O uso da canábis para fins medicinais continua a ser um tema polémico: fará mesmo sentido permitir ou até incentivar o uso de droga para aliviar os sintomas em algumas doenças? Na Web Summit, os desafios de transformar uma droga num medicamento controlado estiveram em debate com o responsável da maior produtora de canábis para fins medicinais, a canadiana Tilray, e a diretora de investigação da empresa, Catherine Jacobson. O negócio de 200 milhões de dólares que aí vem, com o uso clínico já legalizado em 29 estados norte-americanos e em vias de o ser na Alemanha e Itália, era o mote da conversa. Que tem a tecnologia a ver com isso?
Jacobson explica que o uso da canábis para fins medicinais está a revelar-se um caso inédito na indústria farmacêutica: enquanto os benefícios clínicos ainda estão em estudo – e parecem estar sobretudo associados ao canabidiol, um dos componentes da planta que não tem os efeitos psicoativos do composto THC –, há milhares de pessoas que já usam a canábis para lidar com diagnósticos clínicos, quer em doentes oncológicos, dor crónica ou doenças neurodegenerativas.
É aqui que entram as tecnologias de informação: “Podemos usar a informação de milhares de doentes para ter uma ideia melhor do que é importante estudar, fazendo um percurso ao contrário do que é habitual na investigação de doentes. Hoje, os doentes conseguem até dizer-nos que espécies da planta funcionam melhor em cada caso.”
A investigadora defende que a epilepsia é uma das áreas em que parece haver melhores resultados, com as aplicações à base de canabidiol a funcionarem em 30% dos doentes resistentes aos tratamentos habituais. No futuro, a investigadora defende que haverá mais estudos, ideias mais concretas sobre as doses mais indicadas e novas formas de aplicação, sejam comprimidos ou adesivos como nos produtos de nicotina, sendo para já certo que as doses terapêuticas são muito inferiores às usadas para fins recreativos. “Outra grande diferença é que os componentes da canábis parecem ser úteis em diferentes condições. Por isso, penso que teremos vários medicamentos destinados a grupos de doentes específicos.”
Brendan Kennedy, responsável da Tilray, anunciou que com o previsível crescimento do mercado, um dos desafios será aumentar a capacidade de cultivo e produção. “Portugal é um dos possíveis locais de investimento que temos em mente”, revelou.