Para Lula da Silva, a culpa é de Zelensky
Brasília fica a mais de 11 mil quilómetros de Moscovo, é verdade, mas o antigo Presidente brasileiro tinha a obrigação de saber melhor o que se passa no Leste da Europa.
Por muitas voltas que se dê ao texto, as recentes declarações de Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia são no mínimo bizarras. Numa entrevista à Time que coincidiu com o anúncio da sua candidatura à presidência, Lula disse esta coisa extraordinária: Zelensky “é tão responsável pela guerra” como Vladimir Putin. “Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado”. Ou seja, o país invadido é tão culpado como o invasor, o agredido tem as mesma quota de responsabilidade que o agressor. Para Lula, se quisesse realmente, Zelensky poderia ter evitado a guerra. Bastava ter negociado.
Brasília fica a mais de 11 mil quilómetros de Moscovo, é verdade, mas o antigo Presidente brasileiro tinha a obrigação de saber melhor o que se passa no Leste da Europa. As imagens das cidades arrasadas estão por todo o lado. Ele, que ascendeu como representante dos humilhados e dos oprimidos, dos sem-terra e dos trabalhadores, nunca poderia estar do lado do punho de aço, da força bruta.
Aliás, olhando para um e outro, o que tem que ver o ex-Presidente brasileiro com o Presidente russo? Um é emotivo e caloroso; o outro é frio e cerebral. Um foi sindicalista, o outro espião. Um é expansivo, o outro reservado. Um teve um regime assente no apoio popular, o outro tem um regime assente nos oligarcas. Um gosta de banhos de multidão, o outro refugia-se por detrás das grossas muralhas do Kremlin.
Ambos parecem partilhar, porém, a sede de poder. Quando atingiu o limite de mandatos, Putin delegou o seu cargo a um homem de confiança, Medvedev. Lula fez algo muito parecido: saiu de cena para dar lugar à sua “herdeira”, Dilma Rousseff, cujo pai tinha militado no Partido Comunista Búlgaro. Só que as coisas não correram como esperavam. Dilma acabou deposta e Lula preso. Mas por pouco tempo. Em março de 2021 foi libertado. Em abril o Supremo Tribunal Federal anulou todas as condenações.
Agora é favorito à vitória nas presidenciais de outubro. Com alguma sorte, ainda vai conseguir estar tantos anos no poder como Putin.