01/06/2023
 
 

A distribuição das migalhas

O que vimos ontem, com a apresentação dos 44 produtos essenciais que passam a pagar IVA zero foi mais do mesmo. Tirar 6% em produtos essenciais (tirando o peixe e pouco mais) vai representar uns meros 12 cêntimos em produtos que custam dois euros. Não se pode chamar-lhe redução de impostos. É apenas mais um remendo, uma mão cheia de migalhas atiradas aos pobres.

A instabilidade social a que assistimos nas ruas, nas escolas, nos hospitais, nos comboios, etc., tem na raiz a estratégia que António Costa adotou no Governo desde que “usurpou” o poder a Passos Coelho: prometer muito e fazer muito pouco. Esse “socialismo de rosto humano”, assumido por contraste com o Governo anterior, embora tente contentar as pessoas, tem acabado por gerar muito descontentamento.

Em primeiro lugar, porque criou uma expectativa muito alta. António Costa convenceu as pessoas, para parafrasear o título do grande vencedor da noite dos Óscares deste ano, de que ia dar tudo a todos em todo o lado ao mesmo tempo.

Deu mais feriados, menos horas de trabalho semanal, aumentou vários setores, baixou o IVA dos restaurantes e o preço dos transportes, subiu o salário mínimo e as pensões, aumentou os apoios para os mais pobres, etc., etc., etc.

Todas estas medidas seriam louváveis, se não se limitassem a tirar com uma mão para dar com a outra. O dinheiro tinha de vir de algum lado. Para que a dívida e o défice não aumentassem (como não aumentaram), foi só questão de cobrar mais impostos para distribuir mais dinheiro.

Em segundo lugar, e esse é talvez o maior problema, nenhuma destas medidas gera verdadeiramente riqueza. Pelo contrário, a sobrecarga de impostos pesa sobre as empresas, impedindo-as de se desenvolverem. O resultado tem sido tudo menos brilhante: segundo uma notícia de 27 de fevereiro no Eco, “Portugal é o segundo país da UE com maior risco de pobreza, logo a seguir à Roménia”. Palavras para quê?

Perversamente, isso até pode servir os interesses de quem está no poder: cada vez mais pobres, que dependem de apoios do Estado - se há um Governo que aumenta esses apoios, quem vai arriscar votar numa alternativa?

O que vimos ontem, com a apresentação dos 44 produtos essenciais que passam a pagar IVA zero foi mais do mesmo. Tirar 6% em produtos essenciais (tirando o peixe e pouco mais) vai representar uns meros 12 cêntimos em produtos que custam dois euros. Não se pode chamar-lhe redução de impostos. É apenas mais um remendo, uma mão cheia de migalhas atiradas aos pobres.

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