
Maria Helena Martins levou o tarot às manhãs da SIC e lançou recentemente (mais) um livro com orações, mezinhas e conselhos para o dia-a-dia
É uma das tarólogas mais conhecidas do país, fruto também da presença contínua frente às câmaras. Mantém um programa diário na “SIC Internacional” - “Ponto de Equilíbrio” - dá consultas no centro Maria Helena, em Lisboa, e lançou recentemente o livro “Mudar Melhorar Curar” (ed. Guerra e Paz), onde ensina orações e sugere mezinhas para cada dia do ano.
Como veio parar ao mundo da Astrologia, como foi este caminho?
Nesse aspeto sou um bocadinho fora do vulgar porque a maioria dos tarólogos e astrólogos batem com a cabeça e veem a luz, muitas vezes porque acontece alguma coisa na vida deles. Eu não bati com a cabeça em lado nenhum. Comecei de miudinha, logo a ensinarem-me a ler cartas, a rezar à lua. Ensinaram-me, pronto.
Mas quem é que a ensinava?
A minha mãe, as vizinhas. Naquela altura, portanto há uns anos grandes, isto era mais normal do que agora. As tias ou as avós sabiam benzer o mau olhado. E portanto, para mim, foi uma coisa absolutamente normal. Ensinavam-me o tarot, a ler as cartas, e ao mesmo tempo ia à igreja rezar o terço todos os dias.
E onde se passou isto que descreve?
Em Moscavide, sou de lá. Também ia às freiras nos Olivais, que ainda hoje continuam lá. Não houve nada de muito especial, foi tudo normal. Depois fui estudando.
Lembra-se da primeira vez que lançou as cartas?
Era miudinha.
Com seis, sete anos?
Era pequenita.
E lançava para si própria ou para outras pessoas?
Começava a ver o significado das cartas. Agora que me lembre, assim de lançar as cartas já foi mais grandinha. Aprendi um respeito muito grande pelas cartas logo de pequenina. Olhava para isto mas com respeito, quem me ensinava transmitia-me esse respeito.
E transmitiram-lhe a ideia de que o que dissesse às outras pessoas podia influenciar a vida delas para um lado ou para o outro?
Obviamente. Percebi logo, porque aquilo que a gente diz às outras pessoas tem muita influência. E se for em períodos em que as pessoas estão mais frágeis então é que influencia mesmo. Portanto não gosto nada de ouvir - “ah fui à taróloga e disseram-me isto ou aquilo de negativo”. Quer dizer, quando há alguma coisa negativa, acho que é a nossa obrigação dizer “é negativo, mas tem que superar”. Há que dar força à pessoa para superar os momentos mais difíceis, está a compreender?
Estava entretanto a contar que depois estudou essas matérias.
Mais tarde, sim. Toda a vida estudei. Estudei as religiões todas. Tudo o que é esoterismo me interessa, reiki, tudo o que sejam energias, cristais. Tudo o que está relacionado com a natureza interessa-me, percebe? As rezas à lua... Porque é que as pessoas rezam à lua? Antigamente rezava-se muito à lua. Era natural as pessoas terem mezinhas, terem até rezas para quando estavam doentes, havia rezas para cada doença. E é o que faço agora. Ao fim ao cabo, o que ensino hoje às pessoas é o que me ensinaram a mim, só que com uma roupagem nova. Uso outra linguagem mas é a mesma coisa.
Como fazia para estudar nessa altura, encomendava livros?
Houve uma altura quando era novita que nem sabia bem onde procurar. E as pessoas ensinavam-me: mostravam-me um livrinho, de acordo com a minha capacidade, logicamente. Depois, à medida que fui crescendo, é que comecei a ir às bibliotecas. Uma das primeiras coisas que me lembro assim que me marcou e que estudei foi Allan Kardec, que tem a ver com espiritismo. Estudei, não me identifiquei mas respeito, está a ver?
Mas quis conhecer na mesma.
Quis porque gosto de conhecer um bocadinho de tudo. Então gosto de conhecer as filosofias que estão por trás de cada uma das religiões. É da minha natureza saber e aprender a respeitar, até porque as pessoas acreditam naquilo. Não é pelo facto de aceitar ou não aquelas ideias que são verdade ou mentira, não tem nada a ver com isso. Portanto aceito ou não aceito, mas tenho um enorme respeito por todo o tipo de religião. Até porque chego à conclusão de que todas querem o bem das pessoas, é intrínseco nas religiões. Especialmente, quando começam a história, é sempre para bem e querem que as pessoas tenham uma vida boa.
Fotografia de Mafalda Gomes
Houve algum mentor no seu caminho?
Houve um astrólogo que é o professor Luís, um homem de que gostava muito. Era o meu astrólogo, que fazia sempre a minha carta astral todos os anos e que teve muita influência porque é uma pessoa muito ligada ao yoga e à espiritualidade, e a esposa dele também. Foi um casal que teve muita influência na minha tomada de consciência para me profissionalizar.
Em que ano?
Comecei a dar cartas assim mesmo como ocupação já depois de os meus filhos irem para a universidade. Foi aí que me pude dedicar inteiramente a esta profissão, porque sou socióloga.
Antes de se dedicar unicamente a isto foi socióloga?
Não, não. Na verdade tinha outras ocupações. Licenciei-me em Sociologia e comecei a estudar com 45 anos. Portanto a minha história de vida também mostra que as pessoas podem começar quando quiserem. Até aos 45 anos tinha a quarta classe, porque achava que não conseguia estudar.
Por que achava isso?
Porque antigamente estudavam só os ricos ou quem tinha poder económico e não era o caso da minha família. Portanto achava que não era capaz. Agora fez-me uma pergunta muito bonita, porque é que achava isso... Eu achava isto se calhar pelo mesmo motivo que acha que não pode vir a ser multimilionária. São ideias, percebe?
O que a fez superar essa ideia e ter coragem então de ir estudar com 45 anos, qual foi o gatilho?
O gatilho não sei, mas numa determinada altura sei que me pus de volta de mais livros. Estudei sempre Astrologia, como já tinha dito, só que achava que um curso superior era demais para mim. Mas depois pus-me a pensar: mas se eu estudo tanto Astrologia e tarot, e isto e aquilo, se sou tão interessada, porque é que não posso aplicar a mesma energia no estudo? E foi assim. Afinal foi um exemplo que já tinha na minha própria vida que fui buscar para me dar força.
Porquê Sociologia?
Porque era o que gostava, era um curso que tinha a ver comigo. Tem a ver com as pessoas, comportamentos sociais e eu morava no Algarve nessa altura e era o que estava ali mais à mão.
Isto foi mais ou menos em que ano?
Epá, sei lá. Então tinha 45 anos, agora tinha que saber que idade é que tenho (risos).
Depois chegou a fazer uma pós graduação, não só ultrapassou essa tal ideia como foi mais longe.
Depois fiz tudo! Quando comecei a estudar não parei mais . Fiz a pós-graduação em Estudos Lusófonos, depois, também no ISPA, outros cursos. No ISPA, sendo licenciados, podemos ir para lá tirar assim uns cursos de três, quatro meses, aquilo é fantástico, é muito giro. A gente tira uma porção de cursos e fica assim com umas luzinhas sobre as coisas e eu pronto, faço isso.
Como é o seu dia-a-dia? Vem todos os dias gravar?
Pois, tenho o “Ponto de Equilíbrio” na “Sic Internacional” que dá para 15 países e portanto faço todos os dias.
E como se prepara antes de começar a gravar?
Estudo tudo. Estudo duas horas por dia. Todos os dias estudo duas horas, ponto.
Mas estuda de manhã ou à tarde?
À tarde, duas horinhas.
E continua a dar consultas ou já não dá?
Dou, dou, isso não posso deixar de dar. Dou no Centro Maria Helena, que é no Saldanha, Avenida Praia da Vitória número 57. E pronto, dou lá as consultinhas e organizo tudo. Tenho dias para as consultas. Quem disser que a gente não pode fazer tudo mente. Não podemos é fazer tudo ao mesmo tempo. Quando estou aqui, estou aqui. Acabei aqui, pronto, acabou-se, nem me lembro mais. É assim que faço tudo. Quando estou, estou.
No geral, qual é a formação das pessoas que a procuram?
É muito transversal. Recebo desde a senhora da limpeza até ao presidente do banco. Políticos, cantores…
E foi sempre assim?
Comigo foi. Pessoas de todos os lados. Nunca tive assim [um padrão]… São pessoas! Eu atendo pessoas, não é? Depois de dar a consulta é que fico a perceber quem é que são, por causa do discurso. Só no final é que digo:”Ah, então este é aquele!”. Outras vezes eles dizem-me.
Recebe mais mulheres ou mais homens?
Mais senhoras.
Por que acha que há mais mulheres a procurá-la?
Porque as senhoras vão no lugar dos homens, dos filhos e não sei quê. Vão as mães, as mulheres. Vão perguntar para os outros.
Já lhe aconteceu alguma vez perceber que a pessoa precisava de ir a um médico?
Já, muitas vezes mesmo. Pelo menos mando ir ao médico, posso não indicar a especialidade, porque isso compete ao médico aconselhar. Mas mandar ir ao médico muitas vezes, e aos psiquiatras mando muito. Mas isso eu vejo logo de caras. Qualquer uma de nós com um bocadinho de sensibilidade vê. Não é o que a gente faz umas às outras quando a gente gosta?
Como surgiu a televisão na sua vida?
Foi tudo muito fácil. Bem, não direi foi fácil, mas foi tudo muito de repente. Comecei a escrever para aí por volta dos 50 e poucos anos e comecei a escrever para as maiores editoras, naquele caso para a Impala. Escrevia para a “Maria”, para essas revistas assim que se vendiam mais, e comecei logo a ter muito sucesso na escrita, a verdade é isso. Depois também mandei o meu currículo para a produtora da Teresa Guilherme, ela mandou-me chamar e sou entrevistada pelo Manuel Luís Goucha. Ele gostou de mim e do meu trabalho e então comecei com ele. Depois não saí mais. Fui para a Praça da Alegria, já passei por todas as televisões e agora estou na “SIC”. Aqui é que estou há mais tempo, já sete anos.
Quando começou a fazer televisão, qual sentiu que era a principal diferença entre dar uma consulta na televisão e frente a frente com uma pessoa, qual foi o grande desafio para si?
O grande desafio foi interiorizar que é uma pessoa e que estou a falar só para aquela pessoa, não importa se tenho câmaras ou não. É isso que faço até hoje.
E é fácil fazer isso ouvindo a voz só da pessoa?
Claro. Para o universo não há cá… Somos todos energia, filha. Isto é tudo energia. O que a gente vê… isto é tudo mais do que a gente vê. Então se os telemóveis comunicam de um lado para o outro, imagina nós. Achas que um telemóvel, isto que está aqui, é superior a um ser humano? A gente comunica muito pela voz, até pela presença.
Alguma vez se arrependeu de algum conselho que tenha dado na televisão? Houve uma polémica quando disse a uma senhora que, para não ser traída, tinha que se arranjar bem.
O que acontece é o seguinte: aquilo que as pessoas dizem a meu respeito, eu não tenho nada a ver com isso. Somos responsáveis unicamente por isto que lhe vou dizer: por aquilo que dizemos, por aquilo que fazemos e por aquilo que pensamos. Não temos comando sobre mais nada. Sobre aquilo que o outro vai dizer sobre nós, não temos comando nenhum. Portanto aquilo que as pessoas pensam ou digam, para mim, não é muito… Respeito, claro que sim, mas não é muito significativo. Então se uma pessoa diz que sou santa nesse dia, sou santa, outro se disser noutro dia que sou bruxa, sou bruxa? Não. Sou como a água. Podes olhar para um copo de água e dizer é gin, é aguardente, e a água está-se pouco lixando para a tua opinião. A água é água. E portanto eu sou mais ou menos assim. As pessoas podem dizer o que quiserem sobre mim porque não é sobre mim que elas estão a falar, as pessoas estão a dizer como elas me veem, que é um assunto totalmente diferente. E há muito mal-entendido na vida por causa disso, porque as pessoas não sabem distinguir isto que é básico.
E nunca ficou preocupada ou magoada com os comentários ou não vai procurar o que as pessoas dizem de si?
Eu não, às vezes acho é piada. Não ligo.
Foi sempre assim ou foi criando uma carapaça?
Para já não leio revistas, é raro ver. Vou uma vez por mês ao cabeleireiro e é lá que vejo uma revista ou assim. Mas as pessoas contam-me quando é assim engraçado. Há uma tal de “Maria das Cartas”, também na internet, que fizeram sobre mim. Quando lá vou mato-me a rir. Eu mato-me a rir! Sou fã da Maria das Cartas.
É uma rábula?
É uma coisa que fizeram na internet, já há muitos anos, mas estão atualizados, a malta trabalha! A malta trabalha, vê os meus programas, tudo direitinho para pôr ali.
Já aconteceu uma pessoa a quem tenha dado uma consulta na televisão depois procurá-la fisicamente no seu espaço?
Muitas vezes. Isso acontece muito, normalmente dou as consultas, as pessoas gostam e dizem-me que já tinham tido na televisão. É muito vulgar. Ou levarem filhos, maridos, amigas, isso faz parte do dia-a-dia para mim.
O que é que as pessoas podem encontrar neste livro que seja diferente dos outros que já publicou?
Este livro foi feito muito a pensar nas pessoas que querem mudar a sua vida. Estou sempre a dizer às pessoas: “Quer que a vida mude? Mude você”. Acho uma coisa… Santa Margarida! Então já viu se a vida andasse a mudar ao gosto de cada um? Nós é que temos de mudar de acordo com a vida, não é a vida mudar para nós. E então é fundamental as pessoas fazerem as mudanças que elas acharem que são capazes e precisas na vida delas, e este livro é para ajudar essa mudança. Fiz um livro diferente dos outros, que normalmente têm várias temáticas divididas por sete capítulos. Este fiz com 365 conselhos e é uma espécie de uma agenda onde as pessoas podem dizer “ah, este mês proponho-me a alcançar isto, por isso o que tenho que mudar é...”. É um passo a passo para ajudar as pessoas.
Porquê o tarot e não outro meio dentro do esoterismo? O que a fascinou nas cartas?
É uma boa pergunta mas também não sei responder. Só sei que, quando vi o baralho, achei que era meu. O baralho que tenho, depois cada um interpreta como quiser, eu achei que era meu. É um sentimento, é como tu chegares a um lugar e achares que já lá tinhas estado. Pronto, foi o que aconteceu com este baralho, que é o Visconti-Sforza, que é o baralho mais antigo, mais estudado e mais bonito do mundo e que está guardado em três museus. Mas eu não sabia disso quando o descobri.
Quando se deparou com ele?
Já foi há muitos anos. Primeiro comecei com o de Marselha, que é o que toda a gente usa e que era considerado o mais conhecido, o mais vulgar. E depois deparei-me com este. Não me lembro sinceramente como veio parar à minha mão, já foi há tantos anos. Sei que, quando olhei para ele, achei que era aquele. Deixei o outro e fiquei sempre com este.
Tem algum baralho especial?
Tenho um que anda sempre comigo, mas tenho mais do que um igual. Tenho aquele que anda sempre comigo, que trouxe aqui para as cartinhas, mas depois tenho mais. Tenho um no centro, outro que está guardado mas mais se fizer falta. Já está é muito velhinho, o meu, na televisão vê-se que está muito gasto.
E não se lembra onde o comprou?
Não me lembro, aquilo veio parar à minha mão. Lembro-me foi de o escolher entre os muitos baralhos que tinha. Faço coleção já há muitos anos de baralhos.
Tem quantos?
Não sei, não os contei, mas são mais de cem, à vontade. De todo o lado onde vou trago baralhos, se calhar já tenho a maior coleção de todas. Já trouxe dos EUA, da Holanda, do Brasil. De França trouxe o tarot de Marselha, o mais antigo de que consegui uma cópia. Vou procurar estas preciosidades.
Quando pegamos num guia para 2019 e, dependendo dos guias, encontramos mensagens díspares para os mesmos signos. Porque é que isto acontece, qual é a explicação?
Então é assim: se for sobre Astrologia, desde que seja um bom astrólogo, todos dizem o mesmo. Podem é dizer com palavras diferentes, ok? Porque os planetas são aqueles, e não há muito para dizer. Sobre a Astrologia é aquilo, são 12 signos, e os planetas e essa coisa toda e é aquilo que a gente tem. Agora se for sobre outros métodos, já tem mais a ver com a sensibilidade da pessoa, se bem que eu, no meu caso, associo a Astrologia ao tarot. Porque cada carta do tarot, principalmente cada carta de cada signo, está ligada a um planeta e então, como estudo muito, tenho esta facilidade de juntar tudo. Portanto os meus signos muitas vezes não são assim muito díspares. Agora realmente que há [diferenças], há, mas é de acordo com a interpretação de cada um.
Já tem a agenda cheia para 2019? As pessoas têm de esperar muito?
Não têm que esperar muito porque não faço agendas com muita antecedência. Se fizesse com muita antecedência tinha uma agenda já cheia até morrer.
Está a falar a sério?
Sim. Tenho 400 mil seguidores, faz ideia do que isso dá em clientes? Dá um catilhão e eu não posso fazer agendas assim. Por isso as pessoas vão ligando e, à medida que vão ligando, vou fazendo. Hoje deu para atender, atendo. É de uma semana para a outra, não faço mais do que isso. Só se por acaso for viajar ou fazer alguma coisa. Normalmente é dentro de uma semana, duas, três, é dentro disto.
Qual é o seu conselho, de uma forma muito generalista, para 2019?
Acho que o conselho para qualquer pessoa, para qualquer ano, é, sinceramente, a pessoa pensar no que quer da vida. A maioria das pessoas nem pensa nisso, no que quer da vida realmente. E depois ir atrás, todos os dias, e vai conseguir aquilo que quer, seja o que for.