A geringonça de esquerda está há dez meses no poder e os resultados começam a aparecer a uma velocidade estonteante. E, de repente, os otimistas de ontem começam a abrir a boca e a revelar o que lhes vai na alma. O principal protagonista é, sem dúvida alguma, o senhor Presidente da República, o homem que ia dar afetos aos portugueses, a bem ou a mal, trazer-lhes esperança e alegria de viverem num país que manifestamente não se recomenda a amigos e a inimigos. Marcelo Rebelo de Sousa, que andou com a geringonça às costas desde que foi eleito, lembrou-se a semana passada de dizer uma grande verdade: a realidade é mais forte do que a ideologia. Pois é senhor Presidente. Tem toda a razão. E a realidade, como disse Marcelo, exige mudanças na política fiscal e nas leis laborais para atrair investimento. Outra afirmação importante, naturalmente esquecida por uma comunicação social que anda fascinada pela geringonça e pelas esganiçadas do Bloco, as tais que espalham com as patas o que os comunistas juntam com o bico, foi a garantia dada por Passos Coelho que, desta vez, vão ser os socialistas e os seus aliados de extrema-esquerda a limpar a porcaria que andam a fazer. Quer isto dizer que o PSD não está disposto a assinar um novo memorando com uma troika qualquer e assumir a despesa de tentar pôr o país de novo nos carris.
A cegada de 2011, com os partidos da oposição a assinarem um documento negociado pelo governo de Sócrates com os credores, não se vai repetir. Mesmo que os patriotas do costume, de esquerda e direita, rasguem as vestes em nome do velho e estafado interesse nacional, que serve para esconder a corrupção, o compadrio e a gestão danosa do país. Mais ainda. Para bem de Portugal e do seu futuro, se ainda houver algum depois de tanta desgraça, o líder do PSD deveria desde já pedir aos portugueses que votassem em massa nos partidos da geringonça para serem obrigados a limpar a esterqueira que já fizeram e continuam a fazer no país. Em 2011, o PS foi varrido do poder depois de levar o país à bancarrota e andou quatro anos na oposição a protestar contra a austeridade que tinha negociado, sem vergonha na cara e um pingo de arrependimento.
Agora, que o segundo resgate está cada vez mais próximo, importa prevenir para não se repetir a farsa. Até porque, desta vez, no caso de haver quem esteja disposto a esbanjar dinheiro em Portugal, a fatura será bem mais pesada e os desvios e incumprimentos verificados no primeiro resgate não serão permitidos pelos credores. A Europa mudou e muito desde 23 de junho e a partir de agora não há mais pão para malucos. O relatório divulgada a semana passada pelo FMI é devastador e bem pode o governo e os seus apoiantes na comunicação social atirarem areia para os olhos dos portugueses que a realidade, como diz Marcelo, é bem mais forte do que a ideologia e a propaganda. Diz o Fundo em tom de alerta. Baixo crescimento, finanças públicas deficitárias e bancos frágeis: estas são as três áreas onde se concentram as maiores fragilidades da economia portuguesa e onde desenvolvimentos negativos têm potencial para, mesmo perante “pequenos choques”, desencadear uma espiral de desconfiança e fazer o país perder o acesso ao financiamento dos mercados, forçando-o a pedir um segundo resgate aos parceiros do euro.
E sobre a dívida e o acesso aos mercados, o FMI vem repetir o que muita gente, cá dentro e lá fora, anda a dizer há muito tempo: Portugal tem conseguido financiar-se nos mercados a taxas historicamente baixas, mas isso deve-se à atuação do BCE, que está a inundar o mercado de liquidez. Esta orientação excecional da política monetária não durará para sempre pelo que é preciso agora “reforçar o quadro da política macroeconómica para garantir um acesso duradouro ao financiamento uma vez a política monetária seja normalizada”. E como anda muito propagandista ao serviço da geringonça a falar dos supostos juros baixos da dívida portuguesa, importa lembrar aos distraídos que Portugal é o único país da área do euro, o único, em que a taxa de juro a 10 anos subiu entre dezembro de 2015 e agosto de 2016. Em todos os outros desceu.
Em relação à vizinha Espanha, a taxa de juro de Portugal é só três vezes superior. É esta a realidade e não a que o golpista Costa tentou fazer passar no parlamento no debate quinzenal com uns gráficos em que o país aparecia pintado a cor-de-rosa. O investimento trepava, a economia disparava, o défice afundava e a dívida pública, que não para de subir para financiar a despesa do Estado, estava manifestamente a cair. O pobre do ministro Centeno, que anda pelo governo como um zombie, foi obrigado na sexta-feira a fazer mais um número de circo quando o INE revelou que o défice do primeiro semestre foi de 2,8%, longe dos 2,2% prometidos pelo executivo e dos 2,5% exigidos pela Comissão Europeia. O estado a que isto chegou é lamentável mas está a deixar o Bloco e o PCP em êxtase. Catarina e Jerónimo estão nas suas sete quintas a meterem o PS no curral da esquerda radical e anticapitalista, com ataques diários ao investimento, à poupança, à livre iniciativa, à economia de mercado e à riqueza.
Catarina e Jerónimo, com a cumplicidade do golpista Costa que faz tudo o que for preciso para se manter no poder, estão mais perto de alcançarem um objetivo perseguido há muitos anos. Transformar Portugal num país de pobres e indigentes que vegetam atrás dos generosos subsídios da poderosa e implacável máquina do Estado. Avante camaradas.