Limpar o lodo do cais


O poder dos estivadores no Porto de Lisboa é algo inaceitável e indigno de um Estado de direito democrático. A ministra Ana Paula Vitorino foi ingénua quando, em janeiro, acreditou na paz social. Agora quer pôr, e bem, o sindicato na ordem. Mas tem de se precaver. Se a solução atrapalhar a geringonça, Costa pode…


O que se passa há muitos anos no Porto de Lisboa é uma vergonha. Sucessivos governos, inclusive o último do PSD e CDS, assobiaram para o lado e preferiram ignorar o problema. Com medo de uma guerra com umas centenas de estivadores que são os verdadeiros donos de uma estrutura que deve estar, acima de tudo, ao serviço da economia e das empresas exportadoras. Um grupo corporativo-ideológico, apoiado por PCP e BE, que impôs à força a sua lei a quantos trabalham no Porto de Lisboa.

Um grupo que põe e dispõe sobre a forma de operar navios, que decide quem trabalha ou não na estiva, quantas horas são necessárias para carregar e descarregar navios, quantos estivadores são necessários para cada operação e que faz todos os dias chantagem sobre quem precisa de exportar e colocar a tempo as suas mercadorias nos portos de destino. O número de horas extraordinárias apresentado pelo sindicato dos estivadores para aparecer como vítima junto da opinião pública é tão irreal como as promessas de paz social que, de forma cínica, apresentam por vezes ao poder político. As horas extraordinárias são decididas pelos próprios estivadores como complementos chorudos dos salários, já de si elevados, de uma classe que há muitos anos assumiu o controlo total sobre o Porto de Lisboa. A

o contrário do que prometeu e fez Maldonado Gonelha há muitos anos, quando partiu a espinha aos sindicatos comunistas com a formação da UGT, ninguém até hoje teve coragem de partir a espinha a um sindicato que já causou milhares de milhões de prejuízos à economia nacional. As mais recentes palavras da ministra Ana Paula Vitorino mostram que já aprendeu nestes seis meses de governo a lidar com um grupo que coloca os seus interesses acima de tudo e que não olha a meios para os alcançar. Longe vão os discursos ingénuos de janeiro quando anunciou ao país, com um enorme sorriso nos lábios, uma paz social que mais não foi do que um enorme embuste dos estivadores.

Agora, a ministra percebe que umas poucas centenas de privilegiados não podem pôr em causa a sobrevivência de milhares de empresas e de milhares de postos de trabalho e não podem, obviamente, prejudicar uma economia frágil que precisa das exportações como de pão para a boca, ao contrário dos que imaginam que o país cresce essencialmente à custa do consumo interno. É evidente que a paz social no Porto de Lisboa só se consegue com medidas de força e, mesmo assim, vão ser necessários muitos meses até esta importante estrutura portuária reconquistar a credibilidade e a confiança dos grandes e médios operadores mundiais que fugiram do caos e do lodo que empesta a cidade de Lisboa há muitos e muitos anos.

A guerra com os estivadores parece dividir a geringonça. Como é óbvio, o Bloco de Esquerda, com a sua visão extremista e mesmo terrorista do que é um Estado de direito e uma economia de mercado, está ao lado do grupo de estivadores, exige que o governo ponha os operadores na ordem e, evidentemente, defende a nacionalização da operação no Porto de Lisboa para a desbunda ser total e completa. O PCP, que também apoia os estivadores e o seu sindicato, é, no entanto, mais comedido nas palavras por uma razão simples: a CGTP conhece muito bem o que a casa gasta e não é por acaso que nas suas manifestações tem sempre uma atenção muito especial à segurança e ao isolamento dos estivadores para prevenir atentados à ordem pública, algo que a estrutura sindical comunista abomina e não tolera. Resta saber até que ponto o PS está ou não disposto a ir até ao fim e a aceitar as medidas duras e o punho de ferro prometidos por Ana Paula Vitorino e pela nova presidente do Porto de Lisboa.

É que nestas matérias não se pode confiar muito nas artes e ofícios de António Costa. Como bem sabem António José Seguro, Maria de Belém, Manuel Alegre, João Soares, José Sócrates e muitos mais, o líder do PS só pensa em si e na sua sobrevivência quando tem de tomar uma decisão. E se entender que a geringonça tem tudo a ganhar com uma vitória dos estivadores nesta guerra suja pela manutenção do controlo e do poder sobre o Porto de Lisboa, então Ana Paula Vitorino que se cuide. Pode acordar um dia destes com uma facada nas costas, em nome da estabilidade do governo e do apoio da extrema–esquerda parlamentar. O Estado de direito, a economia e a liberdade do mercado bem podem esperar. E, nesse caso, o lodo continuará a empestar Lisboa e Portugal.

Jornalista


Limpar o lodo do cais


O poder dos estivadores no Porto de Lisboa é algo inaceitável e indigno de um Estado de direito democrático. A ministra Ana Paula Vitorino foi ingénua quando, em janeiro, acreditou na paz social. Agora quer pôr, e bem, o sindicato na ordem. Mas tem de se precaver. Se a solução atrapalhar a geringonça, Costa pode…


O que se passa há muitos anos no Porto de Lisboa é uma vergonha. Sucessivos governos, inclusive o último do PSD e CDS, assobiaram para o lado e preferiram ignorar o problema. Com medo de uma guerra com umas centenas de estivadores que são os verdadeiros donos de uma estrutura que deve estar, acima de tudo, ao serviço da economia e das empresas exportadoras. Um grupo corporativo-ideológico, apoiado por PCP e BE, que impôs à força a sua lei a quantos trabalham no Porto de Lisboa.

Um grupo que põe e dispõe sobre a forma de operar navios, que decide quem trabalha ou não na estiva, quantas horas são necessárias para carregar e descarregar navios, quantos estivadores são necessários para cada operação e que faz todos os dias chantagem sobre quem precisa de exportar e colocar a tempo as suas mercadorias nos portos de destino. O número de horas extraordinárias apresentado pelo sindicato dos estivadores para aparecer como vítima junto da opinião pública é tão irreal como as promessas de paz social que, de forma cínica, apresentam por vezes ao poder político. As horas extraordinárias são decididas pelos próprios estivadores como complementos chorudos dos salários, já de si elevados, de uma classe que há muitos anos assumiu o controlo total sobre o Porto de Lisboa. A

o contrário do que prometeu e fez Maldonado Gonelha há muitos anos, quando partiu a espinha aos sindicatos comunistas com a formação da UGT, ninguém até hoje teve coragem de partir a espinha a um sindicato que já causou milhares de milhões de prejuízos à economia nacional. As mais recentes palavras da ministra Ana Paula Vitorino mostram que já aprendeu nestes seis meses de governo a lidar com um grupo que coloca os seus interesses acima de tudo e que não olha a meios para os alcançar. Longe vão os discursos ingénuos de janeiro quando anunciou ao país, com um enorme sorriso nos lábios, uma paz social que mais não foi do que um enorme embuste dos estivadores.

Agora, a ministra percebe que umas poucas centenas de privilegiados não podem pôr em causa a sobrevivência de milhares de empresas e de milhares de postos de trabalho e não podem, obviamente, prejudicar uma economia frágil que precisa das exportações como de pão para a boca, ao contrário dos que imaginam que o país cresce essencialmente à custa do consumo interno. É evidente que a paz social no Porto de Lisboa só se consegue com medidas de força e, mesmo assim, vão ser necessários muitos meses até esta importante estrutura portuária reconquistar a credibilidade e a confiança dos grandes e médios operadores mundiais que fugiram do caos e do lodo que empesta a cidade de Lisboa há muitos e muitos anos.

A guerra com os estivadores parece dividir a geringonça. Como é óbvio, o Bloco de Esquerda, com a sua visão extremista e mesmo terrorista do que é um Estado de direito e uma economia de mercado, está ao lado do grupo de estivadores, exige que o governo ponha os operadores na ordem e, evidentemente, defende a nacionalização da operação no Porto de Lisboa para a desbunda ser total e completa. O PCP, que também apoia os estivadores e o seu sindicato, é, no entanto, mais comedido nas palavras por uma razão simples: a CGTP conhece muito bem o que a casa gasta e não é por acaso que nas suas manifestações tem sempre uma atenção muito especial à segurança e ao isolamento dos estivadores para prevenir atentados à ordem pública, algo que a estrutura sindical comunista abomina e não tolera. Resta saber até que ponto o PS está ou não disposto a ir até ao fim e a aceitar as medidas duras e o punho de ferro prometidos por Ana Paula Vitorino e pela nova presidente do Porto de Lisboa.

É que nestas matérias não se pode confiar muito nas artes e ofícios de António Costa. Como bem sabem António José Seguro, Maria de Belém, Manuel Alegre, João Soares, José Sócrates e muitos mais, o líder do PS só pensa em si e na sua sobrevivência quando tem de tomar uma decisão. E se entender que a geringonça tem tudo a ganhar com uma vitória dos estivadores nesta guerra suja pela manutenção do controlo e do poder sobre o Porto de Lisboa, então Ana Paula Vitorino que se cuide. Pode acordar um dia destes com uma facada nas costas, em nome da estabilidade do governo e do apoio da extrema–esquerda parlamentar. O Estado de direito, a economia e a liberdade do mercado bem podem esperar. E, nesse caso, o lodo continuará a empestar Lisboa e Portugal.

Jornalista