Vivemos tempos divertidos, não há qualquer dúvida. Se não vejamos: um engenheiro – com um curso tirado ao domingo – que teve uma infância e adolescência no interior do país, cujos pais nunca poderiam ser taxados pelo imposto anunciado por Mariana Mortágua, e que teve de pedir um empréstimo para ir estudar para Paris, reaparece das sombras e promete voltar à vida política ativa. Tudo seria normal não se desse o caso da personagem em questão estar acusada de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais.
De já ser do conhecimento geral que viveu à custa de 23 milhões de euros emprestados por um amigo – calculo que no mundo inteiro não deva haver amigos tão generosos – e que tem intenções de pagar esse dinheiro. Como? Julgava que para se conseguir ganhar tanto dinheiro seria preciso apostar em negócios altamente lucrativos ou, então, ter a sorte de ganhar o Euromilhões.
Não creio que o engenheiro em questão tenha descoberto nenhum negócio que lhe permita pagar a dívida ao amigo, mas ficámos a saber esta semana que José Sócrates prepara o seu regresso à vida política. Está no seu direito até porque ainda não foi julgado e, como tal, não foi condenado. Mas mandam as regras da decência que não se volte ao palco mediático sem se ter o nome limpo. Lula da Silva, o antigo presidente brasileiro, tentou um regresso apressado para não ser julgado. Teve azar e agora foi formalmente acusado. Se o tivessem deixado voltar teria, certamente, muitos votos do povo. Ninguém tem dúvidas disso, até porque o dito povo brasileiro gosta muito de votar em quem “rouba, mas faz”.
Acredito que o povo brasileiro não está sozinho no mundo e, por isso, é de esperar que Isaltino Morais regresse à política pela porta grande e que volte a ser eleito autarca de alguma cidade perto de nós.
José Sócrates quer, antes de tudo, que não se esqueçam dele e dos seus fatos de primeiro-ministro. O seu regresso à vida política será um momento bem divertido. E à sua volta estará muita gente que não terá vergonha. Afinal, Sócrates não falou sobre a vida pessoal de ninguém.