Quer um Uber? 50 euros
Com o passar do tempo e com os pedidos a aumentar cada vez mais, os condutores portugueses foram-se fartando das margens pequenas que conseguiam faturar e parte deles começaram a sair deixando uma brecha no mercado que foi suprida essencialmente por imigrantes, sobretudo da Ásia, Índia, Bangladesh, etc. Foi mais ou menos por aí que o serviço começou a decair.
No princípio era o “verbo”. Pelo menos é o que diz o Evangelho. O “verbo” ou seja a palavra da UBER era ser e fazer ser com qualidade. Apresentaram-se ao mercado cheios de soluções para um meio de transporte tantas vezes utilizado. Uma forma moderna e atual de utilização do serviço de táxi mais ágil e dinâmica, facilmente paga através de uma aplicação, com mapas para o destino e o preço previamente estipulado com pouca margem para enganos. Foi um tempo bom o dos princípios da utilização em Portugal, motoristas bem arranjados, carros novos e a cheirar bem, muitas das vezes até com oferta de água ou rebuçados. Era tão bom que todos queriam utilizar e foi tão forte a sua marca que os taxistas se insurgiram contra alguma concorrência supostamente desleal que não os obrigava a pagar as elevadas licenças praticadas. Existiram tumultos, agressões, ameaças e manifestações na rua mas o serviço vingou e proliferou. Ganhou novos agentes e empresas e de repente andavam Ubers por tudo quanto era lado passando a ser o transporte preferencial de quem se queria deslocar com qualidade e sem ser surpreendido por alguns artistas que nos tentavam enganar nas corridas do aeroporto.
Com o passar do tempo e com os pedidos a aumentar cada vez mais, os condutores portugueses foram-se fartando das margens pequenas que conseguiam faturar e parte deles começaram a sair deixando uma brecha no mercado que foi suprida essencialmente por imigrantes, sobretudo da Ásia, Índia, Bangladesh, etc. Foi mais ou menos por aí que o serviço começou a decair. Não por causa da nacionalidade específica mas porque os novos condutores não conheciam as ruas, nunca antes haviam circulado em Lisboa e quando as aplicações de mapas davam de si ou se equivocavam, eles logicamente não sabiam o que fazer. Uma vez distraído à conversa no banco de trás, a caminho de um restaurante chamado Tapadinha acabei em cima da ponte com o condutor a teimar que teria sido ali que eu tinha colocado a morada do destino, como se alguém escolhesse como destino o centro do tabuleiro. Depois percebi que como o restaurante se encontrava precisamente por baixo, o Waze teve uma travadinha e mandou-nos por cima. Tivemos que ir dar a volta e regressar perante a estupefação e a risada geral.
O problema são os fenómenos que se lhes seguiram. E esta é a parte verdadeiramente grave. Hoje em dia são mais as vezes que me cancelam Ubers quando se apercebem das distâncias curtas do que os que vêm à primeira. Então à noite é fatal como o destino. Com uma agravante. Saímos de bares ou discotecas e quando chamamos pelo serviço ele demora e demora a encontrar um motorista e vai saltitando de uns para os outros perdendo-se invariavelmente tempo excessivo quando o que queríamos era chegar rapidamente a casa. Mas não só, à porta dos espaços, carros com o letreiro “TVDE” acumulam-se parados. Quando já fartos da espera lá vamos bater à janela fingem-se de desentendidos e dizem não estar a trabalhar ou, pasme-se, nos perguntam o destino e ao ver a nossa impaciência nos oferecem para transportar por 50 euros, da 24 de Julho até Campo e Ourique. Mas não é um caso esporádico, são cada vez mais as pessoas que passam por esta experiência, ou outros que vão a passar na estrada e nos veem à procura de algum carro e afrouxam a perguntar se queremos transporte pelos tais 50 euros. É verdadeiramente surreal.
Há dias, numa ida até ao Aeroporto uma motorista explicava-me revoltada que o tema parece estar a gerar muito desconforto dentro do meio e revelou-me um outro facto que merece atenção. Cartas de condução falsas ou emitidas ilegalmente por alegadamente alguém do IMT a troco de 200/300 euros. Deu-me até um número de telefone de alguém que parece resolver o assunto em dois tempos.