O elogio de Santos Silva às feiras de gado


Augusto Santos Silva pediu desculpas por ter chamado à concertação social “feira de gado”. Não podia fazer outra coisa. É verdade que estava a ter uma conversa privada com o ministro Vieira da Silva – mas era uma conversa privada num dos locais mais públicos possíveis, a festa de Natal do PS, com vários jornalistas…


É normal as pessoas dizerem coisas parvas em privado e os políticos não são excepção. Augusto Santos Silva não podia fazer mais nada senão pedir desculpa – e mesmo assim dificilmente a sua imagem perante os parceiros sociais voltará a ser a mesma. A CGTP (que acabou por ficar de fora do acordo da “feira”) não gostou particularmente, embora não tenha querido alongar-se em declarações públicas. Os representantes dos patrões também não acharam graça à saudação ao “Zé António” pelo acordo alcançado.

No meio deste episódio pouco edificante – e é preciso lembrar que o ex-ministro da Cultura João Soares se demitiu por ter prometido “bofetadas” a dois cronistas – não deixa de ser interessante que o ministro dos Negócios Estrangeiros tenha procurado defender as qualidades das “feiras de gado”. No seu pedido de desculpas, o ministro explica a referência à “feira de gado” com o facto das negociações nas feiras de gado serem “duras e complexas” mas terminarem “com honradez de ambas as partes”.

A frase é tão deliciosa que merece transcrição completa: “Quem as conheça [às feiras de gado] sabe bem quão dura pode ser a negociação, quão complexa pode ser a transação, que é caracterizada pela honradez das partes. Um acordo celebrado com a palavra ou com um aperto de mão vale mais do que um contrato assinado em cartório de notariado”. A defesa entusiástica que Augusto Santos Silva faz das feiras de gado para justificar o injustificável – pelo qual se viu obrigado a pedir desculpa, “a quem se pode ter sentido melindrado” – é só por si o grande momento “silly” da Natal season.