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Visionary. O maior leilão de arte da história

Visionary. O maior leilão de arte da história

DR Sara Porto 10/11/2022 22:08

A coleção de arte de Paul G. Allen, co-fundador da Microsoft, está a ser leiloada pela Christie’s. Inclui mais de 150 peças que abrangem 500 anos de história e está avaliada em mil milhões de dólares, podendo tornar-se a mais cara de sempre.

Era por natureza atraído por problemas difíceis. Problemas que, por definição, “exigem soluções inovadoras e dramáticas”. E um verdadeiro polímata dos tempos modernos – alguém com uma curiosidade omnívora, cujos conhecimentos e habilidades abrangiam uma ampla gama de disciplinas. “Percebeu desde cedo que os seus recursos excepcionais poderiam ser utilizados para tornar o mundo um lugar melhor. E foi exatamente isso que fez”, elogia o site www.paulallen.com.

A fortuna que acumulou, enquanto co-fundador da Microsoft (com Bill Gates), permitiu também a Paul Allen expandir o seu raio de ação, através de generosas ações de filantropia. E, claro, reunir uma das mais importantes coleções de arte privadas, cujo leilão se iniciou ontem na delegação da Christie’s de Nova Iorque. 

Abrangendo 500 anos de história, o acervo inclui mais de 150 obras-primas de nomes tão sonantes como Sandro Botticelli, Claude Monet, Vincent Van Gogh, Paul Cézanne, Georges Seurat, Gustav Klimt, Pablo Picasso, David Hockney ou Jasper Johns. Quando, esta quinta-feira ao final do dia, a segunda sessão terminar, este poderá ter-se tornado o maior leilão de arte da história, tendo sido a coleção avaliada nuns impressionantes mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) – embora possa facilmente ir além desse valor.

“Para o Paul, a arte era tanto analítica quanto emocional. Ele acreditava que a arte expressava uma visão única da realidade, combinando o estado interior do artista e o olho interior. A sua coleção reflete a diversidade dos seus interesses, com a sua própria mística e beleza”, disse Jody Allen, irmã do magnata e executora do Paul G. Allen Estate, citada pela revista Cultured. Segundo o The Guardian, Allen escolheu pessoalmente todas as obras, a dedo, em vez de recorrer a um especialista, como é prática comum entre multimilionários.

“Quando olhas para uma pintura, estás a olhar para um país diferente, para a imaginação de outra pessoa”, disse Allen, quando algumas das obras particulares foram exibidas em 2016.

Uma coleção que “esgota os superlativos” A tour mundial da coleção de Allen começou a 5 de outubro em Hong Kong e desde então passou por Taipei, Xangai, Londres, Paris e Los Angeles, de modo a aguçar o apetite de colecionadores dos quatro cantos do mundo. No dia 29 de outubro, as obras chegaram ao seu destino final: Nova Iorque, onde estiveram em exposição na Rockefeller Plaza, antes do início da venda.

“A vida de Paul foi guiada pelo seu desejo de tornar este mundo um lugar melhor. Acreditamos que apresentar a sua coleção em leilão e dar a oportunidade a um público mais amplo de descobri-la, será uma homenagem adequada para celebrar a sua visão e o seu legado”, comentou Guillaume Cerutti, CEO da Christie’s. “Esta venda esgota todos os superlativos”, afirmou à revista Forbes o vice-presidente da Christie’s para arte dos séculos XX e XXI, Max Carter. “É histórica em termos de números, histórica em termos de filantropia e histórica em termos de qualidade das obras-primas.”

E mesmo depois de partir, Allen não deixa de dar continuidade à sua missão filantrópica: todo o dinheiro será doado a instituições de caridade, conforme estipulado pelo próprio empresário, que morreu em outubro de 2018, aos 65 anos devido a um linfoma não Hodgkin.

Acima da fasquia dos 100 milhões As principais estrelas do leilão foram reunidas na primeira sessão, que decorreu ontem, e incluiu pesos-pesados como Monet, Gauguin, Van Gogh, Picasso, Seurat e Cézanne. Das quinze obras destacadas pela leiloeira, sete foram à praça sem que fosse revelada ao público a estimativa. Segundo o The Guardian, as pinturas mais cobiçadas serão as de Seurat, Les Poseuses, Ensemble (Petite version), fora do mercado há 52 anos, e de Cézanne, La Montagne Sainte-Victoire, que o jornal britânico prevê que superem, cada uma, a fasquia dos 100 milhões de euros. O Cézanne “é extremamente raro”, disse à revista Forbes Margaux Morel, especialista da Christie’s em impressionismo e arte moderna. Pomar e Ciprestes, de Van Gogh, também não deverá andar longe desses valores. Quanto a Floresta de bétulas, do austríaco Gustave Klimt, terá uma expectativa de venda a rondar os 90 milhões. Mas são muitas as obras na casa das largas dezenas de milhões – Bacon, Manet e Turner são os autores de algumas delas.

Tecnologia e filantropia Paul Allen viveu uma vida norteada pelo amor às ideias e pelo desejo de colocá-las em prática. As suas contribuições para filantropia em vida, que ascenderam a mais de 2,65 mil milhões de dólares, “ajudaram a salvar espécies ameaçadas, aprofundaram a nossa compreensão da biociência, partilharam arte e música, desenvolveram novas tecnologias, enfrentaram epidemias e exploraram o fundo do oceano”.

O seu nome, porém, ficará para sempre ligado ao mundo tecnológico, como co-fundador da Microsoft. Em 1975, juntamente com Bill Gates, criou a multinacional americana com sede em Redmond, Washington. Atualmente, a empresa é a maior criadora de software e recursos tecnológicos – além de atuar no apoio e desenvolvimento de software, dispositivos e serviços relacionados com a computação pessoal, produtividade e soluções em nuvem, a marca também tem uma expressiva participação nos segmentos de inteligência artificial, realidade virtual e videojogos.
De acordo com o The Guardian, em 2010, quando era a 37.ª pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna estimada em 13,5 mil milhões de dólares, Allen prometeu deixar a maior parte dessa fortuna para a caridade. Hoje, a Paul G Allen Family Foundation, liderada pela sua irmã, investe principalmente em comunidades no noroeste do Pacífico, com foco em artes regionais, populações carentes e meio ambiente.

Allen foi criado em Seattle, onde o seu pai trabalhava como diretor associado das Bibliotecas da Universidade de Washington. O jovem frequentou a Lakeside School – uma escola particular –, onde se tornou amigo de Bill Gates, com quem partilhava um interesse por computadores. Juntos começaram a aprimorar as suas competências de programação, acabando por fundar a Microsoft. Allen era o homem das ideias, enquanto Gates sabia como capitalizá-las.

Além das suas descobertas e criações tecnológicas, em Seattle Allen também fundou o Museu de Cultura Pop (era um apaixonado por Jimi Hendrix e pela saga Star Trek) e a Feira de Arte da cidade, onde nasceu. Segundo o The Guardian, coleccionou arte durante 26 anos, particularmente impressionado por uma visita, no início dos anos 1990, à Tate Gallery, em Londres.

Obcecado pelos oceanos, Allen era dono do Octopus, o maior iate do mundo quando foi construído em 2003, com 126 metros e dois heliportos. O empresário podia assim não só dar asas à sua paixão por explorar o alto mar, como de fazê-lo sem abdicar de uma vida de luxo. O Octopus foi vendido por pouco menos de 230 milhões de dólares, no ano passado.

Um segundo super-iate que lhe pertencia – o Tatoosh, de 92 metros – foi vendido na sexta-feira pela Fraser, na feira de iates do Mónaco, a um comprador anónimo, por um preço não revelado. Estava cotado em 90 milhões de dólares.

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