Qual é o grande projeto nacional? Se alguém souber que me diga
Aníbal Cavaco Silva tem a coragem e a frontalidade de dizer o que outros, mais politicamente corretos, não ousam.
Com o PSD a tentar ainda erguer-se das cinzas, os partidos da extrema-esquerda a lamber as feridas e o Chega a braços com vários problemas de ordem interna, a oposição tem estado a cargo de um protagonista improvável.
Aníbal Cavaco Silva tem a coragem e a frontalidade de dizer o que outros, mais politicamente corretos, não ousam. Mas há outras características pessoais que tornam as suas intervenções tão relevantes quanto incómodas para o poder. Para começar, o peso político de quem esteve 20 anos à frente do país e conquistou várias maiorias absolutas. Depois, a reconhecida credibilidade na área da economia. E, por fim, a seriedade inquestionável: Cavaco pode ter muitos defeitos, mas não é certamente alguém que possa ser visto como um aldrabão.
Podem tentar desacreditá-lo – e muitos o têm feito ao longo dos anos – acusando-o de não lidar bem com a reforma, de não saber comer bolo-rei ou de desconhecer quantos cantos têm Os Lusíadas. Mas nada disso impede que tudo o que Cavaco tem denunciado seja verdade.
Para começar, o país não tem um rumo, uma estratégia – tirando a aposta no turismo, e mesmo aí com os problemas que se conhecem.
Qual é o grande projeto nacional, o grande desígnio? O hidrogénio, que por enquanto não passa de uma miragem?
O novo aeroporto, que não anda para a frente? Aumentar os quadros da Função Pública? Se alguém souber que me diga.
Depois, as áreas em que os socialistas costumam apostar por excelência vivem dias sombrios. A educação, que António Guterres elegera como prioridade do seu mandato, vai de mal a pior. Há cada vez menos pessoas a quererem ser professores. O Serviço Nacional de Saúde, que era a “joia da coroa”, anda pelas ruas da amargura. Urgências fechadas, médicos a trabalhar sob condições duríssimas, com sobrecargas desumanas. Não admira que sejam cada vez mais os que preferem o privado.
Com a brutal dívida e a subida das taxas de juro, as finanças públicas vão ser outro problema.
O custo de vida e a pobreza aumentam a olhos vistos, e até a Segurança Social, que nos governos do PS costuma ser tão generosa, tem instruções para cortar apoios. Cavaco tem toda a razão: não há rumo. Ou, se há, é em direção a um lugar nada animador.