25/09/2023
 
 

A noite que abre e fecha

Quero acreditar que este abre e fecha chegou ao fim mas nunca fiando. E como “o seguro morreu de velho” imagino que os mais novos não queiram deixar para depois o que podem fazer já

Esta sexta reabrem os bares e as discotecas depois de mais um encerramento coercivo, que durou três semanas, e que lhes fez perder (depois de tudo o que têm passado) “só” duas das melhores noites de faturação do ano. O Natal e a Passagem de Ano. No tempo em que estiveram abertos, num género de “ponho o carro, tiro o carro à hora que eu quiser” num abre e fecha da parte do Governo, o que pude constatar em relação às regras foi mais do mesmo. Uns cumpriram mais, outros menos, houve quem fechasse os olhos e quem fosse rígido (já assim era antigamente até com a questão das idades à porta). Vi gente preocupada com os contactos e os que depois de um copo se estavam a borrifar para a covid-19. Mas vi sobretudo pessoas ávidas por recuperar alguma da normalidade perdida e com uma necessidade premente de diversão e de conseguir por umas horas esquecer tudo o que temos vivido nos últimos dois anos.

Este regresso significará por isso antes de mais uma oportunidade para quem precisa de se distrair e para quem gosta de socializar e não abdica de sair à noite para beber um copo, dançar ou simplesmente meter a conversa em dia com os amigos. Espero assim mais uma avalanche de filas para entrar e uma inundação das ruas pela população mais jovem, sedenta de viver e que já não aguenta mais ter que beber às escondidas ou em festas ilegais. É valha a verdade, tremendamente justo. Parece que nos últimos tempos ganha quem prevarica e lixa-se quem cumpre a lei. Talvez se escreva mesmo direito por linhas tortas e este mês de janeiro, habitualmente fraco, ajude a recuperar alguma das voltas em atraso.

Há quem defenda que nos devíamos infetar todos ao mesmo tempo e que esse tempo é agora enquanto a variante é menos lesiva para a saúde. Se assim for as discotecas (meio a sério meio a brincar) podem ser esse veículo que assegure tal propagação da variante soft que ajude a resolver de vez esta pandemia. A verdade é que vamos assistindo a dias consecutivos com 30 e tal mil casos e desta vez não podem colocar as culpas nos mesmos de sempre, porque esses continuam encerrados. E continuam encerrados porque é fácil de os encerrar, não contam para nada, não têm voz nem se organizam porque as festas de Natal e de Passagem de Ano continuaram a existir um pouco por todo o lado. Por todo o lado menos em bares e discotecas.

Quero acreditar que este abre e fecha chegou ao fim mas nunca fiando. E como “o seguro morreu de velho” imagino que os mais novos não queiram deixar para depois o que podem fazer já. Esperam-se assim já hoje, novas enchentes e o regresso da vida boémia e noturna às cidades. E que falta fazem. Quanto às regras, só mesmo quem nunca foi a uma discoteca é que pode achar que podem ser realizados auto-testes à porta. Seria bonito de ver a quantidade de pessoas necessárias para fiscalizar dois e três mil miúdos a enfiarem a zaragatoa no nariz uns dos outros e a brincarem com o reagente misturando para lá shots e cerveja. Que volte a festa, que regresse a magia e que se espalhe a diversão. Como diria o Dj brasileiro Gui Boratto, “there is no turning back”.

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