicidade de produtos, mercados e objectivos a cumprir, nós estamos concentrados apenas numa coisa: financiar empresas portuguesas que queiram internacionalizar-se, através do investimento viável e sustentável, para países emergentes e em vias de desenvolvimento.
E que projectos já apoiam?
Temos operações aprovadas em Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe, e estamos a olhar para projectos em Cabo Verde, Guiné-Bissau, Timor-Leste, México, Peru e Marrocos. Em geral estamos a falar de projectos de investimento a médio e longo prazo, nos sectores industrial, agro-industrial, de comércio, serviços e energia, onde haja um impacto social positivo, com criação de emprego, transferência de competências e redistribuição de riqueza para as populações locais.
Os empresários têm manifestado interesse em Moçambique?
Moçambique é, neste momento, o país que gera mais interesse nos empresários portugueses que estão a ponderar internacionalizar os seus negócios, nomeadamente para PME. No conjunto da carteira de projectos aprovados e do pipeline de projectos em análise, 59% são para Moçambique. O facto de haver um genuíno interesse pela atracção do IDE, incluindo o investimento levado a cabo por pequenas e médias empresas, explica parte desta dinâmica. Outra parte pode ser explicada com o desenvolvimento de megaprojectos nos sectores do carvão, do alumínio, do gás e das areias pesadas, que originam múltiplas oportunidades que podem ser aproveitadas por empresas portuguesas. Outros sectores que podem ser muito interessantes são a agro-indústria e as infra-estruturas, nomeadamente a energia. Além do desenvolvimento económico directo que se espera destes projectos, todos têm necessidades de produtos e serviços, que podem ser fornecidos ou prestados por empresas portuguesas de qualidade.
Mas também existem riscos…
É preciso que os empresários portugueses entendam que um processo de internacionalização real, com investimento em países emergentes e em vias de desenvolvimento, acarreta riscos e um esforço que pressupõe um nível de planeamento elevado e uma situação financeira sólida.
Qual o montante total do InvestimoZ?
O InvestimoZ – Fundo Português de Apoio ao Investimento em Moçambique está dotado com 94 milhões de euros e pode funcionar como capital de risco, tomando uma participação social com empresas ou em consórcios luso-moçambicanos, ou através de empréstimo para a aquisição de participações sociais em empresas sedeadas em Moçambique. Apesar de o capital de risco não ser muitas vezes compreendido pelo empresariado, que tem medo de ingerência das sociedades participantes, estou confiante que a necessidade aumente o apetite e que os empresários portugueses percebam que não estão sozinhos.
Qual é a contrapartida exigida?
Além de se pedir que os promotores também invistam a sua quota-parte, a SOFID requererá um lugar não executivo no conselho de administração, para acompanhar o seu investimento, e estabelecerá um acordo de saída, onde o promotor se compromete a comprar a participação do fundo ao fim de um período que, neste momento, pode ir até sete anos, mas que poderá aumentar.
Como podem as empresas ter acesso aos  instrumentos da SOFID?
Desde Maio de 2010, altura em que o novo conselho de administração foi eleito, já promovemos mais de 400 reuniões bilaterais entre a SOFID e empresários portugueses. Aspectos como a viabilidade económica e financeira, um impacto social positivo, um nível de capitais próprios adequado e a apresentação de contragarantias que possam conferir mais segurança ao projecto são aspectos a ter em conta para a obtenção de financiamento por parte da SOFID.