É numa quadra coberta por esperança e gestos de solidariedade, numa época assolada pelo medo imposto pelo terror do absurdo sobre a Europa, na era dos bigdata informacionais que nos entram pela casa adentro, pelos sentidos até aos neurónios e à consciência, que são construídas as representações sobre as dúvidas e as certezas sobre o mundo global, e local, esse onde nos encontramos, aqui e agora. Certezas e dúvidas construídas com base no que cremos ser a realidade e sobre a realidade, demasiadas vezes apenas aparente.
Foram vários os acontecimentos que marcaram o ano de 2016. Pela positiva e enquanto esperança, talvez a geringonça continue a funcionar e a presidência mantenha o elevado nível de criticismo por um futuro melhor; outro e mais popular, a conquista do Euro de futebol; terceiro, bem mais recente e de maior espetro e profundidade, a ascenção à liderança da Organização das Nações Unidas.
Todavia, outros acontecimentos de âmbito internacional surpreenderam o mundo tal como o conhecemos. Referimo-nos ao Brexit e a Trump. Quem, face ao que conhecia poderia prever que tais eventos ocorreriam? Certamente que alguns dirão, pós-facto, que tais possibilidades constituíam o resultado prévio de uma elevada probabilidade na equação que terão escrevinhado sobre a complexa evolução histórica do Reino Unido e dos Estados Unidos da América. Mas sobre que dados e factos? A previsibilidade sobre o acontecido é algo que enobrece certos espíritos.
Todavia, quer Trump, quer o Brexit constituem a prova sobre a realidade do improvável, ou sobre o que fomos construindo como certeza do improvável. Decididamente o american dream não é um recurso alcançado pela maioria dos americanos, e nós, estaremos certamente longe de conhecer a América profunda, para além da cinematografia e dos noticiários televisivos; a verdade é que Trump e as suas performances políticas largamente difundidas pelos média, e a vitória, representam uma sociedade profundamente fragmentada, desiludida e descrente de um american dream panfletário que nunca chega. De outro modo, mas no mesmo sentido, o Brexit constitui o representativo e inesperado descontentamento dos britânicos sobre a União Europeia, na qual nunca estiveram verdadeiramente de corpo e alma. Pergunto: como é possível tomar uma decisão tão estrutural e de extensa repercussão em todos os domínios da vida social com base numa expressão de diferença minoritária? São certamente absurdos, nonsenses do mundo atual que ao virar da esquina nos vão surpreendendo.
Efetivamente, Trump e Brexit, constituem-se nos dois eventos de maior significado, que a aparente realidade percecionada através dos média não faria prever; tal remete-nos para a dúvida … quanto somos manipulados pelos bigdata informacionais? E até que ponto a perceção sobre a realidade não é construída com base numa evidente insuficiência de dados e de factos? E até que ponto não seremos instrumentos de uma maior encenação sobre uma fraude, em nome de muitos nomes, que aqui e ali a realidade se vai encarregando de clarificar? Credibilidade, dúvidas e certezas, que o tempo e a experiência se incumbirão de nos ensinar.