21/09/2023
 
 

Fyre Fest ou não há má publicidade

A nova edição está programada para Dezembro de 2024 nas Caraíbas e a primeira ronda de investimento foi um sucesso assim como o lançamento dos “early birds”. 

A má publicidade é uma coisa que não existe”. A frase é da autoria do empresário circense do século XIX Phineas Barnum e vai ao encontro do que é um pensamento comum de que não importa se se fala bem ou mal, importa é que falem. O exemplo mais recente desta citação aparece-nos agora na sua expressão mais emblemática com o lançamento da segunda edição do famoso fiasco mundial, o festival Fyre, que deu inclusive origem a um documentário na plataforma Netflix. Anunciado com pompa e circunstância como um dos mais luxuosos e grandiosos eventos de música, nas Bahamas, mais propriamente na paradisíaca ilha de Great Exuma, redundou num dos maiores fracassos de que há memória. Com bilhetes de milhares de euros e a promessa da atuação de grandes nomes como Tyga ou Blink 182, o embuste deu lugar ao desespero com a escassez de comida e até de água ou os alojamentos improvisados que não chegavam sequer para uma pequena porção do que seria necessário.

O Festival, organizado pelo empresário americano Billy McFarland, que foi agendado para ocorrer nos dias 28 a 30 de Abril e de 05 a 07 Maio de 2017, foi divulgado por estrelas mundiais, como as modelos Victoria’s Secret Angels, Kendall Jenner, Bella Hadid, Alessandra Ambrosio ou Hailey Baldwin. “Em vez das casas de luxo e refeições gourmet para as quais os participantes do festival pagaram ingressos de até 100 mil dólares, os participantes encontraram tendas de acampamento, com colchões colocados no chão encharcado pela chuva, e refeições que se limitavam a sanduíches pré-embalados com duas fatias de queijo, alface e tomate.” Acusado de vários crimes, chegou a cumprir pena de prisão tendo sido libertado em 2022, altura em que prometeu ressarcir todos os seus credores e a forma agora encontrada não deixa de ser surpreendente. Uma segunda edição mas desta vez em bom, aproveitando todo o hype que a marca conseguiu angariar ao longo destes últimos anos.

A nova edição está programada para Dezembro de 2024 nas Caraíbas e a primeira ronda de investimento foi um sucesso assim como o lançamento dos “early birds”. A venda antecipada de bilhetes, supostamente promocionais e que começavam em 460 euros, acabaram por esgotar rapidamente sem que seja sequer garantida uma data. Foram apenas 100 (embora a organização diga que a lista de espera é já extensa) mas mostra muito do que é a realidade dos dias que correm, em que as pessoas tentam fazer parte de tudo o que represente um pouco de notoriedade ou escândalo. O que foi apelidado pela generalidade o pior festival de sempre, dando lugar a notícias um pouco por todo o mundo, regressa assim alicerçado no seu próprio fracasso e alavancado na necessidade que as pessoas têm, de ir atrás de tudo o que seja um fenómeno de comunicação.

Isto leva-nos à frase inicial, de que a má publicidade é coisa que não existe. Hoje em dia, a capacidade de propagação de um insucesso ou de uma má notícia é aliás bem superior ao seu contrário porque o comum dos mortais adora uma boa intriga e pela-se por um bom escândalo. Não é seguramente por falta de aviso, a demonstração através das imagens recolhidas na altura é reveladora do caos que se instalou durante aquela semana. Mas há quem não queira saber e tenha já garantido o seu lugar na primeira fila. Como dizia um amigo no outro dia, é tão mau, tão mau, tão mau que se torna inexplicavelmente bom. Veremos neste caso como tudo irá acabar, sendo que já há uma coisa que pode ser garantida. A elevação do Fyre a marca de reconhecimento e notoriedade à escala global, e tudo isto à custa do quanto aconteceu de errado. Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos tendo a certeza porém que o prazer e o gozo das pessoas é cada vez mais imprevisível…

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