CGD: uma telenovela trágica


Neste caso ninguém sai limpo, nem o primeiro-ministro, nem o ministro das Finanças, nem a nova administração, nem o Presidente da República


A telenovela da Caixa Geral de Depósitos seria risível se não fosse trágica, na medida em que o que está em causa é o futuro do maior banco nacional.

O que está em causa é também a ligeireza, a incompetência e a ausência de sentido de Estado com que o assunto tem sido tratado. Neste caso ninguém sai limpo, nem o primeiro-ministro, nem o ministro das Finanças e nem a nova administração.

Nem mesmo o Presidente da República, que já deveria, pela palavra, ter posto alguma ordem na casa e dado ao governo um tempo-limite, forçosamente curto, para resolver a confusão que o próprio governo criou.

O facto de todos, incluindo o Presidente, atirarem para o Tribunal Constitucional a decisão sobre uma questão eminentemente política e da área da governação, transformando-a numa questão jurídica, não lembraria ao diabo e mostra à saciedade a tibieza de todos os intervenientes neste processo.

Foi o governo que escolheu a nova administração, foi o governo que aceitou, ou definiu, as condições remuneratórias e outras, nomeadamente a célebre questão da declaração de património e rendimentos, e, assim sendo, cabe naturalmente ao governo desembrulhar a grande embrulhada que criou.

Repito, não o fazer é de uma cobardia política difícil de engolir sem protesto.

Entretanto, o problema arrasta-se sem fim à vista, a vida interna e externa da Caixa Geral de Depósitos degrada-se e, pior que tudo, já ninguém acredita na nova administração.

Pessoalmente, não conheço o novo presidente da Caixa, dr. António Domingues, mas, dada a sua prolongada convivência com um assunto que em grande parte foi criado por ele e sem dizer ao que vem, chego à conclusão de que não tem o bem senso e o necessário sentido do interesse nacional, e não compreende a importância de dar o exemplo de isenção e de desinteresse pessoal aos seus novos colaboradores. Por tudo isso, considero que não tem – provavelmente, já não tinha desde o início – as condições necessárias para levar a cabo a difícil tarefa que aceitou.

Ou seja, só vejo uma saída para esta telenovela: haver a coragem de nomear uma nova administração que aceite cumprir a lei.

Acresce que os problemas da Caixa nunca foram de competência técnica – há na Caixa suficientes colaboradores com essa competência –, mas de seriedade, de independência em relação ao poder político e de coragem para enfrentar os diversos interesses que, ao longo dos anos, fizeram da Caixa Geral de Depósitos, como alguém já disse, o banco do bloco central.

Ora, por isso mesmo tenho as maiores dúvidas de que o dr. António Domingues seja a pessoa certa para essa tarefa.