Realidade, ficção e fake
É a vida do faz de conta, o novo vício dos novos tempos, a caça ao like de forma desenfreada. Dizia-me há uns dias um amigo que costuma passear regularmente pela aplicação de encontros Tinder, que “aquilo está-se a tornar muito perigoso”, usou até um termo que me ficou na memória, “ um Kinder surpresa”, por nunca se saber o que aparece por trás de uma fotografia.
Numa era dominada pelas “fake news” e por querermos sucessivamente mostrar em vez de viver, é muitas vezes difícil de distinguir a realidade da ficção ou da mentira. Mas há outros que são caricatos e tristes, pela estupidez que encerram. A atriz Sharon Stone veio revelar agora, numa recente entrevista, o sofrimento que lhe foi imputado pelo mais famoso cruzar de pernas da história do cinema, numa cena do filme Instinto Fatal. Parece que, segundo ela, perdeu a custódia do filho porque o juiz disse ao seu progenitor, na altura com 4 anos, em pleno tribunal, que a mãe pela referida cena, fazia filmes pornográficos. É inusitado que pessoas minimamente informadas, confundam o que é cinema do que é o dia-a-dia de quem escolhe determinada profissão. Mas não é o primeiro relato de vários atores seja no grande ou pequeno ecrã que geraram ódios ou paixões absolutamente fanáticos, induzidos por uma determinada representação (por sinal de excelência) que devia ficar por ali. Faz-me lembrar a minha infância quando achava que partir um braço era o braço sair literalmente do corpo.
Diferente, mas noutro campo, é aquilo que nos vão apresentando todos os dias as redes sociais. As vidas idílicas e perfeitas, de pessoas que muitas vezes não têm onde cair mortas ou de casais super apaixonados que vamos a ver e nem se falam em casa. É a vida do faz de conta, o novo vício dos novos tempos, a caça ao like de forma desenfreada. Dizia-me há uns dias um amigo que costuma passear regularmente pela aplicação de encontros Tinder, que “aquilo está-se a tornar muito perigoso”, usou até um termo que me ficou na memória, “ um Kinder surpresa”, por nunca se saber o que aparece por trás de uma fotografia. Veio a conversa ao caso por estarmos a dançar num dos restaurantes dançantes de Lisboa e ele ter ficado estupefacto com uma miúda que foi ter com ele a apresentar-se depois de terem feito “match” (quando duas pessoas gostam das fotografias uma da outra). Depois de o ver com um ar atónito, mostrou-me a referida aplicação e o Instagram da pessoa que ali se apresentava e de facto, à luz dos mil e um filtros e da magia do photoshop, o que a personagem mostrava nas suas redes e depois a sua figura presencial não tinham absolutamente nada a ver. Se não me tivesse sido garantido eu jurava que não estávamos a falar do mesmo.
Isto é hoje em dia a prática habitual, defendemos o que é natural, a liberdade do corpo, até lhe chamamos do novo normal, tenta-se de tudo para prestigiar as supostas imperfeições como beleza própria mas depois tentamos por tudo uma forma do que aos olhos de alguns parece perfeição só para agradar à vista e aos olhares. Faz lembrar aqueles rapazes que se mostram verdadeiros príncipes nos primeiros meses de namoro fazendo e cedendo a tudo e depois, quando passa a paixão fogosa e ardente, e vem ao de cima quem são na realidade o choque frontal acontece. Separações bruscas e intensas ou casamentos quebrados. É o tempo da imagem e do vídeo, depois queremos retirar o lado sexual dos instintos, onde não se pode dar um piropo ou fazer um elogio que é logo censurado mas em que as meninas de 18 anos (ou menos), passeiam os seus corpos semi despidos e os rabos em grande destaque no Instagram, para ganhar visibilidade e com isso jantares oferecidos nos restaurantes da moda e noites em hotéis de luxo e os pais nada fazem. Há por aí muito boa gente que sofre imenso por não lhes darem valor intelectual e ninguém querer saber o que pensam disto ou daquilo, mas a única frase que lhes é conhecida é um hashtag dos sítios que frequentam. Comprem pipocas que isto ainda agora começou.