Insegurança Social
A ministra Ana Mendes Godinho é um desastre com sorriso cândido.
Nota prévia: No meio da confusão que gerou o caso Alexandra Reis há uma pequena e singela constatação a fazer. Afinal o lugar de presidente da NAV está vago. Será que está reservado para ela? Só nos faltava mais essa.
1. A situação de degradação e de maus tratos em lares de idosos não é nova. Hoje, por via das redes sociais, apenas se conhecem mais casos chocantes, com imagens que remetem para as dos campos de concentração nazis. Logo que há uma denúncia a saltar para as manchetes é ver os inspetores da Segurança Social aparecerem onde raramente iam. Os nossos lares são em muitos casos armazéns de velhos. A pinta dos responsáveis e os nomes dos donos finais de certos estabelecimentos não enganam ninguém. Sempre que há um caso mais grave, aparece o ministro de turno (seja qual for o partido) que promete atuar, investigar e solucionar. Ana Mendes Godinho, atual ministra, junta a isso um ar cândido e sorriso na cara onde deveriam correr lágrimas. Tal como o seu antecessor, Vieira da Silva, Godinho é um desastre. Tanto na questão dos lares de idosos, como na sinalização de crianças (ainda há pouco ocorreu o caso horrível de uma criança assassinada em Setúbal), no pagamento de pensões e no apoio aos desvalidos. A Segurança Social entre nós é o oposto das Finanças. Como tem de pagar, faz tudo arrastando os pés dos seus milhares de funcionários que amam o teletrabalho e as marcações prévias. Nas finanças é exatamente o contrário. A instituição não para quieta, salvo quando estão em causa estornos ou milhares de milhões como o IMI e o Imposto de Selo de barragens. É reinar com o pagode e governar cativando. Nos lares apenas os parentes chegados acabam por poder fazer denúncias. Muitos empregados têm limitações por serem imigrantes indocumentados, sem preparação e sem sensibilidade. Esses são factos. A senhora ministra, em vez de aparecer com ar sonso, deveria pegar o problema de frente. Há que nomear uma “task force” que, no terreno, faça uma fiscalização a todas as instituições legais e ilegais. Simultaneamente, deveria indicar funcionários da Segurança Social que superintendam “per capita” um certo número de unidades, onde possam entrar a qualquer hora do dia ou da noite com uma pequena equipa. Claro que vão dizer que não há gente nem dinheiro. Mas podem resolver isso nem que seja com mais uma raspadinha ou aplicando uma taxa aos lares. Esses funcionários teriam de dispor de meios móveis e sobretudo terem salários dignos para evitar tentativas de corrupção. Como é óbvio que não há sítios para onde transferir os utentes, há que criar legislação que permita à Segurança Social tomar posse administrativa da unidade imediata, assegurando a gestão até à expropriação e condenação dos responsáveis a penas pesadas por maus tratos a pessoa indefesa. Se nada deste género for feito, é certo e sabido que vamos continuar a descobrir novas casas dos horrores. Desde logo porque há cada vez mais idosos e que nos últimos sete anos tudo se agravou. Para grandes males grandes remédios.
2. Uma mão cheia de nada. É este o termo concreto para o pacote da habitação. Impraticável, irracional, absurdo economicamente e, como se não bastasse, cheio de inconstitucionalidades. É, portanto, um nado morto que, no entanto, vai certamente levar muita gente a rever a ideia de investir na construção civil, que é um dos motores da economia. Será bom para a banca que vai manter depósitos com zero de juros. Oxalá os investidores não se entusiasmem com propostas de aplicação em fundos. Ainda agora nos Estados Unidos houve um banco enorme que foi abaixo. E entre nós há um que anunciou lucros simpáticos cá e um prejuízo desgraçado na Polónia. Cuidado. Investir em pedra e terra não é o mesmo que investir em papel!
3. A entrevista que o Presidente-analista-comentador Marcelo deu à RTP merece ainda alguma reflexão, mesmo que curta. Desde logo porque teve um fraquíssimo nível de audiências (menos de metade de um dia normal da novela Festa é Festa). Há provavelmente duas causas: a banalização da palavra presidencial e a irrelevância em que a RTP vem caindo. O Presidente da República optou por um misto em que bateu em toda a gente do Governo à oposição, que ainda não vê como alternativa. Mas, sobretudo bateu na Igreja pela sua lamentável atitude face aos casos de pedofilia agora confirmados por uma comissão independente. Nesse aspeto Marcelo até se controlou ao dizer que falava como PR, omitindo o seu ponto de vista como católico que seria certamente muito mais violento. Quanto ao executivo, o discurso foi absolutamente arrasador, mas sempre compensado judiciosamente por uma palavra justificativa. Uma coisa parece certa: as mesmas palavras na boca de Cavaco ou de Sampaio causavam um terramoto político. Basicamente, a entrevista deu pretexto aos comentadores para mais umas largas horas de televisão e rádio. Nem sequer se abordaram os momentos mais difíceis dos sete anos de mandato. Foi pena.
4. Parece que Marta Temido admite ser candidata à presidência da Câmara de Lisboa. Saiu, portanto, a taluda a Carlos Moedas que, entretanto, já atinou e está finalmente a produzir resultados positivos para a capital. O desastre que Marta Temido trouxe para o SNS está tão patente na vida dos portugueses que só por fanatismo partidário ou político alguém de bom senso irá votar nela. Marta Temido foi o terramoto na saúde e de terramotos os lisboetas já tiveram a sua conta. Ainda por cima não é de Lisboa e é deputada por Coimbra. Pois que se candidate lá na terra.
5. Fez ontem dez anos que o Papa Francisco foi anunciado ao mundo. Juntamente com João XXIII será certamente um dos Pontífices de Roma que mais tocaram a humanidade, pela sua bondade, pela sua coragem, pela abertura às reformas e pelo apoio que deu às denúncias de crimes de abuso de crianças na Igreja. Ao contrário do seu antecessor imediato, Bento XVI, Francisco é um Papa mais virado para os problemas reais da humanidade, especialmente os mais pobres e marginalizados de países que não são nucleares no planeta. As suas palavras sábias e simples marcam mais do que os discursos teocráticos de muitos bispos, cardeais ou padres. É um homem da tolerância, do respeito pelos direitos individuais, acima de dogmas sem fundamento. É bom tê-lo!
6. Quem também faz dez anos é a CMTV. Trouxe uma mudança na comunicação que poucos referem e reconhecem. Fala do povo, para o povo e à moda do povo. Ali, não há preocupações estilísticas. Há eficácia e às vezes excessos. Mas não se lhe pode tirar mérito. O mesmo acontece ao jornal que é o porta-aviões do grupo Cofina. As outras televisões e jornais tiveram de se adaptar e passar a abordar casos em que não tocavam. E o grupo CM até já trata de política. E quando o faz é arrasador. Sócrates, Pinho e Alexandra Reis que o digam. Se é assim apenas no cabo, o que será no dia em que esteja em canal aberto? Vítor Direito, o mestre do jornalismo que fundou o CM com Carlos Barbosa, talvez nunca imaginasse tamanho impacto e tanto poder do jornal que nasceu ali para os lados da Praça das Flores, ao lado de O Tempo.