Independência do MP em risco com proposta do PSD

Independência do MP em risco com proposta do PSD


Sindicato dos Magistrados do Ministério Público não põe de parte avançar para uma greve se avançar a proposta social-democrata de alterar a composição do Conselho Superior do MP, apoiada pelo PS


Os procuradores do Ministério Público podem avançar mesmo para uma greve caso não sejam aprovadas na especialidade as propostas de alteração à composição do Conselho Superior do Ministério Público, órgão de disciplina destes magistrados. Ao i, António Ventinhas, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, garante que as propostas de PS e PSD – o novo estatuto do MP foi aprovado na generalidade na sexta-feira – põe em risco a independência do Ministério Público em relação ao poder político, uma vez que, segundo diz, os políticos poderão passar a escolher quais os magistrados que os vão investigar.

“O topo da hierarquia do MP é uma pessoa nomeada politicamente, o Procurador-Geral da República, mas todas as estruturas intermédias hierárquicas são escolhidas pelo Conselho Superior do Ministério Público, ou seja, mesmo que algum dia venha a existir um procurador que faça algumas barbaridades existem órgãos intermédios que podem dar uma resposta, os procuradores distritais, os procuradores coordenadores das comarcas, os diretores dos departamentos de investigação e ação penal (DIAP) e o diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Porquê? Porque não são escolhidos pelos políticos, mas escolhidos pelo Conselho Superior do MP, em que existe a maioria de magistrados”, diz, esclarecendo que “se os nomeados politicamente passarem a estar em maioria no conselho, os políticos passarão a poder escolher os procuradores-gerais distritais, os procuradores coordenadores de comarca, poderão escolher, o diretor do DCIAP, dos DIAP distritais, os procuradores que irão funções nos DIAP e no DCIAP. Passam a ter possibilidade de escolher toda a hierarquia e escolher os procuradores em concreto que irão integrar os gabinetes de combate à corrupção”.

Ventinhas conclui, em declarações ao i, que os políticos poderem escolher os procuradores que potencialmente os vão investigar é uma “subversão completa de todo o sistema.”

Quando na última semana foi debatido o estatuto do MP no parlamento, o PSD avançou com a proposta de que os conselhos superiores do MP deveriam ser compostos maioritariamente por não magistrados – o dos juízes já é. E o PS acabou por ter uma posição no mesmo sentido.

António Ventinhas, que considera ser mais grave esta opção para o Conselho Superior do MP do que para o Conselho Superior dos juízes, lembra que esta proposta foi anunciada por pessoas que estão na Comissão de Direitos, Liberdades e Garantias, neste caso Carlos Peixoto (PSD) e Jorge Lacão (PS).

O PSD justifica a sua proposta com a necessidade de o órgão de disciplina dos magistrados do MP ser mais “paritário” – agora é composto por 12 magistrados e sete elementos externos. Carlos Peixoto deu como exemplo o Conselho Superior dos juízes, que conta com oito magistrados e nove externos.

Mas Ventinhas explica que as atribuições são diferentes e que se a solução já não é boa para o órgão de disciplina dos juízes, é ainda pior para o dos magistrados do MP. E sobre as reações críticas, o presidente do Sindicato dos Magistrados do MP destaca a da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, que considerou que esta proposta viola as recomendações internacionais e a da ex-ministra Paula Teixeira da Cruz, que teve uma posição idêntica. A associação sindical dos juízes também já considerou que a investigação criminal está em jogo.

Na próxima quinta-feira, a direção do Sindicato dos Magistrados do MP vai reunir-se e a greve é uma “forte possibilidade”, face à “gravidade da situação”, refere uma fonte do sindicato.