Portugal está em alta e na moda na bolsa mundial do turismo, e está na ordem do dia discutir se isso é bom ou mau ou se é mais uma coisa do que outra. Parece-me discussão votada ao empate técnico, porque é bom e mau simultaneamente – como, aliás, quase tudo nesta vida. Ou seja, tem coisas boas e coisas más, talvez em igual número, e só haverá desempate se adotarmos um ponto de vista específico, se olharmos montados neste ou naquele interesse ou se tivermos predisposição natural para ver o copo só por uma das metades, meio cheio ou meio vazio. Fora isso, há tanto de bom como de menos bom ou mesmo mau. Por mim, prefiro ver com os olhos mais abertos e mais expressivos as coisas melhores, e desvalorizar as piores.
Mas seja como for, penso que a discussão que mais interessa não é essa, não só porque o fenómeno está aí e talvez ainda dure um bom bocado, e saber se é bom ou mau não terá, afinal, grande utilidade, mas também porque a discussão importante a ter é, a meu ver, outra: saber o que faremos com este fenómeno. Pois podemos fazer muitas coisas, ou não, e do que fizermos dependem em parte o nosso presente e o nosso futuro.
Descontadas as distâncias – de tempo, modo e lugar –, o boom turístico pode ser uma repetição das caravelas, do ouro do Brasil ou dos fundos comunitários (entre outros exemplos possíveis de manás que se perderam na permeabilidade prazenteira do nosso modo de ser).
E o que fazer com isso? Comprar sedas e brocados ou um bom casaco de lã ou fazenda para o inverno? Erguer Mafra ou melhorar as casas em que vivemos? Alindar ou solidificar? Colher ou plantar? Ou isso tudo, se for possível, pois sedas, brocados e Mafra também serão precisos, desde que não consumam tudo e fiquemos sem casaco, sem casa decente ou sem plantio. O que é importante é ver para lá do hoje, e saber que um dia a bolsa mundial do turismo rodará e Portugal deixará de estar no topo. Até porque está no topo agora, não apenas pelos seus valores turísticos intrínsecos (que os tem, mas não suficientes para manter o país no pódio do turismo mundial) e pelo esforço posto na promoção turística, mas também por fatores de conjuntura (o terrorismo, o low-cost, as modas, etc.), que têm um peso importante e que, a prazo, farão girar a roda para outras latitudes. E, nesse momento, convém que tenhamos aproveitado bem o fenómeno, que parte do que nos trouxe tenha ficado e possa render para o futuro.
E, já agora, que não tenhamos transformado os pontos turísticos principais em apeadeiros de plástico para turista breve ver, numa Disneylândia remediada ou numa Veneza de fancaria, sem gôndolas, sem palácios e sem charme.
Há quem viva cá e amanhã haverá quem continue a viver, e é aconselhável – mesmo fazendo tudo de bom para o turismo – que o frenesim turístico não transforme o país num parque de diversões. Até porque me parece que os turistas que vierem no futuro, quando a moda acalmar, não quererão parques de diversões, mesmo que sejam parques very typical.
Escreve quinzenalmente, à sexta-feira