“Não há Acordo Ortográfico quando metade dos subscritores não o ratificam”, diz José Carlos Barros

“Não há Acordo Ortográfico quando metade dos subscritores não o ratificam”, diz José Carlos Barros


Brasil discute hoje eventual “revogação” do Acordo Ortográfico.


“A questão do Acordo Ortográfico (AO), para os países subscritores, é, cada vez mais, um incómodo… No Brasil não é diferente”, começou por assumir ao i, José Carlos Barros, deputado do PSD e relator do grupo de trabalho para a avaliação do impacto da aplicação do AO, sobre a audiência pública na comissão de Educação da Câmara dos Deputados do Brasil, que decorre esta terça-feira para debater “a revogação do AO da língua portuguesa”.

Para o social-democrata “é normal que estas situações vão acontecendo” quando “dos oito países subscritores, apenas metade [Portugal, Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe] terá procedido à sua ratificação”.

Ao i, José Carlos Barros reforçou que usa a palavra “terá”, porque o ministro dos Negócios Estrangeiros “recusa-se a dar conhecimento público dos instrumentos de ratificação, como se isso fosse um segredo de Estado”, criticou, acrescentando que para que o AO “pudesse ser entendido como tal, teve que se recorrer ao artifício de reduzir a três Estados-membros o número suficiente para a sua ratificação”.

 

“Que Acordo é este?”

O relator do grupo de trabalho, que publicou o relatório final em julho sem ter reunido consenso para uma possível alteração a esta convenção, insistiu “que não há AO quando metade dos subscritores não o ratificam [Angola, Moçambique, Timor-Leste e Guiné-Bissau]” e que os que o fazem, “no essencial”, não o cumprem.

“Que Acordo é este? Não valia a pena trocar umas ideias sobre o assunto? Debatê-lo, introduzir a questão no debate político? Ou é melhor fazer de conta que não temos um problema para resolver?”, apontou.

Questionado sobre o impacto desta audiência no Brasil e sobre o eventual futuro do AO, o deputado salientou que “se não houver coragem política” e que se “tivermos mais um Governo” que considere “que a defesa da língua portuguesa é um assunto tabu e que não merece debate, continuará tudo como está”.

Para José Carlos Barroso, o cenário com que nos deparamos hoje é de desprestígio da Língua Portuguesa: “Já não importa, sequer, o modo como escrevemos, desde que os corretores ortográficos corrijam o essencial”.

 

Brasil debate AO

A audiência pública com vista a discutir a “revogação” do AO no Brasil foi requerida no final de abril pelo deputado Jaziel Pereira de Sousa, do Partido da República [centro-direita], com o apoio da deputada do Partido da Cidadania [direita], Paula Belmonte.

É de recordar que, tal como aconteceu em Portugal, o Brasil deu início à introdução do AO, em 2009, mas só passado sete anos, é que a convenção passou a ser obrigatória.