E o pior ainda pode estar para vir…


Andamos sempre a correr atrás do prejuízo, com medidas muitas vezes ridículas como operações stop em vez de repreender muitos adolescentes que andam na rua sem máscara à porta das escolas secundárias.


1. O recrudescimento da pandemia tem por base um conjunto de situações que vão da inevitabilidade resultante da interação humana até à total e completa irresponsabilidade laxista. É óbvio que as coisas só podem melhorar rapidamente se houver um gigantesco esforço individual que se repercuta no coletivo. Se não se conseguir, a consequência humana e económica será ainda mais arrasadora. Sempre que um de nós falha põe em risco terceiros e pode gerar uma cadeia de contágios. A somar aos comportamentos pessoais, tem havido políticas erráticas, o que é agravado pelo facto de as terapias e vacinas não estarem perto de aparecer. O mundo e a Europa estão exaustos, saturados e falidos, o que torna as coisas ainda mais perigosas.

A entrevista do Presidente Marcelo e a longa e monótona comunicação de António Costa ao país, no sábado, não foram propriamente contributos para esclarecer as coisas e dar ânimo e confiança, mostrando segurança no leme. Falaram muito, mas fizeram pouco e sobretudo traduzem um sentimento de impotência face àquilo que está para vir e que se sabe que é pior do que temos hoje. Tanto Marcelo como Costa estiveram mal. Mais vale recorrer aos discursos claros com meia dúzia de folhas A4 para falar ao país do que aparecerem em comunicações e entrevistas desgarradas que mais parecem o confessionário de certos TV shows. Num país onde se copia tanta coisa bastava ver como procederam recentemente Boris Johnson, Macron e os dirigentes belgas para ter uma ideia do que é comunicar em situações de crise. Para alguma coisa existem as comunicações formais ao país. Na política temos sempre muita parra e pouca uva. No caso de Costa, o paradigma da desorientação foi o anúncio e o recuo na proibição de feiras. De duas, uma: ou era mesmo por causa da saúde pública e uma necessidade objetiva ou então houve um recuo político. Se foi um erro, tem de se perguntar se os ministros que estiveram a estudar medidas um dia inteiro estão minimamente à altura das suas responsabilidades. No caso de Marcelo, afinal, quais foram em concreto os erros de que se penitencia? Talvez não ter posto cá fora um caderno claro de exigências ao Governo que fosse para cumprir mesmo. Isso sim, fez falta.

Já se percebeu que boa parte do que depende do Estado central, das autarquias e do Governo falhou ou pode falhar, nomeadamente a capacidade de tratamento e a tal articulação com o setor social e privado. Estamos, portanto, novamente confrontados com a necessidade individual de achatar a curva epidémica, mas com mais doentes, com mais mortes e, proporcionalmente, a caminho de ter as mesmas carências de meios e gente. Perderam-se semanas sem definir formas de ação e agilizar os prazos de implantação para atos de emergência, por causa de uma classe política incapaz de adaptar as nossas leis à necessidade objetiva de defender a vida dos cidadãos em concreto. Se para tal fosse necessário alterar a Constituição, isso já deveria ter sido feito ou, pelo menos, tentado. E se houvesse exageros em medidas correntes haveria os tribunais para avaliar a legalidade dos atos, nomeadamente o Constitucional. Tudo isso deixa o cidadão comum excessivamente entregue a si próprio, sem confiar na máquina do Estado e na liderança do país, o que é péssimo, sobretudo num momento em que a crise económica, financeira e social se agrava, potenciando riscos de toda a ordem, designadamente para a segurança pública. Vamos agora a caminho de um estado de emergência light que já devia estar em vigor, se políticos eleitos, altos quadros do Estado e responsáveis a todos os níveis tivessem atuado em vez de ir a banhos no verão.

2. Aquilo a que se assistiu em dias úteis por parte da polícia e da GNR, originando longas filas de trânsito e demoras inaceitáveis, foi um exemplo de esforços absurdos. Passaram horas e gastaram dinheiro a interpelar automobilistas para, afinal, detetarem uma centena de casos, se tanto. Mas à porta dos colégios e liceus, privados ou públicos, não havia nem há hoje “cívicos” para chamar a atenção de adolescentes, entre os 13 e os 17 anos, para a falta de máscaras. Ora essa malta já tem obrigação de compreender certas coisas e deve ser chamada à pedra com veemência. Em várias zonas da capital, a anarquia nesses jovens era total. Polícias, nem vê-los. Exemplos desses tornam inúteis preleções como as que Marcelo e Costa produziram e como as que a ministra Temido e a diretora-geral da Saúde fazem diariamente – isto enquanto no terreno se verifica a existência de critérios diferentes de encaminhamento que são chocantes, por exemplo, o que se passa em Lisboa (onde há, normalmente, rigor e lógica) e em Setúbal, onde se verificam contradições sistemáticas perigosas para utentes sujeitos a ordens e contraordens. Há situações que evoluem da indicação de confinamento à autorização de circular, em menos de duas horas, em relação à mesma pessoa, sem que ela seja testada. Acontece também em lares, onde há idosos que testaram positivo, vendo o seu isolamento na unidade quebrado ao fim de dez dias sem serem novamente avaliados. Afinal, o que é isto?

3. Responsável máximo pelo estado de bandalheira que deixou na segurança social e no Montepio, que tutelava, o ex-ministro José Vieira da Silva vai agora ser consultor do comissário europeu da área do Emprego e Direitos Sociais. É legítimo esperar-se o pior, dadas as raríssimas vezes que a criatura produziu coisas positivas para terceiros que não os membros do seu vasto clã. A filhota Mariana, uma experiente ministra de Estado e da Presidência, passou há dias a ser uma espécie de babysitter da ministra Ana Mendes Godinho, que precisamente tutela a Segurança Social. Ele há cada uma!!!

 

Escreve à quarta-feira


E o pior ainda pode estar para vir…


Andamos sempre a correr atrás do prejuízo, com medidas muitas vezes ridículas como operações stop em vez de repreender muitos adolescentes que andam na rua sem máscara à porta das escolas secundárias.


1. O recrudescimento da pandemia tem por base um conjunto de situações que vão da inevitabilidade resultante da interação humana até à total e completa irresponsabilidade laxista. É óbvio que as coisas só podem melhorar rapidamente se houver um gigantesco esforço individual que se repercuta no coletivo. Se não se conseguir, a consequência humana e económica será ainda mais arrasadora. Sempre que um de nós falha põe em risco terceiros e pode gerar uma cadeia de contágios. A somar aos comportamentos pessoais, tem havido políticas erráticas, o que é agravado pelo facto de as terapias e vacinas não estarem perto de aparecer. O mundo e a Europa estão exaustos, saturados e falidos, o que torna as coisas ainda mais perigosas.

A entrevista do Presidente Marcelo e a longa e monótona comunicação de António Costa ao país, no sábado, não foram propriamente contributos para esclarecer as coisas e dar ânimo e confiança, mostrando segurança no leme. Falaram muito, mas fizeram pouco e sobretudo traduzem um sentimento de impotência face àquilo que está para vir e que se sabe que é pior do que temos hoje. Tanto Marcelo como Costa estiveram mal. Mais vale recorrer aos discursos claros com meia dúzia de folhas A4 para falar ao país do que aparecerem em comunicações e entrevistas desgarradas que mais parecem o confessionário de certos TV shows. Num país onde se copia tanta coisa bastava ver como procederam recentemente Boris Johnson, Macron e os dirigentes belgas para ter uma ideia do que é comunicar em situações de crise. Para alguma coisa existem as comunicações formais ao país. Na política temos sempre muita parra e pouca uva. No caso de Costa, o paradigma da desorientação foi o anúncio e o recuo na proibição de feiras. De duas, uma: ou era mesmo por causa da saúde pública e uma necessidade objetiva ou então houve um recuo político. Se foi um erro, tem de se perguntar se os ministros que estiveram a estudar medidas um dia inteiro estão minimamente à altura das suas responsabilidades. No caso de Marcelo, afinal, quais foram em concreto os erros de que se penitencia? Talvez não ter posto cá fora um caderno claro de exigências ao Governo que fosse para cumprir mesmo. Isso sim, fez falta.

Já se percebeu que boa parte do que depende do Estado central, das autarquias e do Governo falhou ou pode falhar, nomeadamente a capacidade de tratamento e a tal articulação com o setor social e privado. Estamos, portanto, novamente confrontados com a necessidade individual de achatar a curva epidémica, mas com mais doentes, com mais mortes e, proporcionalmente, a caminho de ter as mesmas carências de meios e gente. Perderam-se semanas sem definir formas de ação e agilizar os prazos de implantação para atos de emergência, por causa de uma classe política incapaz de adaptar as nossas leis à necessidade objetiva de defender a vida dos cidadãos em concreto. Se para tal fosse necessário alterar a Constituição, isso já deveria ter sido feito ou, pelo menos, tentado. E se houvesse exageros em medidas correntes haveria os tribunais para avaliar a legalidade dos atos, nomeadamente o Constitucional. Tudo isso deixa o cidadão comum excessivamente entregue a si próprio, sem confiar na máquina do Estado e na liderança do país, o que é péssimo, sobretudo num momento em que a crise económica, financeira e social se agrava, potenciando riscos de toda a ordem, designadamente para a segurança pública. Vamos agora a caminho de um estado de emergência light que já devia estar em vigor, se políticos eleitos, altos quadros do Estado e responsáveis a todos os níveis tivessem atuado em vez de ir a banhos no verão.

2. Aquilo a que se assistiu em dias úteis por parte da polícia e da GNR, originando longas filas de trânsito e demoras inaceitáveis, foi um exemplo de esforços absurdos. Passaram horas e gastaram dinheiro a interpelar automobilistas para, afinal, detetarem uma centena de casos, se tanto. Mas à porta dos colégios e liceus, privados ou públicos, não havia nem há hoje “cívicos” para chamar a atenção de adolescentes, entre os 13 e os 17 anos, para a falta de máscaras. Ora essa malta já tem obrigação de compreender certas coisas e deve ser chamada à pedra com veemência. Em várias zonas da capital, a anarquia nesses jovens era total. Polícias, nem vê-los. Exemplos desses tornam inúteis preleções como as que Marcelo e Costa produziram e como as que a ministra Temido e a diretora-geral da Saúde fazem diariamente – isto enquanto no terreno se verifica a existência de critérios diferentes de encaminhamento que são chocantes, por exemplo, o que se passa em Lisboa (onde há, normalmente, rigor e lógica) e em Setúbal, onde se verificam contradições sistemáticas perigosas para utentes sujeitos a ordens e contraordens. Há situações que evoluem da indicação de confinamento à autorização de circular, em menos de duas horas, em relação à mesma pessoa, sem que ela seja testada. Acontece também em lares, onde há idosos que testaram positivo, vendo o seu isolamento na unidade quebrado ao fim de dez dias sem serem novamente avaliados. Afinal, o que é isto?

3. Responsável máximo pelo estado de bandalheira que deixou na segurança social e no Montepio, que tutelava, o ex-ministro José Vieira da Silva vai agora ser consultor do comissário europeu da área do Emprego e Direitos Sociais. É legítimo esperar-se o pior, dadas as raríssimas vezes que a criatura produziu coisas positivas para terceiros que não os membros do seu vasto clã. A filhota Mariana, uma experiente ministra de Estado e da Presidência, passou há dias a ser uma espécie de babysitter da ministra Ana Mendes Godinho, que precisamente tutela a Segurança Social. Ele há cada uma!!!

 

Escreve à quarta-feira