
Depois de levar os Toronto Raptors a um inédito título, o extremo mudou-se para Los Angeles e foi já instrumental na vitória no dérbi com os Lakers, também eles de cara lavada.
Quase três meses e meio depois do jogo 6 das finais de 2018/19, que coroou os Toronto Raptors como campeões inéditos, a NBA está de volta. A franquia canadiana abriu as hostilidades na última madrugada, vencendo os New Orleans Pelicans (130-122 após prolongamento), e logo depois houve lugar ao primeiro clássico da nova temporada, a opor os dois conjuntos de Los Angeles: Lakers e Clippers.
Aqui, ficou bem patente que 2019/20 marcará o início de uma nova ordem na principal liga de basquetebol no mundo. Depois de décadas a viver na sombra dos Lakers – ainda nunca conseguiram, sequer, chegar a uma final de Conferência –, os Clippers, pela mão do seu dono, o milionário Steve Ballmer, decidiram apostar forte e contrataram dois verdadeiros pesos-pesados no último verão: Kawhi Leonard, MVP (Jogador Mais Valioso) das finais na última temporada, e Paul George, o terceiro melhor da fase regular ao serviço dos Oklahoma City Thunder.
E logo no primeiro jogo oficial se viu que vai mesmo ser preciso contar com o “parente pobre” de Los Angeles este ano: os Clippers venceram por 112-102, com Kawhi Leonard a assumir-se desde logo como o grande destaque da equipa, acumulando 30 pontos, seis ressaltos e cinco assistências.
muitas novidades Não foram só os Clippers, todavia, a assumir essa estratégia de apostar numa dupla de elite para liderar a equipa. Na verdade, essa parece ter sido a ideia de quase todas as grandes franquias no último defeso – no caso dos Lakers, por exemplo, Anthony Davis chegou dos Pelicans para se juntar a LeBron James, na tentativa da franquia californiana de voltar aos playoff – um objetivo que já fracassa há seis temporadas consecutivas.
É, pois, de esperar uma fase regular muito forte das duas equipas de Los Angeles, em contraste claro com os Golden State Warriors: gorada a possibilidade de conseguir o tão desejado tricampeonato, o conjunto que se mudou de Oakland para São Francisco viu sair Kevin Durant para os Brooklyn Nets e Andre Iguodala para os Memphis Grizzlies, tendo ainda de esperar por fevereiro para voltar a contar com Klay Thompson. É verdade que mantém Stephen Curry e recebeu D’Angelo Russell na troca por Durant, mas parece óbvio que os campeões de 2015, 2017 e 2018 terão de batalhar arduamente para voltar ao topo.
Ainda a Oeste, atenção também ao que fizeram os Houston Rockets, juntando Russell Westbrook, o senhor triplo-duplo, e James Harden, no que é uma reedição da dupla que coexistiu durante três anos nos Oklahoma City Thunder – que receberam Chris Paul em troca. E depois há os New Orleans Pelicans e a sua joia da coroa: Zion Williamson, primeira escolha no draft e apontado por muitos como verdadeiro candidato a sucessor de LeBron James. Williamson tem 19 anos, 2,01 metros de altura e 129 quilos e é um fenómeno na internet já há vários anos, devido a afundanços que se tornaram virais nas redes sociais desde os tempos do liceu. Logo no primeiro jogo da pré-temporada, que os Pelicans venceram por 133-109 frente aos Atlanta Hawks, Zion deu ‘show’; viria, entretanto, a sofrer uma lesão no joelho direito que o deixará fora dos pavilhões durante cerca de dois meses, esperando-se um regresso em pleno para um dos atletas mais aguardados da nova temporada.
A Este, a corrida inicial parece vir a ser dominada por Philadelphia 76ers, agora sem Jimmy Buttler (saiu para os Miami Heat) mas com Al Horford (ex-Boston Celtics), e Milwaukee Bucks, cujo grande reforço é a permanência de Giannis Antetokounmpo, MVP da última temporada. Na segunda linha surgem Brooklyn Nets, que numa primeira fase, enquanto Kevin Durant recupera de lesão no tendão de Aquiles, serão liderados somente por Kyrie Irving; Boston Celtics, com Kemba Walker (ex-Charlotte Hornets) a assumir o lugar de Irving; e os Toronto Raptors, que não trouxeram nenhum astro para colmatar a saída de Kahwi Leonard: ao invés, apostaram na permanência de Kyle Lowry, Serge Ibaka e o campeão do mundo Marc Gasol, mas principalmente Pascal Siakam, o extremo camaronês que acabou de renovar contrato por um valor milionário (130 milhões de dólares por quatro anos).
Lebron e a China Prevê-se, assim, uma das edições mais equilibradas da NBA nos últimos largos anos. Após vários períodos em que havia um candidato claro a ganhar a competição (Lakers em 2009 e 2010, Miami Heat em 2012 e 2013 ou Golden State Warriors, vencedores de três campeonatos entre 2015 e 2018), desta vez torna-se bem mais complicado apontar um favorito para a conquista da prova.
Em termos individuais, além de todos os nomes já referidos, é impossível não fazer uma análise mais específica do que poderá significar a temporada 2019/20 para LeBron James. Prestes a completar 35 anos, o King entra na 17.ª época da carreira na NBA com o objetivo claro de devolver os Lakers aos patamares mais elevados da prova, depois de uma terrível temporada de estreia em Los Angeles – falhou 27 jogos, devido a lesões, e ficou fora dos playoff pela primeira vez em 13 anos, ele que soma três títulos de campeão (2012, 2013 e 2016) e quatro eleições de MVP (2009, 2010, 2012 e 2013).
Na história da NBA, só dois jogadores conseguiram ser MVP da temporada com 35 anos: Michael Jordan, em 1998, e Karl Malone, na temporada seguinte. Um desafio, portanto, mesmo à medida de um rei – ainda que para já, e de acordo com as casas de apostas norte-americanas, LeBron comece a temporada atrás de Giannis Antetokounmpo, Stephen Curry, Anthony Davis e James Harden nessa corrida particular.
Este início de época acabou por ficar marcado também pelo ‘tweet’ de Daryl Morey, diretor-executivo dos Houston Rockets, a manifestar solidariedade para com os protestantes de Hong Kong enquanto a sua equipa realizava jogos na China. O ato espoletou uma polémica imensa, ainda para mais devido ao facto de os Rockets serem a franquia com mais adeptos na China – condição que remonta à escolha de Yao Ming por parte da franquia de Houston, em 2002 –, e que ganhou contornos ainda mais graves após Adam Silver, o comissário da NBA, se recusar a pedir desculpas à China, justificando-se com o direito de Morey à “liberdade de expressão”.
Duas emissoras de televisão chinesas anunciaram de imediato o cancelamento da transmissão dos dois jogos da pré-temporada que iriam acontecer nessa semana em solo chinês, entre os Brooklyn Nets e os Lakers, com James Harden a emitir depois um pedido de desculpas público em nome dos Rockets e LeBron James a vir a público criticar Morey, lembrando que muitos jogadores têm avultados contratos de patrocínio com marcas chinesas. Adam Silver, ainda assim, mostrou-se irredutível. “É uma pena, mas se essas são as consequências de nos mantermos fiéis aos nossos valores, que assim seja”, frisou ao ser questionado sobre o possível cancelamento da exibição de jogos da liga no lucrativo mercado chinês.