
O brutal acidente de Vicente Lucas não deixou de ocupar primeiras páginas de jornais. Deixou-o praticamente cego de um olho e pôs fim à sua carreira impecável. Em entrevistas, Vicente alimentava a esperança, mas o seu oftalmologista não conseguia ser otimista em relação ao futuro.
Eis o país preocupado. Nem com a fome nem com a guerra, nem com a prisão nem com a tortura, como escreveu Ary dos Santos, mas com Vicente, o grande Vicente, jogador do Belenenses, irmão de Matateu, herói dos Magriços em Inglaterra, no Mundial de 1966, e o único defesa do mundo que a imprensa reconhecia ecumenicamente ser capaz de secar Pelé sem fazer uma única falta.
Não se ponham já por aí a apepinar a notícia de primeira página: “A Recuperação de Vicente!” Além de um defesa central do quilé, Vicente Lucas era empregado da firma J. Coelho e Pacheco, especialista na venda de carros da marca Hillman. A carreira no futebol tinha sido brutalmente interrompida. Passar aos negócios foi a solução, da qual se queixava: “Ainda não estou habituado a isto. Preciso de tempo”. Precisava de tempo para voltar a jogar, isso sim. Algo que, infelizmente para todos, fossem de que clube fossem, não voltaria a acontecer. “Enfim, o bom nome que deixei no futebol tem-me ajudado a atrair clientes”, acrescentava. “Ao menos isso. Sinto que fiz algo que as pessoas valorizaram”.
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