O diabo em 2017


Com este estilo de oposição só por milagre o PSD regressará ao poder. O que não quer dizer que em 2017 não possamos assistir a uma série de sarilhos.


Passos Coelho cometeu um dos maiores erros políticos da sua vida quando anunciou a chegada do diabo para Setembro do ano passado. Na verdade, se há coisa que um político nunca pode fazer é assumir-se como profeta da desgraça e muito menos prometer o inferno aos seus eleitores. Porque de duas uma: ou o diabo não vem, e o político passa por falso profeta, ou o diabo vem, e o político passa por mensageiro do diabo.

Como nenhum dos papéis costuma dar votos, não será seguramente essa uma via de oposição consistente. Talvez seja por isso que Passos Coelho rapidamente passou a anunciar antes a chegada dos três Reis Magos para Janeiro de 2017, assumindo-se assim como a estrelinha que os guia. Mas é evidente que com este estilo de oposição só por milagre o PSD regressará ao poder.

Tal não quer dizer que em 2017 não possamos assistir a uma série de sarilhos, que só o diabo seria capaz de engendrar. A nível internacional teremos a partir de Janeiro a imprevisível presidência de Trump, a colocar o mundo em suspenso a cada tweet. A partir de Março, o Brexit deverá tornar-se oficial colocando a União Europeia completamente centrada nas negociações para a saída do Reino Unido. Em Abril surgem as eleições francesas, onde Marine Le Pen tentará tornar possível o impossível, sendo que, se o conseguir, assistiremos ao colapso total da União Europeia. Em Setembro a Alemanha também terá eleições, onde se verá se Angela Merkel consegue resistir ao avanço da AfD.

Em Portugal a geringonça também já conheceu melhores dias, como o demonstra a oposição dos partidos de esquerda à descida da TSU e a reacção desses partidos à mensagem infantil que António Costa apresentou no Natal. Não é assim de excluir que a esquerda negue apoio ao governo nalguma votação decisiva. Nessa altura Marcelo aprenderá que não é com afectos que se resolvem crises políticas.

O resultado disto tudo pode vir a ser de facto uma situação diabólica. Como se dizia no filme “Os suspeitos do costume”, “a maior partida que o diabo pregou à humanidade foi fazê-la acreditar que não existia”.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

Escreve à terça-feira