
Pelo conjunto, limitado, de produtos que abrangerá, esta medida terá um impacto confinado no rendimento disponível e um impacto limitado na taxa de inflação actual, mas não deixa por isso de ser um sinal e um contributo para o esforço de contenção da inflação e de melhoria da qualidade de vida dos nossos concidadãos.
Depois de dias sucessivos de recados e trocas de acusações mais abertas ou mais veladas sobre o tema da inflação alimentar, o poder político e o poder parlamentar resolveram, em dias seguidos, sentar-se com os parceiros, ouvir os interessados.
Mais do que a um conflito entre partes, assistiu-se a uma explicação coerente e bastante alinhada, das justificações de um fenómeno - a Inflação - que a todos prejudica: consumidores, produtores, indústrias, marcas, retalhistas. As tentativas de impor um certo ‘dividir-para-reinar’ falharam, porque, para lá dos óbvios interesses contraditórios que existem, seguramente o aumento desmesurado dos preços e a perda do poder de compra das nossas famílias, não serve verdadeiramente a ninguém.
Afinal, como se saberia se tivesse havido maior preocupação em identificar antecipadamente as causas, não apenas o problema tem justificações concretas, como está longe de ser uma singularidade nacional. E ficou também claro que os desequilíbrios de mercado estão em correcção, mas que os seus efeitos tardarão ainda algum tempo a serem sentidos mais amplamente na bolsa dos consumidores.
Realçamos que ao impacto do acelerado crescimento de preços se deve associar as mais curtas actualizações salariais que contribuem para a perda de poder de compra que as famílias portuguesas actualmente sentem. E aproveitamos para chamar a atenção para o incremento do peso das marcas próprias e de como isso impacta os elos da cadeia de valor a montante, mas também a escolhas do consumidor. Fizemos questão de recordar que especulação e inflação são coisas muito diferentes.
Por tudo isto, sabemos ser necessário dar respostas ao mercado e aos consumidores, umas de mais curto prazo, limitando os efeitos mais perniciosos sobre o consumo e sobre o poder de compra dos consumidores, outras mais estruturantes e de prevenção dos efeitos de desregulação do mercado e, nesse sentido, propusemos a aplicação de IVA Zero - com quadro temporal definido - ao cabaz de produtos alimentares essenciais e a avaliação mais ‘fina’ da evolução do mercado, propondo a auscultação frequente e periódica dos parceiros da PARCA.
Lembramos que o que não é possível medir, não é possível gerir e que não basta fiscalizar... é também preciso monitorizar, pelo que apoiamos a rápida operacionalização do Observatório de Preços, com aprofundamento do conhecimento dos mecanismos de transmissão de preços e de margens e o reforço de meios humanos e técnicos adequados das autoridades competentes.
A medida anunciada pelo Governo de isenção de IVA a um conjunto de produtos alimentares essenciais (ainda não concretizada quando escrevo estas linhas) vai no sentido de responder a este imperativo de curto prazo e tem um efeito duplo, na bolsa, mas também na confiança, das famílias portuguesas.
Pelo conjunto, limitado, de produtos que abrangerá, esta medida terá um impacto confinado no rendimento disponível e um impacto limitado na taxa de inflação actual, mas não deixa por isso de ser um sinal e um contributo para o esforço de contenção da inflação e de melhoria da qualidade de vida dos nossos concidadãos.
Pelo lado da Centromarca, estamos empenhados em contribuir para uma rápida ultrapassagem os contratempos presentes, mas isso não invalida a importância de aproveitar este mesmo quadro de dificuldades para as correcções e afinações exigidas pelo mercado e por uma mais fluida relação entre os parceiros ao longo da cadeia de valor e destes com as autoridades.
Presidente da Centromarca