Ciclistas: a construção do inimigo


Na mesma semana em que os índices de poluição na cidade de Paris levaram a que o município anunciasse a gratuitidade do transporte público, o PSD/Lisboa lançou um vídeo de um minuto contra as ciclovias construídas na cidade, sustentado numa alegada contagem realizada pelos próprios no decorrer de cinco dias durante os quais, escrevem, apenas…


Sendo a cientificidade desta contabilização, no mínimo, dúbia, o PSD acrescenta outro facto que parece relevante: o custo estimado das ciclovias será de 5 milhões de euros dos impostos dos contribuintes. Não é muito claro a quais se refere nem durante quantos anos se realizará este investimento. Apresentados os factos, o PSD declara que quer discutir os problemas de mobilidade, trânsito e transportes públicos. Como consequência óbvia deste vídeo ficamos a saber que, se o PSD voltar a ter responsabilidades governativas na cidade, não investirá em sistemas de mobilidade ciclável, não ficando claro se destruirá as existentes. Até aqui, com alguma bonomia e relativizando a difícil relação com o rigor, tudo bem. Entendamo-lo como uma opção política.

O problema está no que o vídeo deixa subentendido.

Vários responsáveis do PSD vieram entretanto afirmar que esta não era uma declaração contra as bicicletas. Mas é. Pior: esta declaração política procura construir um inimigo – o ciclista – para quem anda de transporte público ou automóvel, contrapondo o investimento realizado em ciclovias aos problemas existentes nos transportes públicos e no trânsito da cidade.

Ignorando todas as questões ambientais e de saúde pública com as quais se costuma defender a maior utilização da bicicleta em circuitos urbanos numa cidade como Lisboa – em que se leva anos de atraso – e num momento em que se anuncia a introdução de 1400 bicicletas partilhadas, a construção deste inimigo atenta contra a vida de antigos e novos ciclistas urbanos.

Tanto o problema do trânsito como o do transporte público estão a fazer crescer a contestação e a raiva de quem os vive. Se esta raiva for canalizada para os ciclistas, pode ser um sucesso político para o PSD, mas para quem utiliza a bicicleta para deslocações urbanas aumenta o fator de risco.


Ciclistas: a construção do inimigo


Na mesma semana em que os índices de poluição na cidade de Paris levaram a que o município anunciasse a gratuitidade do transporte público, o PSD/Lisboa lançou um vídeo de um minuto contra as ciclovias construídas na cidade, sustentado numa alegada contagem realizada pelos próprios no decorrer de cinco dias durante os quais, escrevem, apenas…


Sendo a cientificidade desta contabilização, no mínimo, dúbia, o PSD acrescenta outro facto que parece relevante: o custo estimado das ciclovias será de 5 milhões de euros dos impostos dos contribuintes. Não é muito claro a quais se refere nem durante quantos anos se realizará este investimento. Apresentados os factos, o PSD declara que quer discutir os problemas de mobilidade, trânsito e transportes públicos. Como consequência óbvia deste vídeo ficamos a saber que, se o PSD voltar a ter responsabilidades governativas na cidade, não investirá em sistemas de mobilidade ciclável, não ficando claro se destruirá as existentes. Até aqui, com alguma bonomia e relativizando a difícil relação com o rigor, tudo bem. Entendamo-lo como uma opção política.

O problema está no que o vídeo deixa subentendido.

Vários responsáveis do PSD vieram entretanto afirmar que esta não era uma declaração contra as bicicletas. Mas é. Pior: esta declaração política procura construir um inimigo – o ciclista – para quem anda de transporte público ou automóvel, contrapondo o investimento realizado em ciclovias aos problemas existentes nos transportes públicos e no trânsito da cidade.

Ignorando todas as questões ambientais e de saúde pública com as quais se costuma defender a maior utilização da bicicleta em circuitos urbanos numa cidade como Lisboa – em que se leva anos de atraso – e num momento em que se anuncia a introdução de 1400 bicicletas partilhadas, a construção deste inimigo atenta contra a vida de antigos e novos ciclistas urbanos.

Tanto o problema do trânsito como o do transporte público estão a fazer crescer a contestação e a raiva de quem os vive. Se esta raiva for canalizada para os ciclistas, pode ser um sucesso político para o PSD, mas para quem utiliza a bicicleta para deslocações urbanas aumenta o fator de risco.