Uma das coisas divertidas dos militantes do centro e da direita, quando querem criticar o atual governo e os parceiros à sua esquerda, é acusá-los de ter por companhia “o Syriza” ou os “Syrizas”. Esta análise tem o defeito de ignorar a alteração ideológica total que aconteceu na Grécia, depois de ter sido obrigada à rendição perante as “instituições”. Alexis Tsipras não é hoje o mesmo homem que ganhou as eleições, nem sequer o mesmo homem que convocou um referendo em confronto com as duras exigências impostas por Bruxelas. Tsipras e o Syriza “capitularam” e colocaram o socialismo, não na gaveta, mas algures nas catacumbas do labirinto de Creta.
Ontem, Alexis Tsipras escreveu um tweet, acompanhado de uma fotografia em que está sentado ao lado de Jean-Claude Juncker, onde se lê o seguinte: “Feliz por encontrar o presidente J.C. Juncker hoje em Atenas, um grande amigo da Grécia e um caloroso defensor do projeto europeu.” O economista Nuno Teles classificou o tweet como uma manifestação da “síndrome de Estocolmo”.
É perturbador para qualquer pessoa que seja da área política da esquerda assistir ao trajeto do Syriza. As eleições deram a vitória a um partido que ia combater a austeridade – que, aliás, anunciava ir expulsar a troika do país -, renovaram a vitória num referendo contra as imposições europeias, para no fim o Syriza aceitar um programa ainda pior do que inicialmente tinha sido proposto e capitular perante uma humilhação que lhe foi imposta por Bruxelas.
O destino do Syriza é o mais perfeito retrato da profunda crise das esquerdas na Europa – desde a social-democrata à esquerda radical. O governo do Syriza é a prova de como os diretórios europeus “ilegalizaram” a social-democracia. O Syriza não está a cumprir o mandato para que foi eleito e hoje bem podia chamar-se “a coisa”, como aconteceu a dada altura aos comunistas italianos. O tweet de Tsipras sobre Juncker é a constatação de uma passagem para outra dimensão.