Caro ministro Centeno: a frase de Bush pai é suicida


O que levou o ministro Mário Centeno a utilizar a expressão tão ridicularizada por todo o mundo há décadas que quase se tornou “proibida” no debate do Orçamento do Estado?


O maior erro político de George Bush pai foi dizer “read my lips. No new taxes”. A história ficou famosa não pelo uso da expressão “leiam os meus lábios” mas porque pouco tempo depois George Bush aumentou mesmo os impostos. O escândalo foi grande, porque o momento “read my lips” tinha ficado gravado na memória dos americanos. George Bush pai só fez um mandato.

A partir daí, ficou mais ou menos consagrado que ninguém de bom senso deveria voltar a utilizar a frase de Bush pai outra vez: 1) porque o risco de se aumentar os impostos é grande, tendo em conta os imprevistos de qualquer política económica. 2) porque a experiência de Bush pai, a fazer exatamente aquilo que tinha prometido não fazer, pode ter-lhe custado um novo mandato.

O que levou o ministro Mário Centeno a utilizar a expressão tão ridicularizada por todo o mundo há décadas que quase se tornou “proibida” no debate do Orçamento do Estado? É difícil entender que não à luz de uma certa atracção pelo abismo de Mário Centeno. É verdade que quando o ministro das Finanças repetiu o “momento Bush” não explicou que se estava a referir ao Presidente americano.

Foi em resposta ao deputado do PSD Duarte Pacheco que naquele momento já não estava no plenário da Assembleia da República. “Se aqui estivesse podia ler nos meus lábios a 101ª vez que não há aumento de impostos. E se conseguisse ler nos lábios seria um dois em um: não há aumento de impostos”, disse ontem Centeno.

É evidente que o PSD é absolutamente demagogo quando faz uma batalha política de um aumento de impostos que não existe. É certo que a diminuição não é grande coisa e que “o enorme aumento de impostos” de Vítor Gaspar não foi “revertido”. Mas Centeno escusava de ficar agora “cativo” de uma expressão funesta, de péssima memória, que estragou a vida ao seu autor. Mas decidiu ficar cativo de uma frase suicida. Não deve haver explicação.