Sendo a cientificidade desta contabilização, no mínimo, dúbia, o PSD acrescenta outro facto que parece relevante: o custo estimado das ciclovias será de 5 milhões de euros dos impostos dos contribuintes. Não é muito claro a quais se refere nem durante quantos anos se realizará este investimento. Apresentados os factos, o PSD declara que quer discutir os problemas de mobilidade, trânsito e transportes públicos. Como consequência óbvia deste vídeo ficamos a saber que, se o PSD voltar a ter responsabilidades governativas na cidade, não investirá em sistemas de mobilidade ciclável, não ficando claro se destruirá as existentes. Até aqui, com alguma bonomia e relativizando a difícil relação com o rigor, tudo bem. Entendamo-lo como uma opção política.
O problema está no que o vídeo deixa subentendido.
Vários responsáveis do PSD vieram entretanto afirmar que esta não era uma declaração contra as bicicletas. Mas é. Pior: esta declaração política procura construir um inimigo – o ciclista – para quem anda de transporte público ou automóvel, contrapondo o investimento realizado em ciclovias aos problemas existentes nos transportes públicos e no trânsito da cidade.
Ignorando todas as questões ambientais e de saúde pública com as quais se costuma defender a maior utilização da bicicleta em circuitos urbanos numa cidade como Lisboa – em que se leva anos de atraso – e num momento em que se anuncia a introdução de 1400 bicicletas partilhadas, a construção deste inimigo atenta contra a vida de antigos e novos ciclistas urbanos.
Tanto o problema do trânsito como o do transporte público estão a fazer crescer a contestação e a raiva de quem os vive. Se esta raiva for canalizada para os ciclistas, pode ser um sucesso político para o PSD, mas para quem utiliza a bicicleta para deslocações urbanas aumenta o fator de risco.