
Os nossos velhos devem poder permanecer no seu núcleo familiar. Para tal, é fundamental reforçar os apoios domiciliários, criar uma rede de cuidados paliativos que cubra eficientemente todo o território nacional e dar real existência ao estatuto do cuidador informal.
Gosto mais da palavra “velho” do que da palavra “idoso”. Mas do que não gosto mesmo nada é de expressões como “terceira idade”, “idade avançada”, “sénior” ou “pessoa de idade”. Servem apenas para mascarar algo que deve ser encarado com naturalidade: o envelhecimento de todos nós, seres humanos.
Na nossa civilização, muito mais do que outras derivas, deve ser uma prioridade proporcionar dignidade na velhice.
E envelhecer com dignidade não se coaduna com ser despejado num armazém de velhos, a que eufemistica e hipócritamente chamamos “Lar” ou “Casa de Repouso” – lugares onde imperam a despersonalização, o desenraizamento e a solidão.
“Um povo que não cuida dos avós, um povo que não respeita os avós, não tem futuro, porque não tem memória”, afirmou o Papa Francisco.
Os nossos velhos devem poder permanecer no seu núcleo familiar. Para tal, é fundamental reforçar os apoios domiciliários, criar uma rede de cuidados paliativos que cubra eficientemente todo o território nacional e dar real existência ao estatuto do cuidador informal.
Continuarão, por certo, a ser necessárias respostas sociais de alojamento para idosos e, nesse particular, importa dotar esses equipamentos de meios físicos e humanos igualmente capazes de garantir a dignidade na velhice que se exige e hoje não se verifica.
Longe vão os tempos em que o cuidado dedicado aos mais velhos era, como indiscutível regra familiar, prestado pelos mais novos.
O foco na produção, a que o desenvolvimento económico pressiona, transforma os velhos em meros seres improdutivos, sem papel activo na sociedade actual.
Cada vez mais, somos meras máquinas produtoras de bens, desprovidas de afectos, tão essenciais à condição humana.
Talvez consigamos recuperar alguma humanidade quando formos capazes de honrar os cabelos brancos, em detrimento do “progresso económico”.
Presidente da Cooperativa Milho-Rei