Paredes de Coura. Das viagens dos BadBadNotGood ao suor dos Idles

Paredes de Coura. Das viagens dos BadBadNotGood ao suor dos Idles


Do punk ao jazz, o segundo dia do Paredes de Coura foi marcado por atuações de artistas como Idles, BadBadNotGood ou Beach House.


Se havia banda perfeita para marcar presença no Vodafone Paredes de Coura eram os Idles, banda inglesa de punk que superou todas e quaisquer expectativas dos festivaleiros.

O ataque sónico começou assim que o grupo entrou em palco, com o implacável baixo de Colossus a deixar toda a plateia em sentido, e o vocalista, Joe Talbot, a desafiar todo o anfiteatro natural da praia fluvial do Tabuão a fazer uma “parede da morte”. Infelizmente (ou felizmente, depende da opinião e energia de cada membro da audiência) não conseguiu.

Mesmo não tendo conseguido dividir a plateia como o Mar Vermelho, os ingleses não deixaram uma única alma indiferente à sua descarga de testosterona. Talbot foi o maestro desta orquestra caótica e conduziu tudo na perfeição fosse a cantar ou com as suas teatralidades, ora a caminhar pelo palco como um cão raivoso ou a abanar as suas ancas.

Contudo, entre as malhas punk, como Mother ou Never Fight A Man With a Perm, uma balada, The Beachland Ballroom, também houve tempo para discursos emotivos, com o vocalista a recordar que um dos seus maiores medos era morrer e como se refugiava nas drogas. Agora, confessa ter este problema superado e diz que pode “morrer em paz”. Ele e todas as pessoas que finalmente puderam realizar o seu desejo de moshar ao som de Danny Nedelko em Coura.

Antes dos punks ingleses virarem o recinto do festival de pernas para o ar, o maior palco do Paredes de Coura foi invadido por um grupo de miúdos canadianos que, apesar de fora do seu habitat natural parecerem as pessoas mais normais do mundo, são uma das mais interessantes bandas jazz do mundo. Estamos a falar dos canadianos BadBadNotGood.

Auxiliados por um técnico de imagem que projetava imagens através de fita, o conjunto ia oferecendo uma banda sonora a estas filmagens, mas também à vida das pessoas que estavam a ver o concerto.

Com mais calma e maturidade desde a última paragem neste festival, em 2017, os músicos mostraram que o jazz, quando aliado a linguagens e contextos contemporâneos, consegue ainda mover multidões e fazê-las dançar euforicamente.

No final, os músicos receberam uma enorme salva de palmas, tendo-se despedido do público com uma homenagem à falecida lenda do rap, MF DOOM, tocando ao vivo a música que fizeram em conjunto com o artista, The Chocolate Conquistadors.

Ainda no palco principal, a banda responsável por encerrar este espaço foram os Beach House e é caso para dizer que depois da tempestade (seja em forma de punk ou de jazz) veio a bonança.

Os fãs que se aguentaram em palco e não optaram por ir à tenda trocar a roupa repleta de suor foram brindados com um emocional e sonhador concerto, aliado pela produção visual, que parecia formar estrelas no palco, a banda de Baltimore ofereceu um espetáculo acolhedor e o cenário perfeito para casais se abraçarem enquanto ouviam doces músicas como PPP ou Space Song.

No palco Vodafone.FM, quando ainda brilhava a luz do dia, um dos grandes destaques foi a estreia nacional de Porridge Radio, uma das mais talentosas bandas a sair do Reino Unido, que veio apresentar o seu terceiro disco, Waterslide, Diving Board, Ladder To The Sky.

Apesar das imperfeições, a descarga emocional da vocalista Dana Margolin fez todos os membros da audiência ignorarem qualquer tipo de prego e a entregarem-se às suas melodias e letras minimais, repetitivas, mas eficazes.

Em entrevista ao i, ainda antes dos Gator, The Alligator, terem aberto as hostes deste segundo dia do festival, a vocalista contou-nos que o recurso à repetição é uma forma de passar as suas mensagens de uma forma mais eficaz e visceral. “Existe algo na repetição que nos permite perder o controlo e sentirmo-nos mais livres”, explicou-nos.

Depois deste concerto, o grupo vai regressar a Portugal para tocar no Super Bock em Stock 2022, a acontecer a 25 e 26 de novembro em várias salas da Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Para além das bandas acima mencionadas, no palco Vodafone estiveram a portuguesa Mesma e Alex G, enquanto no secundário estiveram também Indigio de Souza e The Murder Capital. O after ficou a cargo dos Viagra Boys e de Haai.

O festival continua amanhã, quinta-feira, com atuações de The Comet is Coming, Turnstile e L’Impératrice.