Esta coisa do tempo não está para o tempo das coisas.
Não importa a qualidade ou o sustento da ideia, importa a quem vê/lê a velocidade com que chega. A manchete. O cartaz. A mensagem curta do telemóvel. Tem é de chegar e rápido! O resto, a qualidade, a sinceridade, essa parte já está a acabar.
O mundo acelerou. A última geração, digamos, em formato híbrido de velocidade de informação são os nascidos nos anos 80. Aqueles que saborearam pela última vez neste mundo uma infância sem aplicações de telemóvel, sem iPhones e redes sociais que nos fazem viver duas vidas numa. A vida real e a vida mega rápida do whatsapp, do instagram, dos 160 caracteres do Twitter e das 24 horas das stories.
A vida real, aos sensatos, será sempre a mais importante para a busca da felicidade. A vida virtual servirá como escape às frustrações da real. E será sempre neste ciclo teatral que iremos lidar, viver e estar. Salvo raras exceções de quem consegue um equilíbrio.
Este imediatismo, esta infelicidade do real ser irreal horas depois. A rápida vida em torno da duplicidade do teatro e palco mediático contabilizado aos likes ou retweets. A ausência de bases é notória. Há uma oscilação tremenda que rouba discernimento e capacidade de ponderação. Perdemos o “eu sinto” e ganhámos o “eu acho” ou, pior, “eu ouvi dizer que”.
Vivemos na ânsia da resposta rápida. Da rápida reação. Da primeira ideia a surgir. Do primeiro momento de resposta. Não importa a qualidade ou o sustento da ideia, importa a quem vê/lê a velocidade com que chega. A manchete. O cartaz. A mensagem curta do telemóvel. Tem é de chegar e rápido! O resto, a qualidade, a sinceridade, essa parte já está a acabar.
Pelo meio deste percurso inglório perdeu-se o tempo. O tempo de refletir. O tempo de estruturar ideias. O tempo de sedimentar as coisas em nós, na nossa cabeça, no debate com outros e na realidade de todos.
O tempo de conseguir responder com bases.
O tempo, digamos, de termos tempo para estar em silêncio a pensar e a viver cada situação.
Esta sociedade mega rápida prejudica-nos. Direta e indiretamente. Diretamente porque acabamos por não resguardar um pensamento, estruturado e com tempo, sobre que assunto seja. Não aprendemos nada do que lemos. Não o fazemos porque horas depois já passou. Hoje, uma notícia estrutural demora meia dúzia de horas em antena, depois ouvem os dirigentes ou responsáveis e a notícia é já sobre as declarações contra as declarações de quem falou primeiro. Depois é a crítica a quem falou por último. E, pasme-se, perdemos a informação.
No dia seguinte a qualquer análise o foco de análise é sobre os que querem ser “os primeiros” e as pessoas vivem em, “mas ele já respondeu?” sobre quem seja. Seja político, dirigente desportivo ou alguém de qualquer área ou setor.
Indiretamente porque a maioria à nossa volta fica volátil. Fica crente do pouco que sabe. Vive em função do imediatismo que vê ser vivido pelos outros. E a corrente, essa cruel fatalidade de qualquer insegurança, leva-nos no rio da ignorância e da falta de bases.
Esta corrente tem um fundo de pressão. A pressão de grupo. A nossa sociedade.
Um membro de Governo hoje, para evitar percalços e críticas, responde automaticamente à primeira pergunta quando ela surge. Perdemos a sensatez da afirmação antiga de “Vou analisar o tema e, quando o estudar e analisar em equipa, responderei.”
Perdemos a qualidade do argumento.
E esta perda dá insegurança porque sabemos que o que é dito é superficial. Sabemos que não há base numa declaração em cima da hora, seja do Presidente da República ou de qualquer membro de Governo. Não há.
E, mais que tudo e todo o resto, os políticos em funções deviam mesmo ter tempo. Ponderar. Estudar. Ouvir e depois falar. Demorasse o que fosse.
Na nossa vida, regra geral, estamos todos a ficar assim. A desprezar o tempo e a qualidade do que vivemos, sentimos ou pensamos. A priorizar a velocidade de resposta, o curto de tempo de vazio e o imediato. O que sentimos? O que pensamos? Isso fica para resolver depois. Numa curva qualquer, rápida, da vida em que sejamos novamente confrontados em cima do joelho com determinado assunto.
Esta coisa do tempo não está para o tempo das coisas, perdemos todos qualidade por maior que seja a quantidade de informação que passe na nossa vida.