
Necessitamos de um sistema de saúde mais equilibrado, que produza melhores resultados para os doentes e com um desperdício reduzido da variabilidade de produção. Um sistema que, na perspetiva dos pagadores, seja um investimento no equilíbrio e na diferenciação do que é efetivamente melhor para cada doente.
A saúde enfrenta enormes desafios que podemos sintetizar da seguinte forma: como manter ou melhorar os cuidados de saúde com os recursos atuais, que são escassos e não vão chegar a todos e a tudo?
Torna-se essencial, por isso, uma utilização mais racional e eficiente dos recursos disponíveis (humanos, infraestruturas, medtech, etc.) e a medição do que realmente importa para os doentes, de modo a contribuir para o real valor da saúde num modelo de verdadeira sustentabilidade.
O atual sistema de saúde em todo o mundo tem estado, na última década, numa crise de sustentabilidade económica, que se deve essencialmente à falta de evidência na concretização dos seus objetivos: proporcionar os cuidados adequados aos melhores resultados para os doentes. Os cuidados de saúde implicam sempre uma enorme despesa e têm sido vistos, não como um investimento, mas na maioria das vezes como um custo, porque de facto há poucas evidências da relação direta entre o dinheiro investido e o retorno real dos ganhos nos cuidados de saúde, ou seja, em regra, não se ‘vê’ o retorno positivo do investimento feito em saúde nos resultados clínicos obtidos pelas populações no seu todo.
Tornou-se inevitável, por isso, integrar progressivamente modelos de decisão e de gestão que não podem depender simplesmente do volume de produção, mas de uma exigência-extra: a avaliação de resultados em saúde que na verdade acabam por contribuir para um melhor equilíbrio entre todos os stakeholders do sistema. A isso acresce, como já dissemos, o facto de vivermos cada vez mais numa sociedade económica de pressão sobre os custos e de ser cada vez mais exigido, a políticos e gestores, a redução das despesas em saúde ou, pelo menos, a sua utilização adequada às verdadeiras necessidades das populações. Ora, sem novos instrumentos de análise e avaliação não será possível falar em sustentabilidade do sistema de saúde.
Assim, é importante levantar questões ao modelo atual. Qual o valor dos gestos produzidos ao longo da cadeia de cuidados numa determinada doença? As instituições de saúde conseguem demonstrar de forma tangível o valor para o doente, para si próprias e para a sociedade em geral, dos milhares de consultas, exames complementares de diagnóstico e tratamentos que realizam todos os dias? Estaremos a conseguir enviar a mensagem correta para a tomada de decisões e para o mercado dos cuidados de saúde com o atual modelo de financiamento e avaliação dos cuidados?
Necessitamos de um sistema de saúde mais equilibrado, que produza melhores resultados para os doentes e com um desperdício reduzido da variabilidade de produção. Um sistema que, na perspetiva dos pagadores, seja um investimento no equilíbrio e na diferenciação do que é efetivamente melhor para cada doente. Um sistema, afinal, que crie o incentivo fundamental: o de produzir melhores resultados para os doentes ao custo correto, criando assim valor em saúde.
Por isso, torna-se essencial a adoção, para uma melhor decisão partilhada, mais consciente e transparente, da estratégia Value Based Health Care (VBHC), a qual vai progressivamente quebrar o atual paradigma em saúde e abrir portas, assim, a uma verdadeira sustentabilidade do sistema de saúde, no seu todo. É o que estamos a fazer no Grupo Luz Saúde. Um contributo para a mudança, a transparência e a sustentabilidade do sistema de saúde em Portugal.
Diretor de Gestão de Valor em Saúde (Grupo Luz Saúde)