A Linha de Cascais está a morrer e o governo não quer saber


Poucos deixarão cair o queixo de espanto quando souberem que em 29 linhas nacionais, a de Cascais está no top-3 das ferrovias com maior número de ocorrências.


Os sinais vitais da Linha de Cascais são cada vez mais fracos. Infelizmente, os rumores sobre a morte desta infraestrutura não são claramente exagerados. Reparem bem nestes números: em 1995, a Linha de Cascais tinha 45 milhões de passageiros; em 2014 – e daí para cá o cenário não melhorou –, esse número caiu para 23,8 milhões. Em 20 anos, a linha perdeu 21,2 milhões de passageiros. Perdeu mais de um milhão de passageiros por ano. Perdeu quase 2900 clientes por dia. Ao mesmo tempo, a população agregada de Cascais e Oeiras aumentou cerca de 25%, de 304 mil pessoas para mais de 400 mil. Este êxodo massivo de passageiros seria uma tragédia para qualquer empresa privada. Mas, pelos vistos, o acionista Estado lida bem com o fracasso. É esta a noção de serviço e transporte público que queremos para o país?

Como presidente de uma das três autarquias servidas pela Linha de Cascais, não me resigno com o escandaloso abaixamento generalizado da qualidade do seu serviço – ao qual, sublinhe-se, são alheios os profissionais que diariamente servem a CP e a REFER. Quem anda no comboio vê a degradação da linha, o material circulante jurássico [o único que opera a
1500 v, isolando a linha do resto do país], as deficiências na sinalização e os problemas de segurança e acessibilidade nas estações. Poucos deixarão cair o queixo de espanto quando souberem que em 29 linhas nacionais, a de Cascais está no
top-3 das ferrovias com maior número de ocorrências.

A linha está muito perto do ponto de total irreversibilidade da sua decadente condição. E se isso acontecer, e acreditem que está muito perto de acontecer, não faltarão caras a quem apontar o dedo da responsabilidade. Muitos ministros, de muitos governos, de muitos partidos. Mas que não haja dúvidas: serão o ministro Pedro Marques, o seu governo PS e os seus parceiros da extrema-esquerda os responsáveis pela redação do obituário da Linha de Cascais.

A culpa rola em cascata por todos eles: Pedro Marques não pode resolver porque não tem autoridade dentro do governo para impor uma solução que sirva a área metropolitana. O governo não sabe resolver porque a sua sobrevivência depende da manutenção dos acordos com o BE e PCP. E o BE e o PCP não querem resolver porque têm um preconceito político contra todas as soluções apresentadas até ao momento que viabilizam a linha.

Convém lembrar que há pouco mais de um ano, o anterior governo, num processo amplamente negociado com as autarquias, deixou pronto o dossiê de intervenção na infraestrutura. Estava previsto um investimento total de 259 milhões de euros: 135 milhões vindos do Orçamento do Estado e de fundos europeus para a remodelação da linha, que seria sempre propriedade da REFER; 124 milhões para investimento em novo material circulante, dinheiro do privado que vencesse o concurso de concessão. Caso tivesse sido aprovado, este projeto tinha um período de execução de oito anos, mostrando que a recuperação não se faz de um dia para o outro.

Chega este governo e para tudo. Rasga o modelo anterior. O problema, o crime do governo PS, é que se desfez do passado sem ter alternativa para o futuro. Deitou para o lixo o que estava feito e não construiu nada de novo que servisse as pessoas.

Enquanto antes tínhamos um ministro que procurava soluções com as autarquias, neste governo temos um ministro fechado no seu gabinete que não tem tempo para Oeiras e para Cascais; que não sabe o que fazer com a linha; ou, pior do que isso, a quem não deixam resolver os problemas da linha.

É uma tristeza que os ministros do PS se tenham deixado condicionar pela agenda radical da esquerda, com isso bloqueando o progresso do país. É inaceitável que os milhões de passageiros do eixo Cascais-Oeiras-Lisboa estejam reféns do fetichismo ideológico e da dúzia de votos dos partidos da extrema-esquerda. São esses, os que têm o Estado social e o serviço público na ponta da língua, os hipócritas que estão a matar um serviço histórico da CP que serve o turismo nacional, a economia regional, a coesão territorial e os milhões de cidadãos que usam a linha para chegar diariamente ao seu local de trabalho.

Seja com um modelo de concessão ou com um modelo de investimento público ou comunitário, o que me interessa é que a recuperação da linha se faça. E se faça com urgência.

Espero que 2016 não seja o ano em que a Linha de Cascais desemboque numa estação sem retorno.

Pedro Marques tem de provar que não desistiu da Linha de Cascais. Com mais atos e menos palavras. Livre-se do ópio ideológico dos seus parceiros de coligação e faça o que tem de fazer. Mostre que serve o interesse público que jurou defender. Não deixe morrer a Linha de Cascais.

Escreve à quarta-feira


A Linha de Cascais está a morrer e o governo não quer saber


Poucos deixarão cair o queixo de espanto quando souberem que em 29 linhas nacionais, a de Cascais está no top-3 das ferrovias com maior número de ocorrências.


Os sinais vitais da Linha de Cascais são cada vez mais fracos. Infelizmente, os rumores sobre a morte desta infraestrutura não são claramente exagerados. Reparem bem nestes números: em 1995, a Linha de Cascais tinha 45 milhões de passageiros; em 2014 – e daí para cá o cenário não melhorou –, esse número caiu para 23,8 milhões. Em 20 anos, a linha perdeu 21,2 milhões de passageiros. Perdeu mais de um milhão de passageiros por ano. Perdeu quase 2900 clientes por dia. Ao mesmo tempo, a população agregada de Cascais e Oeiras aumentou cerca de 25%, de 304 mil pessoas para mais de 400 mil. Este êxodo massivo de passageiros seria uma tragédia para qualquer empresa privada. Mas, pelos vistos, o acionista Estado lida bem com o fracasso. É esta a noção de serviço e transporte público que queremos para o país?

Como presidente de uma das três autarquias servidas pela Linha de Cascais, não me resigno com o escandaloso abaixamento generalizado da qualidade do seu serviço – ao qual, sublinhe-se, são alheios os profissionais que diariamente servem a CP e a REFER. Quem anda no comboio vê a degradação da linha, o material circulante jurássico [o único que opera a
1500 v, isolando a linha do resto do país], as deficiências na sinalização e os problemas de segurança e acessibilidade nas estações. Poucos deixarão cair o queixo de espanto quando souberem que em 29 linhas nacionais, a de Cascais está no
top-3 das ferrovias com maior número de ocorrências.

A linha está muito perto do ponto de total irreversibilidade da sua decadente condição. E se isso acontecer, e acreditem que está muito perto de acontecer, não faltarão caras a quem apontar o dedo da responsabilidade. Muitos ministros, de muitos governos, de muitos partidos. Mas que não haja dúvidas: serão o ministro Pedro Marques, o seu governo PS e os seus parceiros da extrema-esquerda os responsáveis pela redação do obituário da Linha de Cascais.

A culpa rola em cascata por todos eles: Pedro Marques não pode resolver porque não tem autoridade dentro do governo para impor uma solução que sirva a área metropolitana. O governo não sabe resolver porque a sua sobrevivência depende da manutenção dos acordos com o BE e PCP. E o BE e o PCP não querem resolver porque têm um preconceito político contra todas as soluções apresentadas até ao momento que viabilizam a linha.

Convém lembrar que há pouco mais de um ano, o anterior governo, num processo amplamente negociado com as autarquias, deixou pronto o dossiê de intervenção na infraestrutura. Estava previsto um investimento total de 259 milhões de euros: 135 milhões vindos do Orçamento do Estado e de fundos europeus para a remodelação da linha, que seria sempre propriedade da REFER; 124 milhões para investimento em novo material circulante, dinheiro do privado que vencesse o concurso de concessão. Caso tivesse sido aprovado, este projeto tinha um período de execução de oito anos, mostrando que a recuperação não se faz de um dia para o outro.

Chega este governo e para tudo. Rasga o modelo anterior. O problema, o crime do governo PS, é que se desfez do passado sem ter alternativa para o futuro. Deitou para o lixo o que estava feito e não construiu nada de novo que servisse as pessoas.

Enquanto antes tínhamos um ministro que procurava soluções com as autarquias, neste governo temos um ministro fechado no seu gabinete que não tem tempo para Oeiras e para Cascais; que não sabe o que fazer com a linha; ou, pior do que isso, a quem não deixam resolver os problemas da linha.

É uma tristeza que os ministros do PS se tenham deixado condicionar pela agenda radical da esquerda, com isso bloqueando o progresso do país. É inaceitável que os milhões de passageiros do eixo Cascais-Oeiras-Lisboa estejam reféns do fetichismo ideológico e da dúzia de votos dos partidos da extrema-esquerda. São esses, os que têm o Estado social e o serviço público na ponta da língua, os hipócritas que estão a matar um serviço histórico da CP que serve o turismo nacional, a economia regional, a coesão territorial e os milhões de cidadãos que usam a linha para chegar diariamente ao seu local de trabalho.

Seja com um modelo de concessão ou com um modelo de investimento público ou comunitário, o que me interessa é que a recuperação da linha se faça. E se faça com urgência.

Espero que 2016 não seja o ano em que a Linha de Cascais desemboque numa estação sem retorno.

Pedro Marques tem de provar que não desistiu da Linha de Cascais. Com mais atos e menos palavras. Livre-se do ópio ideológico dos seus parceiros de coligação e faça o que tem de fazer. Mostre que serve o interesse público que jurou defender. Não deixe morrer a Linha de Cascais.

Escreve à quarta-feira