E fez bem: a associação de José Sócrates ao Partido Socialista, depois de conhecidos os contornos do processo Marquês – e não é preciso saber muito mais do que as coisas que o próprio revelou para se ter consciência da ética do ex-primeiro-ministro que governou Portugal -, seria letal para as ambições do Partido Socialista. Resta saber até que ponto o caso Sócrates – ou a dificuldade que o PS teve em “cortar” com os métodos socráticos, apesar da decisão de Costa de afastar o PS do processo e a recusa de transformar Sócrates numa vítima política – foi importante para o facto de o PS ter ficado atrás do PSD nas eleições legislativas do passado 4 de outubro.
Sócrates odiou o distanciamento que António Costa lhe votou. Já o disse publicamente. Tendo em conta que, na cabeça de Sócrates, a investigação da Operação Marquês foi desencadeada para evitar a sua “candidatura à Presidência da República”, entre outros delírios, a recusa do secretário-geral em alinhar na tese da cabala deixou o ex-primeiro-ministro profundamente irritado. E também os seus compagnons de route no PS, por muito que o pragmatismo lhes impusesse alguma discrição.
Quase um ano após as eleições legislativas, a decisão de Costa de fazer a aliança com o Bloco de Esquerda e o PCP deixou muitos socialistas insatisfeitos. Assis é o único que fala alto – e poucas vezes. Sérgio Sousa Pinto também diz publicamente o que pensa. Mas não são muitos. Existe em algum PS profundo um grande descontentamento com Costa, não verbalizado. Quem decidiu convidar o ex-primeiro--ministro para estrela da universidade de verão da rentrée de Lisboa não pode ter sido “inocente”.