Papel higiénico #toiletpapergate, stresse e o (des)controlo
A loucura do papel higiénico conseguiu infetar mais pessoas do que o coronavírus. Em fevereiro, o Japão já tinha esgotado o papel higiénico na maioria das superfícies comercias. Não foi preciso um mês para que o fenómeno alastrasse pelo resto do mundo. Inês António trabalhou num supermercado durante a pandemia e contou ao i que as “prateleiras estavam sempre vazias”. Mas o que justifica a busca por este objeto específico? Foram vários os especialistas que se chegaram à frente com uma explicação. Niki Edwards, da Escola de Saúde Pública e Serviço Social da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, explicou ao Fórum Económico Global que o papel higiénico simboliza “controlo”. Brian Cook, da Universidade de Melbourne, no mesmo país, referiu a busca de papel higiénico como uma reação ao stresse. Como o papel higiénico é um objeto que ocupa um grande volume, as pessoas não costumam ter um grande stock e aproveitaram este “caos” para se abastecerem para mais tempo. Nas plataformas online foi visível a procura pelo tão simples objeto. Tanto que na plataforma Gumtree, um pack de papel higiénico com um valor aproximado de 4 euros passou a custar 800. Também a hashtag #toiletpapergate fez furor no Twitter, incentivando outros ao açambarcamento. O fenómeno do mimetismo é aqui usado por cientistas para explicar o poder que as redes sociais tiveram em incentivar a “corrida ao papel higiénico”.
Máscaras e viseiras. Os voluntários que as criaram e os polícias que não as tiveram
Têm sido a proteção de todos e uma mais-valia para fugir da covid-19. No início da pandemia em Portugal, em março, houve pessoas que se voluntariaram para a criação de máscaras e viseiras quando ainda não as havia suficientes no mercado. Utilizaram máquinas de costura para cosê-las e utilizá-las para proveito próprio, e até impressoras 3D, com o objetivo de ajudar os profissionais de saúde e entidades que necessitavam de proteção. Mas também houve quem precisasse delas e não as tivesse gratuitamente. Vários agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) tiveram de comprar as suas máscaras, com alguns deles a irem para a fiscalização nas estradas apenas de viseira. Ao i, o vice-presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP/PSP), Jorge Rufino, revelou que “alguns agentes compraram e suportaram o custo do próprio bolso” e que, ainda em novembro, andavam com “o coração nas mãos”. Atualmente, diz, continua a ser muito pouco o material que é entregue nas esquadras. Ora, foi em finais de outubro que a utilização da máscara passou a ser obrigatória na rua, salvo exceções. E a partir desse momento foi ainda mais importante conhecer os tipos existentes e as respetivas funções: os respiradores – não reutilizáveis e recomendados para os profissionais de saúde –, as máscaras cirúrgicas – evitam a transmissão dos agentes infecciosos por parte de quem as usa – e ainda as máscaras não cirúrgicas, ou seja, comunitárias, têxteis ou sociais, que também previnem a transmissão da covid-19.
Álcool-gel. Assaltos a automóveis abastecidos com desinfetante
“Houve um dia que me esqueci de trancar o carro e roubaram-me o terço e álcool em gel”, começa por contar ao i Amândio Martins. O sexagenário explica que a situação insólita aconteceu “em plena luz do dia”, quando se esqueceu de trancar o carro. “Estacionei nas traseiras do meu prédio e estava a levar as compras para cima. Quando ia a caminho reparei que me tinha esquecido de trancar o carro mas, como podia trancar com o comando através da janela de casa, continuei a andar. Aquele espaço de tempo de três ou quatro minutos foi suficiente para me abrirem o carro e roubarem um terço, o isqueiro e álcool em gel”. A partir do momento em que as entidades de saúde aconselharam o uso de álcool para proceder à desinfeção das mãos, o stock das farmácias esgotou-se. A oferta começou a ser cada vez maior: além do álcool em gel tradicional, acrescentaram-se modelos com cheiros ou até mesmo brilhantes. O formato em toalhita desinfetante também foi rápido a esgotar-se. Em algumas cadeias de supermercados passou a ser imposto um limite máximo para as quantidades que eram permitidas comprar de cada vez. Isabel Roque trabalha num desses espaços comerciais e contou ao i que “se aparecesse alguém a dizer que queria comprar para a avó, por exemplo, éramos obrigados a dizer que tinha de dividir os produtos em duas compras diferentes”. Em suma: a procura foi tanta que até garrafeiras tiveram de ajudar na produção.
Ventilador. A necessidade aguça o engenho: a história do minivent
Desde o início da pandemia, os portugueses perceberam que um ventilador pode constituir a diferença entre a vida e a morte de um paciente infetado com o novo coronavírus, pois trata-se de uma pequena máquina que é utilizada para auxiliar a respiração de pessoas com doenças respiratórias graves que têm impacto nos pulmões como a pneumonia ou, mais recentemente, a covid-19. No entanto, já houve tempos em que a escassez desta máquina era tão grande que acabou por conduzir à criação do MiniVent, o ventilador minimalista. “Se não houver um ventilador, as pessoas vão morrer”, pensou Luís Gil, professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, juntando-se a Pedro Póvoa, diretor da Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital de São Francisco Xavier, a Telmo Santos, professor associado da instituição anteriormente referida, e a outros 21 investigadores portugueses para desenvolver modelos minimalistas de ventiladores com recurso a impressão 3D. Sublinhe-se que, apenas em duas semanas, prepararam uma prova de conceito de um ventilador de emergência. Ainda que os investigadores desejem que “a pandemia seja degolada”, importa referir que o MiniVent tem um custo de produção inferior a mil euros e “poderá vir a fazer uma diferença significativa em países onde não existam estes equipamentos, independentemente da evolução da pandemia”.
Zaragatoa. O cotonete gigante que faz chorar
Até chegar a pandemia do novo coronavírus, o termo zaragatoa era praticamente desconhecido. De acordo com o dicionário da Priberam, a zaragatoa “consiste numa esponja ou numa porção de outro material absorvente na extremidade de uma haste, usado para aplicar medicamentos ou recolher amostras para análise, geralmente na zona da garganta e das fossas nasais”. No entanto, o termo “cotonete grande” foi também bastante usado. As reviews depois de se fazer o teste de PCR percorreram toda uma escala que ia de “quase não senti” até “chorei”. Margarida Oliveira tem 12 anos e fez o teste uma vez, depois de ter contactado com pessoas que tinham sido infetadas pelo novo coronavírus. A jovem confessa ao i que já se sentia nervosa mesmo antes de entrar, visto que ouviu relatos de amigas “que contaram que tinha doído muito”. Antes de se ver com a zaragatoa dentro do nariz, “já tinha os olhos cheios de lágrimas”. Mas depois percebeu que tinha sentido uma ansiedade desnecessária: “Quando fui para a segunda narina já me estava a rir e a pensar que tinha ficado nervosa sem razão nenhuma”. Mas nem todos os relatos são de “ansiedades desnecessárias”. Carolina Vital fez o teste três vezes e em todas elas sentiu “tipos de desconforto diferentes”. Da primeira assustou-se com o tamanho, mas não sentiu nenhuma dor. Na última, “a enfermeira demorou imenso tempo a conseguir e disse que eu tinha o septo desviado”.
Vacina. Da incerteza ao triunfo da investigação científica
Em março, a covid-19 era uma doença quase desconhecida. Na internet proliferavam notícias com títulos como“Saiba tudo sobre o coronavírus”, sendo feitas tentativas de elucidar os internautas acerca dos sintomas, do período de incubação, da transmissão e do tratamento da covid-19. Em dezembro estão a ser desenvolvidas mais de cem vacinas contra a doença, encontrando-se oito na terceira fase de triagem. No passado domingo, a vacina da Pfizer-BioNTech chegou a Portugal – no âmbito da entrega do primeiro lote, que contemplava 9750 doses – e começou a ser administrada aos profissionais de saúde. António Sarmento foi o primeiro a recebê-la. “Tenho uma grande esperança na vacinação e encaro-a com toda a tranquilidade”, explicou o diretor do serviço de doenças infecciosas do Hospital de São João, no Porto, poucas horas após ter sido vacinado contra a covid-19. O médico, de 65 anos, que integrou o gabinete de crise da Ordem dos Médicos para lidar com o novo coronavírus, é um dos mais experientes infeciologistas do país. “Nunca corri atrás da vacina. Sei que há um plano nacional de vacinação e aceitei ser inoculado. Mas se me tivessem chamado daqui a uma semana, iria com a mesma tranquilidade”, asseverou o também professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que recebeu a vacina na zona K5 que, habitualmente, está reservada às consultas externas do hospital.
Acrílico e fitas de segurança. O hábito da proteção e de estar afastado
Antes de a pandemia de covid-19 se instalar em Portugal não existia qualquer entrave para se entrar em estabelecimentos. Mas o vírus fez com que vários obstáculos fizessem parte do nosso dia-a-dia. O acrílico começou a ser colocado nas empresas, com o objetivo de travar a propagação do vírus pelo contacto direto entre pessoas, e as fitas protetoras de segurança tornaram-se uma barreira para garantir o distanciamento mínimo necessário. Ao i, Clarinda Almeida, rececionista do Centro de Psicologia e Desenvolvimento da Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, sublinhou que no início “estranhou um pouco o acrílico” mas, à medida que o tempo foi passando, acabou por se habituar. “Agora, já não sinto estranheza nenhuma. É tudo uma questão de hábito”, começou por dizer, acrescentando que os clientes se têm adaptado “muito bem” à situação desde o início da pandemia, em março, cumprindo todas as regras impostas pela Direção-Geral da Saúde. “Onde as pessoas tiveram mais dificuldade foi quando faziam o pagamento, porque o acrílico tem uma abertura por onde passam os cartões multibanco e as pessoas não estavam habituadas a isso”, contou. Agora, tanto o acrílico como as fitas de segurança são como as máscaras. “Já estamos tão habituados que cumprimos as regras já sem dar conta que a sinalização e as fitas estão ali. Não é preciso fazer como no início da pandemia, em que tínhamos de pensar duas vezes antes de fazer as coisas”, rematou.
Mochila de estafeta. “Parecia que estávamos num filme em que a personagem é retratada numa cidade fantasma”
Os estafetas não eram desconhecidos. Afinal, pelas horas das refeições principais é habitual vê-los circular com mochilas e malas, dirigindo-se a casa de quem solicita os seus serviços de mota, carro, bicicleta e até trotineta. No entanto, trabalhando para as empresas com serviço de entrega ao domicílio, viram a sua carga de trabalho aumentar com o surgimento da covid-19. Aos restaurantes e cafés juntaram-se novos negócios como farmácias, tendo havido um grande boom nestes serviços no primeiro estado de emergência. “Parecia que estávamos num filme em que a personagem é retratada numa cidade fantasma”, começou por explicar Christian Boele, de 23 anos, estafeta da Uber Eats, acrescentando que “é muito estranho entrar num shopping e vê-lo vazio e sem luzes, percebendo que nem sequer os elevadores ou as escadas rolantes estão a funcionar”. Para o jovem, que considera que “as estradas, para os estafetas, pareciam pistas” e que realizou mais de 1000 entregas, “tudo se pede pela Uber”, mas a entrega menos usual que fez “foi a de pensos higiénicos”. Relativamente aos pedidos mais habituais, diria que “se notou a elevada procura de bebidas alcoólicas, visto que a venda ao público estava proibida na maior parte das horas”. Ainda que existam “clientes supersimpáticos que desejam bom trabalho e não fecham a porta até o estafeta ir embora”, o rapaz admite que “há quem não expresse qualquer emoção ou gratificação” pelos trabalhadores. “Um estrangeiro com uma vida mais modesta vê a entrega como um sacrifício para o estafeta e dá-lhe uma moeda mais depressa do que alguém com dinheiro que, muitas das vezes, vê a entrega como uma simples obrigação”.
Fermento de padeiro/pão. O pão nosso de cada dia feito no conforto do lar
Muitos foram os que procuraram atividades para se entreterem durante o confinamento obrigatório. Entre elas esteve a culinária. Que atire a primeira pedra quem não experimentou uma receita nova pela primeira vez durante a quarentena. Uma dessas pessoas foi Catarina Alves, de 22 anos. A sua maior ocupação era o mestrado e agora via-se a ter aulas em casa apenas durante algumas horas em alguns dias da semana. Com tanto tempo livre, começou a fazer o seu próprio pão: “Por um lado, queríamos experimentar uma coisa nova e, por outro, queríamos ir o menos possível ao supermercado”, explica a estudante. A partir de abril deixou de comprar pão e na altura prometeu que essa seria uma mudança definitiva. No entanto, não conseguiu cumprir e confessa que tem três pacotes de fermento de padeiro “perdidos na despensa”.
Foram vários os supermercados que reportaram o aumento da procura e, consequentemente, o esgotamento do stock. Inês António, ex-funcionária de uma cadeira comercial, conta que “em meados de abril, a procura pelo fermento de padeiro era imensa” e que rapidamente se esgotou. Já Daniela Martins viu-se obrigada a ir comprar fermento de padeiro ao talho porque em todos os supermercados regulares onde ia estava esgotado. Também os vídeos nas redes sociais a ensinar a fazer pão sofreram um grande aumento. Inclusivamente, a atriz Paula Neves partilhou a sua experiência no YouTube.
Portátil/tablet/telemóvel + plataformas. Dos momentos lúdicos ao ensino à distância
Se, antes de a covid-19 chegar a Portugal, os meios digitais já eram muito utilizados, com a pandemia redobraram de importância. Uma vez que o contacto entre pessoas passou a ser muito limitado, os computadores portáteis, os tablets e os telemóveis passaram a ter um papel preponderante no convívio, que deixou de ser social para se tornar virtual. No Instagram foram muitas as pessoas que optaram por “encurtar a distância” através de diretos. Mas, fora do contexto lúdico, o ensino também teve de se adaptar, com a utilização de várias plataformas online: o Skype, o Zoom e o WhatsApp, entre outras, ganharam inevitavelmente poder. Nas escolas, por exemplo, foi através de plataformas e emails que os professores de escolas públicas de norte a sul do país contactaram com os alunos durante o confinamento, em que foi adotado o Estudo em Casa. Em alguns casos foram enviadas fichas de trabalho aos alunos para fazerem em casa, noutros, realizadas aulas online – em grupo ou individuais – e houve ainda os que se socorreram de plataformas de e-learning, como a Escola Virtual, para auxiliar no ensino à distância. A Escola Básica de Telheiras, do Agrupamento Vergílio Ferreira, em Lisboa, foi um desses exemplos e, apesar de não existir um plano concertado, alguns professores tentam reunir o máximo possível de material para enviar aos alunos. Ao i, Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), revelou que os docentes adotaram estratégias diversas para chegarem aos alunos.
Emojis covid. O poder das imagens em situações-limite
Recorrer à utilização de emojis – de origem japonesa, a palavra é composta pela junção dos elementos e (imagem) e moji (letra) – para transmitir ideias sobre saúde ou doença não é novo. Por exemplo, em 2018, o mosquito foi introduzido na lista destes pictogramas para ilustrar o zika. Porém, desde o surgimento da covid-19 – com a alteração do paradigma das relações interpessoais –, os emojis ganharam um relevo mais acentuado. De acordo com o estudo “COVID-19 and the Gendered Use of Emojis on Twitter: Infodemiology Study” – para o qual os investigadores recolheram 50 milhões de tweets da rede social Twitter em que eram incluídas as hashtags #Covid-19 e #Covid19 – foram utilizados, em grande escala, emojis relacionados com hospitalização, serviços médicos, ambulância em marcha de emergência, medicamentos e seringas. Durante os meses de março e abril também foram tweetados muitas vezes os emojis que incluem a máscara e os micróbios, assim como “uma sequência de emojis que fornecem diretrizes sociais específicas, como não espirrar na mão ou manter contacto social com o devido distanciamento”, como é possível ler na publicação. Por outro lado, existem fenómenos que importa realçar, como o facto de as mulheres no Equador, em junho, terem começado a trocar mensagens codificadas, por meio de emojis, pedindo auxílio para escapar à violência doméstica. A título de exemplo, o emoji do cesto vermelho é considerado um pedido de ajuda.
Termómetro. Esgotado na capital
A data da sua criação remonta ao séc. xvi e presume-se que o seu inventor tenha sido Galileu Galilei. Apesar de ser um visionário, de certeza que nunca imaginou que o objeto a que deu vida teria tanta procura que esgotaria em toda a capital portuguesa. Quem o diz é Vanessa Domingos. A jovem de 29 anos conta ao i sobre o dia em que saiu de casa “para comprar um termómetro e em todos os sítios onde fui estavam esgotados”. Vanessa admite que se viu obrigada a deixar a procura para outro dia. Por outro lado, Jorge Martins teve uma experiência diferente: quando deu por si tinha quatro termómetros diferentes em casa. “Já tínhamos os ditos normais para colocar debaixo do braço”, começa o pai de duas filhas, “mas como queríamos ter a certeza de que media bem, comprámos um para medir no ouvido e na testa. Passado um mês ou dois comprámos mais um, desta vez com infravermelhos, que basta colocar perto da testa para medir a temperatura”. Jorge admite que, devido a ter crianças em casa, sentiu “uma grande necessidade de ter um aparelho que fosse eficaz e preciso”. Os termómetros de mercúrio fazem hoje parte de um passado distante para a maioria dos jovens, que se recordam de vê-los nas gavetas das casas dos avós. Já não é necessário esperar cinco minutos com o pequeno cilindro preso debaixo do braço. Hoje, o pai substituiu o “aperta bem e não te mexas” pelo apontar de uma espécie de pistola à testa do filho.
Halteres/Tapete de Ioga (exercício em casa). Os treinos online como alternativa
Com a pandemia de covid-19, os ginásios fecharam portas no período crítico do confinamento, durante cerca de três meses, e as pessoas começaram a ter de fazer exercício físico em casa. As garrafas de água de litro e meio substituíram os halteres e as salas de estar das habitações transformaram-se em locais para exercitar o físico. Estendiam-se tapetes de ioga. A vida saudável continuou para aqueles que não se desleixaram, mas os receios apoderaram-se de quem trabalhava nos ginásios. Foi preciso pensar em alternativas e em recursos para continuar a faturar. Ex-futebolista e agora personal trainer, Patrick Costinha revelou ao i que, na altura de encerramento dos estabelecimentos, houve uma boa adesão ao digital, tendo dado aulas através da internet. “Inicialmente tive um pouco de receio, não relativamente à utilização dos treinos online, mas sim em relação aos meus alunos, que poderiam estar habituados a fazer o treino ao vivo e não aderir tanto”, explicou, ressalvando, porém, que foi “tudo muito bom”, com as pessoas a gostarem de ter aulas através dos meios tecnológicos. Sublinhou, no entanto, que não via a parte digital como “concorrente direta” dos ginásios. E acertou em cheio. Agora, apesar da redução da lotação nestes estabelecimentos, o i sabe que as pessoas não têm deixado de comparecer nos ginásios para fazer o seu exercício físico diário. Contudo, para o setor do fitness, este ano foi também para esquecer, com uma quebra da faturação que poderá ser superior a 50%, segundo a All United Sports, que se dedica à gestão de ginásios e health clubs.
Sapatos à porta de casa e tapetes desinfetantes. O receio de poder levar o vírus no calçado
A covid-19 entrou em muitas casas de famílias portuguesas e, como todo o cuidado é pouco, há quem tenha comprado tapetes desinfetantes e também quem não largue o hábito de deixar os sapatos à porta de casa para prevenir o contágio. Algumas entidades de saúde falam mesmo sobre o facto de o vírus poder depositar-se no calçado e originar um foco de infeção nas habitações. Por isso, mais vale prevenir do que remediar. Ao i, David Canaveira, que reside no concelho de Vila Franca de Xira, sublinhou que, numa fase inicial, colocava os sapatos à porta como forma de precaução, mas à medida que o tempo foi passando deixou de o fazer com tanta frequência. “Deixava os sapatos logo à entrada por causa da covid-19, mas o que dizem agora é que a probabilidade de se contrair o vírus assim é quase nula”, disse, reforçando que, nos tempos que correm, o conhecimento que se tem sobre o vírus é diferente e mais consolidado, o que também dá mais confiança para se lidar com ele. A Organização Mundial da Saúde (OMS), recorde-se, foi uma das entidades a aconselhar que se deixasse o calçado à porta de casa como medida de prevenção, até mesmo em casos onde haja crianças, por exemplo, a gatinhar. No entanto, ressalvou que a probabilidade de o vírus se propagar e infetar pessoas através dos sapatos é muito reduzida. Apesar de tudo, os tapetes desinfetantes surgiram e tornaram-se um objeto reconfortante para quem tem estes receios.
Máquinas de café. A companhia inusitada dos mais solitários
Entre os séculos xv e xvii, especialmente na Turquia, o café era preparado como qualquer outra infusão, na chamada chaleira de Bagdade. No entanto, foi em França, no ano de 1802, que surgiu a primeira máquina de café, inventada pelo farmacêutico François-Antoine-Henri Descroizilles, que teve a ideia de unir dois recipientes metálicos que comunicavam entre si através de um coador. Deste modo, quando a água era fervida, o vapor libertado ascendia ao recipiente superior, podendo ser extraídos a essência, a cor e o sabor do café. À época, a invenção recebeu o nome de Caféolette. Hoje, Ana Maria (nome fictício), de 57 anos, não detém a máquina que prometia “fazer café como antigamente”, mas assume que se já era amante desta bebida antes do início da pandemia, a mesma tornou-se essencial – e transformou-se numa das suas grandes companhias – no decorrer do confinamento. “Não podia ver ninguém. Estava sozinha em casa. Por isso, ia tirando os meus cafezinhos na máquina e sentava-me à mesa da cozinha a bebê-los enquanto via televisão ou passeava pelo Facebook”, explicou a gerente de um restaurante na Grande Lisboa, que se viu confrontada com períodos de grande incerteza provocados pelos constrangimentos económicos da pandemia. “Mesmo quando já estava farta de ver as mesmas divisões da casa dias a fio, bebia um café para me sentir melhor. Pode parecer estranho, mas salvou-me da solidão, de certa forma”, confessou.
Cabazes. Frescura à distância de um clique
Sejam eles compostos por frutas e legumes, carne, peixe, produtos biológicos, vinhos e produtos gourmet ou solidários, os cabazes têm tido um lugar de destaque no contexto pandémico. Seguindo esta tendência, a Maria do Pomar nasceu no passado mês de julho, vendendo cabazes médios e grandes, familiares, fitness e até empresariais de frutas e legumes. “Tem sido sempre a crescer e, em janeiro, arrancamos o novo ano com mais parcerias para que tenhamos um leque mais abrangente de produtos, como sumos naturais, para que os clientes vejam a nossa marca como uma loja online de produtos naturais no seu todo”, explicou Marta Amador, de 21 anos, responsável de marketing da Maria do Pomar. A jovem juntou-se à equipa “por mero acaso, porque estavam à procura de alguém para a área comercial”, mas atualmente veste a camisola com todo o orgulho e recorda um episódio especial vivido em novembro. “Na Black Friday tivemos uma promoção de 20% de desconto no cabaz maior e não estávamos preparados para tanta procura”, confessou. “A campanha teve a duração de três dias no site, porém, no primeiro, a gerência teve de eliminar os anúncios pagos nas redes sociais porque não teria “produtos suficientes” para corresponder ao fluxo de encomendas. No Natal apostaram no cabaz Surpresa Natalícia. “Os clientes podiam personalizar as mensagens quando encomendavam cabazes para oferta e líamos mensagens como ‘Para o meu pai da sua filha querida’. Foi muito giro”, contou a jovem, que também explora a vertente de design da empresa que, há cerca de dois meses, expandiu as entregas a todo o país.
Janelas e cartazes. "Vai ficar tudo bem"
As escolas e as creches não reabriam e as crianças italianas faziam desenhos em casa. No entanto, aqueles que outrora podiam ter sido meros rabiscos ganharam um significado distinto com o confinamento, quando centenas de meninos e meninas desenharam cartazes e pintaram lençóis com a mensagem “Andrà tutto bene” (”Vai ficar tudo bem”), acompanhada de um arco-íris ou do contorno das mãos. Posteriormente eram pendurados nas janelas – o único acesso ao mundo para grande parte da população – ou partilhados pelos pais nas redes sociais. Além de ter constituído uma forma de ocupar o tempo, esta atividade levou a que nascesse uma mensagem de união e esperança. Esta começou a ser difundida em folhas, cartolinas e autocolantes um pouco por todo o lado, aparecendo em locais menos esperados, como nas montras de lojas. A iniciativa foi acolhida pelos portugueses, que a abraçaram na tentativa de transformar o início da pandemia num período de respeito pelas indicações das autoridades, mas também de compaixão. Transitando para o universo musical, a mensagem foi também adaptada pelos amigos Flávio Cristóvam, que escreveu e gravou a música no seu estúdio na Ilha Terceira, e Pedro Varela – responsável pela realização do videoclipe, com imagens a preto e branco onde se veem cidades vazias e pessoas com máscara, enquanto uma rapariga mostra partes da mensagem que o tema transmite, em várias línguas, escritas em folhas brancas.
Livros. A magia dos clubes de leitura
A importância da leitura tem vindo a ser debatida há muito. Sabe-se que contribui para a formação intelectual dos indivíduos, bem como para a promoção do entendimento no mundo e da imaginação ou para o aumento do vocabulário. Mas também pode constituir uma terapia, como ficou provado, em 2009, por um estudo da Universidade do Sussex, no Reino Unido, que chegou à conclusão de que ler diariamente por apenas seis minutos ajuda a diminuir o stresse em cerca de 68%.A criação de clubes de leitura nas redes sociais parece ser uma tendência que, além de provar que o amor aos livros se mantém vivo, contraria a ansiedade e a tristeza provocadas por contextos como o do confinamento. Beatriz Sertório, Inês Rebelo, Sónia Alves, Sónia Rodrigues Pinto e Raquel Bronze – com idades compreendidas entre os 25 e os 45 anos – deitaram mãos à obra e criaram o Clube B no passado mês de março. Objetivo? Promover a leitura de clássicos. “Este ano foi um bocadinho irregular, foi difícil, por vezes falhava a motivação e tínhamos muito trabalho, mas 2021 será diferente”, explicou Inês Rebelo. “Queremos que as pessoas se juntem ao clube e leiam connosco”, adiantou, acrescentando que as temáticas para cada mês já se encontram definidas. O género de janeiro será o crime, policial ou thriller, e qualquer pessoa pode entrar em contacto com estas leitoras através das contas de Instagram @booksthatmademe, @litterisorbis ou @soniaropinto.
Estantes. Mostra-me os teus livros, dir-te-ei quem és
Quando o confinamento alterou a realidade conhecida e conduziu ao distanciamento social obrigatório foram encontradas formas de reinventar as interações interpessoais, acontecessem elas por motivos profissionais ou por puro lazer. Nas videochamadas, um dos fenómenos que surgiram foi o da presença de estantes recheadas de livros no segundo plano da imagem. Esta situação não passou despercebida a Marcelo Cardoso, de 25 anos, que criou a página Game of Estantes – com presença nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram – no final de março. “A ideia surgiu num grupo de WhatsApp em que estava com alguns amigos a comentar a presença das estantes nas videochamadas dos comentadores dos telejornais. E pensei que seria interessante alguém pegar nisso e atribuir pontuações àqueles objetos”, explicou o jovem, que acabou por avançar com o projeto “por ser um grande fã de comédia e humoristas”, tentando atribuir um tom jocoso à página. No entanto, “não estava à espera de ter tanto alcance”, até porque, “no seu pico, a página teve 2 mil seguidores e as estatísticas do Facebook mostravam que a publicação com mais sucesso chegou a 45 mil pessoas”. Ainda que tenha deixado de publicar em abril “pela falta de tempo, tal como pela dificuldade em conseguir inovar”, não deixa de lembrar que, “particularmente no início da pandemia, quando não havia certezas de nada”, a página era o seu escape.
Videochamada. Microsoft reporta aumento de 1000% na plataforma Teams
Este foi um ano de descoberta tecnológica para uma grande parte da população. Impedidos de falar com os seus entes queridos de outra maneira, foram muitos os que começaram a fazer videochamadas. Quer fosse no WhatsApp, no Zoom ou no Teams, esta foi a maneira mais eficaz de pôr lado a lado pessoas que se encontravam em sítios distintos. Os mais velhos foram ensinados pelos mais novos a usar a mais recente tecnologia. Um exemplo disso foi o da escritora Alice Vieira: em entrevista ao B.I,, a escritora contou como o seu “neto emprestado” Nélson Mateus a ensinou a fazer videochamadas no Facebook e no Zoom. O próprio contou que “depois de ensinar a Alice fui para minha casa e, quando cheguei, ela já me estava a ligar a dizer que tinha feito uma videochamada”. Nélson contou o quão surpreso ficou quando ligou a televisão e viu Alice a falar através da plataforma Zoom num programa diário. Em muitos, o ensinar a usar teve mesmo de ir mais além e obrigou à compra de um novo smartphone. Helena Matias vive com os pais, de 79 e 83 anos. Para que pudessem conversar com a restante família, Helena comprou um telefone novo porque sentiu “que era muito importante que os meus pais falassem com as netas”. A plataforma Teams, por exemplo, pertencente à empresa Microsoft, sofreu um aumento de 1000% nas utilizações. Esta é uma plataforma que permite juntar vários grupos e fazer videochamadas.