31/03/2023
 
 
Portugal está a virar à direita

Portugal está a virar à direita

Sónia Leal Martins 03/02/2023 12:48

O centro-direita pode vir a ter uma maioria parlamentar para governar maioritariamente sem o apoio do CHEGA.

Nota prévia: parece que o PSD está num romance com Rui Moreira. O objetivo é um casamento por conveniência – o PSD quer ganhar as Eleições Europeias e quer, em simultâneo, serenar as críticas que muitas vezes recebe do Presidente da Câmara do Porto. Diz-nos a história que nem sempre resultam estes casamentos – o Dr. Rui Moreira não é hoje, nem será no futuro o candidato que o PSD precisa para ganhar eleições. Conhecido por estar envolvido em várias polémicas, desde a ANMP, o Sindicato dos Jornalistas, o FCP e o célebre caso Selminho. Não é de todo uma figura em que os portugueses se revejam.

Há uma semana que saiu uma sondagem que coloca o PSD como o partido mais votado, à frente do PS – são quase 4% que os separa. É apenas uma sondagem e sabemos que as sondagens valem o que valem – chegaram a dar um empate técnico entre António Costa e Rui Rio há um ano.

Por isso, devemos aguardar por mais alguns estudos de opinião para perceber se a tendência se mantém, no entanto, parece-nos pertinente retirar algumas ilações sobre os resultados que esta sondagem nos apresenta.

Em primeiro lugar dar nota da queda brutal que o PS teve. Ora vejamos, há precisamente um ano o PS obteve 41,4% dos votos e nesta sondagem obtém 26,9%, o que se traduz numa perda de 14,4% dos votos – é obra para um curto espaço de tempo – mas facilmente compreendido.

Para isto contribuiu o ambiente social e político que se tem vindo a viver. O aumento brutal do custo de vida, a crise da habitação (devido à subida das taxas de juro), a degradação do SNS e da escola pública (professores, auxiliares de educação e assistentes operacionais em greve há mais de um mês), explicam o desencanto que os portugueses vão tendo pelo Governo liderado por António Costa.

Do ponto de vista político a conjuntura também não é a melhor, os casos e casinhos que têm ocorrido nos últimos tempos afastaram também algum eleitorado do PS, bem como o desgaste natural de quem está no poder há quase 8 anos e que tem feito muito pouco pelo País.

Passados quase 6 anos um estudo de opinião volta a colocar o PSD como o partido mais votado – a última vez tinha acontecido em 2017.

Este facto, que alguns podem não dar muita relevância é muito importante, não só porque passado muito tempo o partido volta a estar na frente, mas também pelo ânimo que estes resultados podem trazer às bases do partido, quer queiramos ou não, a dinâmica da vitória mobiliza, motiva e agita o partido e isso é positivo. Quanto mais motivados se sentirem os militantes mais facilmente se cumprem os objetivos.

O PSD obteve há um ano 27,7% dos votos e nesta sondagem obtém 30,6%. Os mais pessimistas dir-me-ão que a subida é ténue, 3,7% e que o PSD não capitalizou devidamente a descida acentuada do PS, o que na realidade é verdade, mas percebe-se também que algum do eleitorado que deu a maioria absoluta ao PS voltou à origem, isto é, aos partidos mais à esquerda. A título de exemplo veja-se o caso do BE, que nas últimas legislativas teve 4,4% e agora obtém 5,6%.

Quem beneficia e muito do ambiente político que vivemos é o CHEGA. O partido de André Ventura quase dobra o seu resultado face às últimas legislativas, passando de 7% dos votos para cerca de 14%. É uma subida muito significativa e que revela que o CHEGA vai buscar eleitorado, a todos os partidos, mas principalmente ao PS e ao PCP (que nesta sondagem tem apenas 2,2% dos votos, quando há um ano teve 4,3% - poderá seguir o caminho do CDS).

Esta transferência de eleitorado dá razão àquilo que venho a defender, o crescimento da extrema-direita populista não é da exclusiva responsabilidade do PPD-PSD, como defendem os socialistas, é na verdade de todos os partidos democráticos.

A Iniciativa Liberal quase dobra o seu resultado em relação há 1 ano. Passa de 4,9% para cerca de 8%. A verificar-se este resultado o centro-direita pode vir a ter uma maioria parlamentar para governar maioritariamente sem o apoio do CHEGA.

Vai sendo tempo do PSD seguir o exemplo de Carlos Moedas em Lisboa, clarificou perante o eleitorado que defendia uma congregação de esforços para vencer as eleições autárquicas em Lisboa, mas rejeitou claramente o CHEGA.

Poderá não ser ainda o momento, mas depois desta clarificação, certamente que o PSD irá subir ainda mais nas intenções de voto.


 

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