A globalização desregulou-se e está cada vez mais agressiva e menos saudável. Esta deriva resulta em parte do enfraquecimento do papel da Organização das Nações Unidas (ONU). O desempenho do novo Secretário-Geral da ONU será determinante como catalisador de uma nova era para a governação mundial. Tem que ter experiência, prestígio, visão e audácia.
Muitos dos problemas que afetam a humanidade já não têm solução fora de um quadro de convergência global. Exigem da ONU um protagonismo acrescido para tentar promover mecanismos eficazes de governação mundial.
É o caso do aquecimento global e das alterações climáticas por ele induzidas. O “Acordo de Paris” estabeleceu metas ambiciosas, mas a sua concretização só será possível se se consolidar uma plataforma mundial de governação capaz de monitorizar, arbitrar e incentivar os diferentes programas de ação.
Outro tema chave é o uso continuado de recursos naturais acima da capacidade de reposição do planeta, que constitui uma delapidação insustentável e que exige uma resposta global.
É também este o caso do combate aos enraizados mercados ilícitos de tráfico de capitais, pessoas e mercadorias. Ou se trava um combate global e articulado ou será um esforço fracassado.
O brutal aprofundamento das desigualdades sociais é um dos focos da intolerância, da rutura social, da disseminação da conflitualidade e das migrações forçadas, cuja inversão necessita também de uma coligação global pela decência e pela sobrevivência num quadro humanista de valores.
O desenvolvimento acelerado das tecnologias de captura, transmissão e acesso a dados e informação, coloca desafios de segurança e governação independente da internet e de garantia da privacidade dos indivíduos e das organizações, que só no plano da cooperação entre os agentes à escala global podem ser abordados com sucesso. A ONU tem tido um papel importante na garantia de uma governação múltipla e independente da internet e tem que continuar a ter condições para assegurar esse importante pilar da sua missão.
A criação do contexto político para que a ONU possa exercer com resultados positivos o determinante papel de governação mundial que a realidade atual lhe exige, vai muito para além do perfil do seu Secretário Geral. Contudo, o perfil do Secretário Geral escolhido e os critérios aplicados nessa escolha, dirão muito sobre a medida em que a comunidade internacional está disposta a arrepiar caminho e a combater com seriedade e determinação as grandes ameaças colocadas pela globalização desregulada.
O governo português propôs com indiscutível sentido de oportunidade António Guterres para suceder a Ban Ki-moon como Secretário Geral da ONU, cujo mandato termina no final do ano em curso.
António Guterres tem o perfil humano, técnico e político adequado para ser um Secretário Geral capaz de fazer face aos enormes desafios que a Organização das Nações Unidas terá que enfrentar nos próximos anos.
A escolha de Guterres será um importante fator de esperança num futuro melhor, para um mundo a precisar de convergência e governação focada nas pessoas e na salvaguarda do planeta.