Reformados e aposentados que se danem
Mais uma vez as medidas anti-inflação de António Costa visam o potencial eleitorado do PS. Ainda por cima não contemplam as couves, que os portugueses adoram.
Nota prévia: Há anos que está em curso uma tentativa de destruir a democracia israelita, apesar da resistência das forças democráticas locais. Basicamente, falcões de direita obcecados com a segurança, sionistas e os diversos radicais ortodoxos (que se multiplicam como coelhos) estão a radicalizar a sociedade. É uma trajetória preocupante porque Israel foi fundado no pressuposto da democracia, embora seja naturalmente um Estado securitário rodeados de ditaduras árabes. Subverter a democracia de Israel levará, mais tarde ou mais cedo, a um agravamento da tensão no Médio Oriente, apesar da aproximação que se tem verificado entre Telavive alguns países submetidos a ditaduras teocráticas sanguinárias.
1. É evidente que as medidas governamentais para travar a diminuição do poder de compra não vão dar em nada. Mais uma vez, António Costa escolheu um caminho sinuoso que fará com que qualquer benefício pontual seja engolido pela subida dos preços em poucas semanas. Alguém vai voltar a ganhar nas margens de lucro e não será o consumidor. É de apostar que os efeitos das medidas sobre o IVA de produtos essenciais se vão volatilizar num instante. Parece que o queijo flamengo é contemplado no cabaz, mas o fiambre não (lá se vai a sandes mista!). Mais grave, há nota de que a couve lombarda que adoramos não está no pacote que integra os brócolos, que muitos detestam. Num país que já tem 500 mil imigrantes pagantes de impostos diretos e indiretos talvez fosse de incluir alguns produtos que muitos consomem. Ou será que têm de se limitar à dieta do português comum? Os apoios do Governo dirigiram-se novamente aos mesmos. Qualquer dia é melhor ganhar o salário mínimo e captar todos os subsídios possíveis do que ter um vencimento mensal de 1500 euros. Um absurdo! Toda esta estratégia é feita para dar o máximo em publicidade e o mínimo no porta-moedas. A lógica seria obviamente aumentar salários, pensões e descer o IRS. Mas isso iria criar ainda mais dificuldades em todas as áreas em que o Estado está a colapsar por falta de dinheiro, que vai direitinho para salários públicos. O pior é que comentadores, economistas e políticos da esquerda à direita não têm a coragem de denunciar essa realidade. As medidas do Governo visam o benefício dos grupos que lhes podem valer eleitoralmente. É o caso, designadamente, dos funcionários públicos e afins que se multiplicam por todo o lado. Já os reformados e aposentados voltaram a ser objeto de discriminação. Não viram mexidas as pensões para as quais descontaram nem foram incluídos produtos e medicamentos que a sua condição requer. Nada disto é novo. António Costa guarda-se para mexer positivamente na economia dos cidadãos no ano que vem quando houver eleições. Agora dá os mínimos e muita propaganda, ao melhor jeito do vendedor da banha da cobra das nossas feiras de meados do século passado. Só lhe falta um palanque, um altifalante fanhoso e andar a correr os mercados.
2. Com o seu saber de experiência feito e a sua enorme preparação técnica e cultural, o Presidente Marcelo gere António Costa como quem pesca o espadarte. Ora dá linha, ora puxa. A propósito da Habitação puxou, mas deu linha na Cimeira Ibero-Americana. Sempre que Marcelo puxa, Costa estrebucha e o cardume socialista reage. O tubarão Marcelo é reconhecidamente dos menos perigosos e, dizem os especialistas, não faz mal a ninguém, apesar do seu ar temível. Marcelo e Costa sabem bem que as bicadas que mandam um ao outro são circunstanciais. Nada se joga hoje, mais a mais nesta imprevisível conjuntura. As cartas todas vão ser jogadas em 2024. É nesse ano que há várias eleições e julgamentos populares. Nessa altura terá de existir uma oposição capaz de gerar uma alternativa política e não apenas aritmética, como Marcelo já disse. Essa tarefa vai competir à liderança do PSD, ou seja, a Luís Montenegro, que ali jogará o seu futuro. Até 2024 tudo são jogos florais. Claro que pode haver um cataclismo político, um escândalo, um colapso económico, uma desestabilização social à moda da França e do STOP. Mas nada disso é verdadeiramente previsível. Estamos na fase do bate boca, dos arrufos e das aproximações amistosas. Afinal é primavera, um tempo sempre desconcertante. A seguir virá o Verão. Aí teremos os problemas do costume, cada vez mais agravados, o que pode dar azo a novas tensões institucionais. Virão greves políticas, seca, incêndios, helicópteros em terra, hospitais sem médicos, urgências fechadas, nadadores salvadores insuficientes, praias poluídas, turistas em barda, acidentes de estrada e concertos e festivais de cerveja. Em plena “silly season” não faltarão festas e amores de Verão para animar as revistas do falido Jacques Rodrigues. O tema dominante serão, porém, as JMJ (Jornadas Mundiais da Juventude). Estas transformarão Portugal no altar do mundo com todas as suas circunstâncias colaterais, que irão da logística ao comportamento lamentável de alguns bispos perante as evidências de abusos sexuais na Igreja. Oxalá a grande concentração sirva para dar ânimo e esperança a um país amarfanhado, triste, sem desígnio coletivo, sem estratégia de afirmação e sem dispor de meios para manter o que tem de ser preservado, enquanto ficamos embasbacados face a negócios ruinosos de todo o tipo, apadrinhados por políticos, gestores e reguladores de duvidosa competência.
3. O debate parlamentar da semana passada só foi útil para André Ventura. Ao seu jeito, marcou pontos, arvorando-se em líder da oposição quando desfez a desinserida e fraquíssima ministra da Habitação. Ventura atuou com estrondo, produzindo afirmações genéricas das quais ninguém discorda. A base do populismo, do Chega ao Bloco de Esquerda, está nessa premissa bastante simples. Ventura está-se a consolidar no plano interno e quer agora pôr o seu partido no mapa internacional das direitas nacionalistas, que são muito diversas entre si. Para isso está a tentar organizar em Portugal uma cimeira que tomaria a forma de convenção. Veremos se consegue trazer Trump, Bolsonaro, Orbán, Le Pen, Abascal e companhia. Se trouxer será um feito notável. Se falhar nos grandes nomes, cai no ridículo. Ventura vai a todas. Só lhe falta tentar uma versão “direitolas” da Festa do Avante!. Seria porventura mais fácil do que ter um braço sindical. Anunciada com estrondo, essa ideia está perto de se tornar um fracasso. Ao ponto de os dirigentes do Chega já andarem a colar-se a manifestações da CGTP e dos sindicatos dos professores. A vida é muito difícil…
4. É consabido que o atual grupo parlamentar do PSD é mais fraco que o anterior. Também não é propriamente uma guarda avançada de Luís Montenegro, uma vez que foi, basicamente, constituído por Rui Rio. Mesmo assim, não deixa de ser estranho que o PSD reaja politicamente nos Passos Perdidos do Parlamento através de um vice-presidente do partido que não é deputado. Não se discute a qualidade de Leitão Amaro, mas a situação é no mínimo esdrúxula. Constitui objetivamente uma menorização do grupo parlamentar. Leitão Amaro, afastado por Rio, deveria, sim, falar na sede do PSD, a fim de evitar confusões. Em rigor só mesmo Luís Montenegro poderia ter o privilégio de intervir nos corredores da Assembleia, onde tem um gabinete.
5. Jorge Moreira da Silva vai exercer funções de secretário-geral adjunto da ONU e Diretor da Área das Infraestruturas e Projetos, depois de ter ganho um concurso internacional para a função. Moreira da Silva é uma figura de rara qualidade na sociedade portuguesa. Em muitos casos é um visionário a quem o tempo tem vindo a dar razão. Apesar de saber que era uma missão impossível, largou um outro grande lugar internacional para disputar com Montenegro a liderança do PSD. Perdeu, mas não abdicou dos seus ideais. Vai transportá-los para outro patamar, onde há poucos portugueses com as suas capacidades. Estaremos bem representados!