Depois dos protestos dos coletes amarelos, em França, terem provocado uma onda de violência e instabilidade, a hipótese de Portugal ter uma manifestação semelhante está a ganhar força nas redes sociais. A paralisação está a ser convocada no Facebook com o mote “Vamos Parar Portugal Como forma de Protesto”. Mais de 11 mil pessoas já disseram que tencionam aderir ao protesto nacional e mais de 40 mil já demonstraram interesse em participar.
A manifestação está agendada para 21 de dezembro, uma sexta-feira.
Na descrição da página de Facebook, os organizadores dizem que este movimento nasceu da constatação de que Portugal é “um dos países que recebe menos, paga mais impostos e ficamos caladinhos como sempre”. “Temos países a receber o dobro de nós, e assim que existe algo que não agrade, reclamam, exigem, protestam até serem ouvidos, e Nós Portugueses??? Chega, vamos dizer basta ao aumento dos combustíveis, portagens e tudo o resto que está mal!”, continuam.
Filipe Ferreira, um dos criadores no evento no Facebook, explicou ao i que o protesto não está ligado a nenhum partido político. “O nosso interesse é apenas Portugal”, acrescentou, sem revelar a sua ocupação ou idade.
O responsável, que indicou ser do Bombarral, justificou a criação deste movimento com o facto de estarem “cansados de tantos roubos ao contribuinte”, considerando que o país “está uma desordem” e que isso “não é aceitável”.
Filipe Ferreira disse ainda que o protesto se vai realizar em todo o país e que vai ser pacífico, “sem violência”.
Os portugueses têm o poder de mudar o sistema, considerou o organizador. “Se o povo for para a rua sim vai mudar muita coisa”, afirmou. Mas deixou a ressalva de que se as pessoas continuarem “a reclamar só no Facebook”, tudo permanecerá igual.
Filipe Ferreira rematou dizendo que o protesto não tem data prevista para acabar: “Só vamos acabar quando o povo for ouvido”.
Ângelo Ferreira é um dos portugueses que diz nas redes sociais que irá à manifestação. Tem 55 anos, é técnico de jardinagem e vive em Matosinhos. Decidiu participar por estar a ver “o país a entrar no terceiro mundo”. As constantes subidas de impostos são a principal queixa. “Para mim basta, quero o meu país livre”, acrescentou.
Apesar de muitas pessoas estarem a aderir ao evento virtual, o técnico de jardinagem admite que as pessoas podem não sair às ruas “por medo”. Já Aurora Moreira – com 49 anos e residente em Paredes – não se mostrou muito confiante quanto ao sucesso do protesto. “Acho que vai pouca gente, somos um povo muito pacífico”, disse ao i, acrescentando que “sair à rua” não faz parte dos portugueses. O protesto terá pouco impacto, considera, mas servirá para “acordar” os portugueses para os problemas do país.
Aurora Moreira explicou que decidiu aderir ao protesto porque quer lutar para que Portugal se torne num país “mais justo”. Outro manifestante, que preferiu não ser identificado, partilha a mesma visão: mesmo que a adesão não seja grande, a ideia é transmitir as reivindicações e a convicção é de que a manifestação vai “acordar muita gente para a realidade e preparar o início de muitos mais protestos”.
Também nas redes sociais começam a surgir grupos locais para dinamizar o protesto. Um grupo de amigos de Famalicão que criou uma página no Facebook chamada de “Coletes Amarelos Famalicão 21 dezembro Vamos Parar Famalicão”. A preocupação com o rumo do país é mais uma vez o motivo apontado e repete-se a ideia de que, mesmo que a adesão não seja grande, este pode ser um abrir de olhos. “Vai servir para mostrar ao governo que não somos nenhuns bonecos. Que se tivermos que fazer de novo 25 abril fazemos”.
O protesto tem início marcado para as 7h de dia 21 de dezembro. Em Lisboa irá ocorrer protesto no Marquês do Pombal e na Ponte 25 de Abril – com marcha lenta e buzinão. Já há manifestações anunciadas em vários pontos do país: na A8, na Portagem de Loures, no Fórum Algarve em Faro, em frente à Câmara Municipal de Beja, no Porto na Via de Cintura Interna, em Aveiro junto ao Pingo Doce de Esgueira e em Braga na rua Andrade Corvo.
Fonte da PSP confirmou ao i “que tem conhecimento dos factos e está a acompanhar a situação” e que estará atenta a “qualquer movimento ou manifestação que se desenrolem na sua área de responsabilidade e que, pela sua dimensão e dinâmica, possam por em causa a segurança e tranquilidade públicas”.