Que miséria!


A economia lusa vai crescer 1% a 1,2% este ano. Extraordinário desempenho, depois de ter crescido 1,6% em 2015. Mas é assim. Com papas, bolos e jornalistas amigos, enganam-se os tolos


Foi uma semana de foguetes, arraiais e muita bebedeira. Como acontece sempre nestas festas muito populares e cheias de populismo, quem apanha as canas é o desgraçado que vive e trabalha num país com um dívida brutal, um Estado monstruoso, uma carga fiscal obscena e um crescimento miserável desde que entrou na moeda única, com contas marteladas, a fazer figura de rico.

O PIB do terceiro trimestre cresceu 0,8% em cadeia e 1,6% em termos homólogos. Foi o melhor desempenho europeu, facto que levou o governo, os apoiantes da geringonça no parlamento e os jornalistas amigos a fazerem uma festa notável, com rasgados elogios a Costa, Centeno e companhia.

A somar ao PIB, a Comissão Europeia veio aprovar o Orçamento de ficção para 2017, que prevê um crescimento de 1,5% e outras maravilhas, e anunciou que a suspensão de fundos europeus ficava na gaveta. Como se vê, só boas notícias. Tão boas que, dizem os jornalistas amigos, o PSD e o CDS, a esquerda que está na oposição à geringonça, ficaram sem discurso para os próximos tempos.

Acontece que o crescimento do terceiro trimestre teve no turismo o grande motor. Isto é, o PIB cresceu com as exportações. A procura interna, a tal que ia proporcionar um grande crescimento económico segundo os sábios da geringonça, até deu um contributo negativo para o resultado do terceiro trimestre. Mas mesmo com o crescimento de 0,8% em cadeia depois de dois trimestres verdadeiramente miseráveis, a economia portuguesa deve crescer entre 1,0% e 1,2% no final do ano, o que compara com os 1,6% de 2016. Um crescimento medíocre, como medíocre foi o crescimento do terceiro trimestre. Mas a propaganda e a comunicação social amiga escondem a realidade, mais uma vez na convicção de que os portugueses são estúpidos e ignorantes. E mais uma vez, como aconteceu na América, os senhores e senhoras vão perceber, mais cedo do que tarde, que os cidadãos estão fartos de ser governados e enganados por estes políticos e por estes jornalistas, lacaios do sistema e do politicamente correto.

O foguetório do PIB, da Comissão Europeia e do fim da suspensão dos fundos europeus serviu também para esconder o que se passa na realidade, o que se passa nos mercados que tudo decidem, o que se passa com a dívida e os juros portugueses. E a verdade é que ninguém tem confiança na economia portuguesa.

Os juros da dívida a dez anos não param de subir desde o início do ano e subiram para 3,75% no final da semana. É verdade que também subiram os juros de Espanha e Itália, mas os juros da dívida portuguesa valem mais do dobro da espanhola e da italiana. É aqui que está o diabo. Se passarem os 4%, nem a agência canadiana amiga de Portugal nos salva.

A história de Portugal e da Europa nos próximos tempos tem tudo para ser uma tragédia seguida de muitas misérias. A eleição de Trump está a ser muito bem recebida pelos mercados e a moeda americana pode, pela primeira vez desde que existe a moeda única, igualar ou superar o euro. A festa americana, a verdadeira festa – e não o arraial lusitano montado pela geringonça e amigos –, vai continuar com a Reserva Federal a subir os juros e a administração republicana a injetar triliões de dólares na economia.

A Europa, que apresenta crescimentos económicos miseráveis, como os portugueses, não tem agora nem vai ter, a curto e médio prazo, capacidade para responder aos desafios das políticas de Donald Trump.

Os seus dirigentes parecem baratas tontas desde o histórico 9 de novembro e obviamente vão, mais uma vez, atirar para baixo do tapete todos os problemas que surgirem em países como Portugal. A política de agora, para europeu ver e americano ouvir, é que está tudo bem, a crise acabou e só há bons alunos no colégio europeu. Mais uma vez vão levar com o muro da realidade em cima e a União Europeia, que já tremeu com a eleição de Trump, pode levar outro abalo com o referendo em Itália e a provável derrota de Renzi, as eleições na Holanda, França e Alemanha, com vitórias de forças antieuropeístas, como a Frente Nacional de Marine Le Pen, e derrotas históricas dos partidos tradicionais, como o Partido Socialista francês, o SPD alemão e a CDU de Angela Merkel.

A aragem que sopra dos Estados Unidos com a grande vitória de Donald Trump pode virar rapidamente uma enorme tempestade quando chegar às costas da Europa, e aí não há jornalistas amigos dos sistemas e do politicamente correto que salvem as geringonças nacional e europeia.