Hoje em dia, os congressos partidários estão reduzidos a um exercício de aclamação do líder em funções, que é sempre reeleito com votações albanesas se estiver no poder ou com fortes perspetivas de lá chegar. Se não for esse o caso, as facas longas são afiadas e o líder sabe que é chegada a sua hora.
Em 2011, toda a gente sabia que o governo do PS tinha levado o país para o desastre e que a bancarrota se aproximava a passos largos. Mas apesar disso, o PS organizou um congresso em março desse ano. Nesse congresso, Sócrates foi reeleito secretário-geral com 93,3% dos votos, esmagando as candidaturas de Jacinto Serrão (3,3%) e Fonseca Ferreira (2,54%). Mas Sócrates não duraria mais de três meses, uma vez que se demitiria do cargo ao perder as eleições de junho de 2011. No mês seguinte, António José Seguro, que nem sequer se apresentara quatro meses antes, seria eleito secretário-geral com 70% dos votos. Seguro daria ao PS vitórias sucessivas na oposição, mas foi derrubado por António Costa antes de chegar às legislativas. É por isso que António Costa sabia muito bem que teria de formar governo após as legislativas, uma vez que, se tal não tivesse acontecido, os militantes que hoje o aplaudem seriam os primeiros a indicar-lhe a porta de saída. Por isso montou uma geringonça estrambótica e transferiu o governo para a Assembleia, colocando-se nas mãos dos partidos à sua esquerda.
Mas António Costa é primeiro-ministro em exercício, pelo que o resultado do congresso do PS de 2011 pode repetir-se em 2016. António Costa é, assim, igualmente reeleito com uma votação albanesa de 94,82%, tendo como adversário um anódino Daniel Adrião que só atinge 2,84%. Quanto aos opositores de António Costa, ouviram-se críticas de António Galamba, Sérgio Sousa Pinto e Francisco Assis, mas nenhum se apresentou a votos.
Tal como a linda Inês, o PS está assim posto em sossego. De tal forma que nem se dá conta do monumental sarilho para onde foi arrastado.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira