Bombeiros criticam ausência de meios aéreos no combate aos fogos

Bombeiros criticam ausência de meios aéreos no combate aos fogos


Região não tem aviões nem helicópteros. Relatório da Proteção Civil enviado ao ex-ministro Miguel Macedo apontou falhas no combate a fogos e pediu mais meios terrestres


A inexistência de meios aéreos de combate a incêndios na Madeira foi alvo de críticas do presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP), Fernando Curto, que garante que essa solução seria possível do ponto de vista técnico, mesmo tendo custos mais elevados. Um relatório elaborado em 2013 pelo Serviço Municipal de Proteção Civil do Funchal, embora omisso quanto a esta questão específica, já alertava para a necessidade de reforço dos meios de combate aos fogos na região.

“Na Madeira não há meios aéreos porque o anterior governo regional entendia que não eram necessários ou porque havia situações climatéricas que não permitiam que os helicópteros médios ou pesados ou mesmo os Canadair pudessem atuar. A ANBP contrariou sempre essa tese mas, como é lógico, limitamo-nos a contrariar”, afirmou Fernando Curto.

O responsável explicou que, tal como noutras ocasiões no passado, o incêndio que deflagrou na Madeira esta segunda–feira teve início numa zona de difícil acesso. Fernando Curto frisa que os bombeiros não conseguem chegar àquela zona, pelo que seria “mais fácil e proveitoso” acionar os meios aéreos.

O dirigente da ANBP lembra que, nas discussões com o anterior governo, um dos entraves colocados aos meios aéreos eram a situação geográfica e os ventos na Madeira, que não permitiam que esses meios atuassem. “Não é verdade porque, quando há esse problema, os aviões também não aterram na Madeira. Na altura provámos e justificámos até ao próprio governo que era um erro não se usarem os meios aéreos, mas pronto, era uma opção política, e o governo nunca optou por ter meios aéreos na Região Autónoma da Madeira”, explicou. “A questão que se coloca aqui é se o governo quer ou não investir nisso”, sublinhou.

A ANBP sugeriu então que um helicóptero médio polivalente estivesse alocado à região, preparado para uma primeira intervenção rápida no combate a incêndios, mas também em ocorrências de saúde e situações de emergência.

Confrontado com a ausência de meios aéreos na ilha, o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, desvalorizou a questão, lembrando que um dos relatórios sobre a matéria indica que a atuação dos meios aéreos seria “muito condicionada, devido à natureza dos ventos e dos vales”. Outro “desaconselhava” este recurso, dada a “relação custo-benefício ser completamente desproporcionada”.

Proteção civil pediu meios Um dos relatórios sobre o combate aos incêndios na Madeira foi feito em 2013, na sequência de uma vaga de fogos na região. Um estudo da Proteção Civil Municipal, remetido ao Ministério da Administração Interna, então liderado por Miguel Macedo, alertou para a “grande dificuldade no combate” aos fogos, defendendo um reforço de meios – embora sem especificar aviões ou helicópteros.

O relatório indicava dificuldades particulares nas serras de Santo António, São Roque e Monte, “devido à falta de acessibilidades”. Nas zonas altas do concelho do Funchal, o documento apontava também que a utilização de determinados meios de combate “tornou-se muito difícil”, já que os carros de socorro terrestres ultrapassavam as dimensões de diversas acessibilidades.

O relatório defendia um reforço de meios, com a aquisição de meios de combate ligeiros para as duas corporações do Funchal, a necessidade de mais formação das corporações, a criação de equipas de primeira intervenção e a construção de mais acessibilidades com pontos de água para abastecimento. Sobre meios aéreos, o documento era omisso.

Kamov no estaleiro Portugal tem este ano um dispositivo de combate a fogos com um total de 47 meios aéreos, segundo dados revelados no parlamento pelo secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes. Deste dispositivo fazem parte três helicópteros Kamov, estacionados em Braga, Santa Comba Dão e Ferreira do Zêzere. O Estado tem outros três Kamov, mas dois estão inoperacionais por avaria e outro sofreu um acidente em 2012, sem que tenha sido reparado.

Os contratos públicos de aquisição e manutenção destas aeronaves para combate a incêndios estão a ser investigados pelo Ministério Público. No início do ano, a Polícia Judiciária fez buscas em Lisboa, Porto e Portalegre, nomeadamente na sede da Autoridade Nacional de Proteção Civil.