01/10/2023
 
 
Carlos Costa. SMS de António Costa "confirma intromissão junto do Banco de Portugal"

Carlos Costa. SMS de António Costa "confirma intromissão junto do Banco de Portugal"

Bruno Gonçalves Joana Mourão Carvalho 16/11/2022 08:22

O antigo governador do BdP reiterou que primeiro-ministro o pressionou em 2016. Marques Mendes falou em “intromissão ilegítima e abusiva” de Costa.

O antigo governador do Banco de Portugal reafirmou que o primeiro-ministro tentou interferir na decisão do Banco de Portugal (BdP) em afastar Isabel dos Santos da administração do banco BIC, em 2016. Aliás, segundo Carlos Costa, foi mesmo António Costa a confirmá-lo, quando lhe enviou um SMS, na semana passada, no qual reconhece que em 2016 considerava que era “inoportuno” afastar a empresária angolana da administração daquele banco, quando já estava em curso uma solução para a saída da filha do ex-Presidente angolano do capital do BPI.

“Confirmo que o senhor primeiro-ministro me contactou, por chamada, para o meu telemóvel, a 12 de abril, à tarde, depois da reunião que eu tinha tido com a engenheira Isabel dos Santos e Fernando Teles, acionistas do BIC, em que eu tinha estado acompanhado pelo diretor de supervisão Carlos Albuquerque”, relatou na apresentação do livro O Governador, de Luís Rosa, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Nessa chamada, António Costa terá dito que “não se pode tratar mal a filha de um Presidente de um país amigo de Portugal”. 

Já esta semana, após a pré-publicação de um capítulo do novo livro no Observador, António Costa terá enviado uma mensagem a Carlos Costa. “Esta semana, no mesmo dia em que anunciava um processo judicial, enviou-me uma SMS em que reconhece que me contactou para transmitir a inoportunidade do afastamento da engenheira Isabel dos Santos”, contou o antigo governador.

“É o próprio primeiro-ministro a confirmar a tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal”, declarou Carlos Costa, acrescentando que “cabe a cada um fazer o seu juízo e a sua avaliação”.

Carlos Costa, que também se não esqueceu de saudar a antiga procuradora-geral da República Joana Marques Vidal que marcou presença na Fundação Gulbenkian, afirmou, ainda, que ao colaborar neste livro, dando mais de 30 horas de entrevista, está a “contribuir para reforçar o respeito” que é devido à instituição que liderou 10 anos, entre 2010 e 2020, e para o escrutínio da mesma.

Também na apresentação do livro  sobre os dois mandatos de Carlos Costa à frente do BdP, Luís Marques Mendes defendeu que o Ministério Público deve abrir uma “investigação criminal” ao caso Banif, a partir das informações que estão na obra.

“Espero bem que o Ministério Público possa ler os capítulos do livro sobre o caso Banif. (…) Tenho a convicção de que não pode deixar de abrir uma investigação criminal”, declarou. 

Salientando que o ex-governador foi “muito maltratado” no cargo e foi “vítima de 10 anos absolutamente inéditos na atuação do BdP”, inclusivamente “de um mesquinho ajuste de contas por parte do ex-ministro Mário Centeno”, o conselheiro de Estado considerou que a resolução e venda do Banif esteve envolta em favores e foi um “caso típico de abuso de poder”. 

“Por muito menos já vi o Ministério Público abrir inquéritos e constituir arguidos”, alegou, culpando o Governo de António Costa de “nas costas de toda a gente” ter “informado Bruxelas, através de carta, que o Banco estava em processo de resolução”.

Já sobre a polémica relativamente à alegada intervenção do primeiro-ministro António Costa junto do ex-governador, pressionando-o para que a empresária angolana Isabel dos Santos não fosse afastada do BIC, Mendes disse que “convém recordar que uma eventual intromissão do poder político numa questão desta natureza é tão grave, ilegítima e abusiva quanto uma intervenção numa investigação criminal”. “O país aguarda explicações”, avisou.

O presidente do Conselho Económico e Social, Francisco Assis, um dos nomes anunciados para apresentar o livro, não esteve presente, mas o evento na Fundação Gulbenkian começou com a leitura de uma declaração escrita em que justifica o porquê de ter voltado atrás na decisão em aceitar o convite. “Entendi que era meu dever abster-me de participar num ato em que a minha participação seria interpretada como uma hostilidade” para com o primeiro-ministro, defendeu, recordando que António Costa, com quem partilha “30 anos de percurso comum” no PS, “declarou publicamente” que havia considerações no livro que afetam a sua honra.

No evento estiveram ainda o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, os antigos ministros do PSD Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar-Branco e Miguel Cadilhe. Da atual direção do PSD, além do presidente social-democrata Luís Montenegro, esteve também o líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento.  Os ex-Presidentes da República Cavaco Silva e Ramalho Eanes, bem como  Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças do Governo do PS chefiado por José Sócrates e o antigo deputado socialista António Galamba foram outras das presenças.

António Costa, entretanto, reafirmou que vai processar o antigo governador do Banco de Portugal pelo ataque ao seu bom nome. 

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