Nomeações na CGD. “Mais parece uma OPA do BPI à Caixa”

Nomeações na CGD. “Mais parece uma OPA do BPI à Caixa”


O Sindicato dos Trabalhadores da CGD mostra-se receoso em relação aos administradores que poderão ser convidados para ir para o banco do Estado vindos do BPI. Defende que os atuais diretores deveriam subir para fazer uma espécie de passagem de testemunho.


Ainda não é conhecida a lista completa dos nomes para os órgãos sociais da Caixa Geral de Depósitos (CGD) que vão integrar a administração liderada por António Domingues, que vem do BPI e deverá entrar em funções já este mês. Com o presidente deverão vir o atual diretor de recursos humanos do BPI, Tiago Marques, além de Emídio Pinheiro, presidente do BFA. Também Miguel Morais Leitão, quadro do banco, poderá ser outra hipótese. Esta situação está a gerar alguma preocupação junto do Sindicato dos Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos. “Ainda não temos confirmação de nada, mas mais parece uma OPA do BPI à Caixa. Não temos noção de quem vem, mas o que está a acontecer à Caixa é uma coisa inqualificável”, diz ao i o presidente da estrutura sindical, João Lopes.

O responsável critica ainda a hipótese de António Domingues ter carta branca para fazer essas nomeações. “Do ponto de vista profissional, é uma pessoa que tem boas referências, mas isso dá-lhe a capacidade de nomear uma equipa?”, questiona João Lopes, lembrando ainda que os dois bancos, além de terem estruturas diferentes, têm também uma cultura distinta.

“Não faz sentido virem diretores do BPI para administradores da Caixa quando o BPI é três ou quatro vezes inferior à CGD. Vêm para um banco com uma dimensão que não tem nada a ver com o BPI, com características diferentes, porque ainda temos uma ligação ao Estado que confere ao banco um conjunto de situações que mais nenhum banco do país tem, e não têm nem podem ter noção da cultura da própria empresa”, acrescenta ao i.

Para evitar possíveis situações de rutura, o sindicalista acredita que a melhor solução passaria por nomear atuais diretores da Caixa para administradores – uma medida que, no entender do responsável, poderia ser considerada uma espécie de passagem de testemunho. “É natural que, por parte de alguns quadros superiores, possa existir uma situação de recusa assim que essas pessoas entrem, o que pode ser complicado para a gestão do dia- -a-dia do banco, e a tutela, que é a entidade que está a gerir isto tudo, não está a ter nada disto em consideração”, admite.

Stand-by A verdade é que este processo de renovação da administração da CGD passa por várias fases. Desde logo, a sua nomeação exige a autorização prévia do Banco Central Europeu (BCE), que irá avaliar a idoneidade dos nomes que lhe forem propostos.

Essa luz verde ainda não chegou, o que poderá estar a atrasar todo este processo de nomeação. Até lá, caberá a José de Matos continuar a sua função. apesar de o mandato ter terminado no final do ano passado. “Mais uma situação que não faz qualquer tipo de sentido. O maior banco português está sem gestão e está há meses à espera que venha alguém”, salienta João Lopes.

O banco do Estado irá contar com 19 administradores, sendo sete executivos. Entre os não executivos estão Leonor Beleza (que já foi vice-presidente do BCP), Rui Vilar (ex-presidente da CGD), Bernardo Trindade (iniciou a sua atividade profissional no BES e foi secretário de Estado do Turismo nos governos de José Sócrates) e Pedro Norton (ex-presidente da Impresa).

Na lista dos executivos está, além do presidente, Emídio Pinheiro, atual presidente do BFA, em Angola, Henrique Cabral Menezes. Outro nome avançado é o de Tiago Marques, diretor de recursos humanos do BPI.

Mais fases A segunda fase é a mudança do modelo de governo, em que António Domingues irá assumir duas funções: chairman e CEO.

O processo de renovação ficará totalmente concluído com a introdução de um novo plano de ação para o banco, que passa por um plano de recapitalização e de reestruturação que caberá a António Domingues implementar.

Ainda não foi oficializado o montante de que a instituição necessita para se recapitalizar, mas os últimos dados apontam para cinco mil milhões de euros. E se for realmente esse valor, trata-se de um aumento de mil milhões em relação ao que estava previsto inicialmente.

O governo diz apenas que o plano que está a ser montado para a Caixa vai prolongar-se até 2020 e pretende reforçar o capital do banco, o investimento, resolver as imparidades e reembolsar as obrigações subscritas pelo Estado. A única garantia dada é que a CGD, no horizonte de cinco anos, deverá regressar aos lucros, assegurar um retorno do capital do Estado adequado, reduzir custos e aumentar o produto bancário.