CGD. E se fosse com Pedro Santana Lopes?


Um dos exercícios a que uma análise política honesta obriga é que nos interroguemos sempre sobre o que se diria se o caso x acontecesse com o governo de Santana Lopes. 


Se a situação “Caixa Geral de Depósitos” – desde o princípio até este momento, descontando a vitória da recapitalização – estivesse a acontecer com Santana Lopes como primeiro-ministro, o que diriam a oposição, a imprensa, os “senadores”, os comentadores, etc.?

Não é preciso ter uma imaginação prodigiosa para saber que Pedro Santana Lopes seria queimado em praça pública e que os adjetivos de todos os escrevedores atingiriam o grau superlativo.

Estou à vontade – no tempo do governo de Santana Lopes escrevi coisas superlativamente desagradáveis contra o dito. Mas, vistas as coisas à distância, aconteceram depois do ano glorioso de 2004 coisas muito mais graves no país sem que se tenha produzido um milionésimo da indignação que, naqueles escassos meses, funcionava quase em clima de união nacional, aproximando na oposição todos os desavindos com a personagem Santana Lopes.

E se fosse Santana Lopes a nomear uma gestão da Caixa pública com salários sumptuosos para a coisa pública? E se fosse Santana Lopes a assinar um decreto-lei que, na versão do Ministério das Finanças, isenta os administradores da entrega de declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional, embora na versão do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares isso não aconteça, nem na versão do PS, enquanto o primeiro-ministro diz que não sabe bem ao certo e chuta para o Tribunal Constitucional? E se fosse Santana Lopes a ser mais ou menos publicamente chantageado pelos administradores (arrogantes, já se viu), que se recusam a entregar o papel, criando na opinião pública a ideia de que têm alguma coisa para esconder?

Já sabíamos que não cairia o Carmo e a Trindade, cairia mesmo Lisboa inteira, e nem todo o embasbacamento nacional com a Web Summit faria parar o terramoto.